A primeira visita de
Jesus à sua terra, depois de ter iniciado a sua missão pública, foi um momento
verdadeiramente significativo, de tal modo que os três Evangelhos sinópticos
nos dão notícia desse acontecimento.
Os três relatos
apresentam-nos Jesus como um profeta, ainda que com uma nota distintiva que
estabelece uma profunda diferença na sua situação conflituosa. Nos relatos de Marcos
e Mateus, Jesus é visto como um profeta fracassado face a um povo que não
acredita nele, enquanto o relato de Lucas nos apresenta Jesus como um profeta
que é ignorado e até ostracizado pelo fundamentalismo do seu povo.
Contudo, o mais
importante deste relato é a consciência de Jesus, o facto de se sentir e saber
como o cumprimento da promessa do profeta Isaías. Uma consciência desvinculada
da dimensão sacerdotal que enquadra a profecia de Isaías, que Jesus não assume,
uma vez que lhe restringe a liberdade de acção.
Pelo contrário, Jesus
acolhe a profecia de Isaías e vê a realização da mesma na sua dimensão mais
universal, na sua dimensão libertadora, de que as histórias dos profetas Elias
e Eliseu são os testemunhos chamados ao julgamento. Jesus vem para quebrar as
cadeias de todos os homens e de todos os povos.
O pedido dos seus conterrâneos
a fazer em Nazaré os milagres que tinha feito em Cafarnaum é assim a manifestação
da particularidade, do desejo de ter alguém que vem apenas para o seu serviço
próprio. É uma redução da missão, um exclusivismo que Jesus não pode permitir.
A consequência desta
recusa de Jesus é a revolta do seu povo e conhecidos, o plano de morte, porque
não estão dispostos a partilhar o dom que têm, assumindo desta forma o grande
desastre do povo eleito, ou seja, convocado por Deus para levar a salvação a
todos os povos tinha-se encerrado na sua própria eleição não cumprindo a missão
atribuída.
Esta é muitas vezes a
nossa grande tentação, conformarmo-nos com o bem que temos, não o partilharmos
com os outros, não levar a boa nova da salvação aos outros. Fechamo-nos no
nosso casulo de bem estar material e espiritual.
Jesus ao passar pelo
meio deles e ao seguir o seu caminho mostra-nos que nada pode deter o projecto
de Deus, que ele segue o seu rumo; e que nós não podemos deixar de estar na
mesma sintonia, que não podemos encerrar-nos, mas devemos abrir as portas e os
caminhos de todas as realidades à novidade libertadora de Jesus.
“Elias e a viúva de Sarepta”, de Bartholomeus Breenbergh, Colecção Particular.
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