O Evangelho de São
Mateus apresenta logo no seu início a genealogia de Jesus, um texto que muitas
vezes nos cansa e desconcerta pela sucessão de nomes. Quantas vezes não nos
perdemos já nesta listagem, nas sucessões de nomes que nos surgem algo
estranhos?
E contudo é um
monumento de fé, um monumento à história de um povo e ao projecto de Deus com
os homens. É um monumento construído à humanidade.
Neste monumento cada
um tem o seu nome, tem a sua história, mostrando-nos que o Filho de Deus não
encarna num vazio, mas num povo e numa história constituídos de faces únicas, de
histórias irrepetíveis. Cada um foi objecto do amor de Deus, de uma relação
pessoal e única com Deus.
Desta forma, aí
encontramos os homens e as mulheres, aqueles que foram fiéis e os que foram
pecadores, a estrangeira Ruth e a prostituta Rahab, o sábio Salomão e o
idólatra Acaz, sucedendo-se nas gerações até à Virgem de Nazaré, que concebe o
Filho de Deus.
Esta longa lista é
assim uma celebração da vida, com tudo o que ela comporta, e a ruptura imprevisível
que se opera com a Virgem Maria não é mais que um sinal da acção de Deus, da
sua intervenção nessa sucessão tantas vezes trágica. A ruptura genealógica, operada
com a Virgem Maria, proclama a vida divina que se insere na história humana,
para que esta se possa realizar na sua missão primordial.
E a cada um de nós,
elo de uma cadeia de gerações, cabe-nos acolher esta ruptura e o que ela
significa, cabe-nos acolher o dom que Maria acolheu, conscientes que se ela foi
preparada desde o seio materno para a maternidade divina, nós estamos preparados
deste a criação para acolher o dom do Espirito divino.
“O nascimento da Virgem Maria”, de Bartolomé Esteban Murillo, Museu do Louvre.
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