Jesus desceu a
Cafarnaum e como habitualmente foi à sinagoga onde encontrou um homem possuído
por um demónio impuro.
Encontro casual, ou
não, vai servir para mais uma manifestação da identidade e da pessoa de Jesus. Ele,
ou eles, sabem quem têm diante de si, sabem quem é Jesus de Nazaré, o Santo de
Deus e que veio para os destruir.
Encontro que manifesta
para além da pessoa de Jesus a realidade humana quando se encontra possuída,
quando se encontra escrava do mal. Se num primeiro momento o demónio se dirige
a Jesus no plural, como se fossem muitos, depois fala-lhe no singular, como se
fosse um só. A identidade do homem possuído, habitado pelo mal é assim uma
identidade confusa, fragmentada, em desunificada.
Jesus, ao contrário, é
o homem plenamente unificado, uma vez que Ele e o Pai são um só, e oferece-nos
essa unidade na nossa humanidade, para que também nós sejamos um com Ele e com
o Pai. Jesus é a unidade porque uniu em si a divindade e a humanidade, e
convida-nos a viver igualmente essa unidade, na qual o homem recobra a sua
verdadeira identidade.
E neste sentido,
podemos perguntar-nos se não é esta a nossa verdadeira e grande aspiração, a
aspiração mais profunda de toda a humanidade, viver em unidade, uns com os outros
e todos com Deus?
Para tal necessitamos
libertar-nos de tudo o que nos divide e impede de viver a unidade interior, de
tudo os que fragmenta, que nos confunde, que nos distrai do verdadeiramente
fundamental. Quanto mais nos libertarmos desta confusão e divisão, dessa grande
doença esquizofrénica de que todos sofremos em maior ou menor grau, mais espaço
e tranquilidade terá Deus para entrar e permanecer, para fazer do nosso coração
a sua habitação.
Podemos começar hoje
esta libertação, podemos já ter começado, mas em qualquer circunstância não
podemos deixar de perder de vista neste processo que ele é um trabalho lento,
paciente, a longo prazo, de toda uma vida, e os resultados serão mais ou menos
visíveis na medida do acolhimento do sopro do Espirito de Deus.
Necessitamos obedecer
à ordem de Jesus, calar o que nos habita, para que sejamos libertados e o
Senhor possa entrar.
“O Vale de lágrimas”, de Gustave Doré, Peti Palais, Paris.
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