segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Faz na tua terra o que ouvimos dizer que fizestes em Cafarnaum! (Lc 4,23)

A primeira visita de Jesus à sua terra, depois de ter iniciado a sua missão pública, foi um momento verdadeiramente significativo, de tal modo que os três Evangelhos sinópticos nos dão notícia desse acontecimento.
Os três relatos apresentam-nos Jesus como um profeta, ainda que com uma nota distintiva que estabelece uma profunda diferença na sua situação conflituosa. Nos relatos de Marcos e Mateus, Jesus é visto como um profeta fracassado face a um povo que não acredita nele, enquanto o relato de Lucas nos apresenta Jesus como um profeta que é ignorado e até ostracizado pelo fundamentalismo do seu povo.
Contudo, o mais importante deste relato é a consciência de Jesus, o facto de se sentir e saber como o cumprimento da promessa do profeta Isaías. Uma consciência desvinculada da dimensão sacerdotal que enquadra a profecia de Isaías, que Jesus não assume, uma vez que lhe restringe a liberdade de acção.
Pelo contrário, Jesus acolhe a profecia de Isaías e vê a realização da mesma na sua dimensão mais universal, na sua dimensão libertadora, de que as histórias dos profetas Elias e Eliseu são os testemunhos chamados ao julgamento. Jesus vem para quebrar as cadeias de todos os homens e de todos os povos.
O pedido dos seus conterrâneos a fazer em Nazaré os milagres que tinha feito em Cafarnaum é assim a manifestação da particularidade, do desejo de ter alguém que vem apenas para o seu serviço próprio. É uma redução da missão, um exclusivismo que Jesus não pode permitir.
A consequência desta recusa de Jesus é a revolta do seu povo e conhecidos, o plano de morte, porque não estão dispostos a partilhar o dom que têm, assumindo desta forma o grande desastre do povo eleito, ou seja, convocado por Deus para levar a salvação a todos os povos tinha-se encerrado na sua própria eleição não cumprindo a missão atribuída.
Esta é muitas vezes a nossa grande tentação, conformarmo-nos com o bem que temos, não o partilharmos com os outros, não levar a boa nova da salvação aos outros. Fechamo-nos no nosso casulo de bem estar material e espiritual.
Jesus ao passar pelo meio deles e ao seguir o seu caminho mostra-nos que nada pode deter o projecto de Deus, que ele segue o seu rumo; e que nós não podemos deixar de estar na mesma sintonia, que não podemos encerrar-nos, mas devemos abrir as portas e os caminhos de todas as realidades à novidade libertadora de Jesus.

 
Ilustração:
“Elias e a viúva de Sarepta”, de Bartholomeus Breenbergh, Colecção Particular.

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