quarta-feira, 22 de março de 2017

Não vim revogar mas completar! (Mt 5,17)

Se havia alguma dúvida, relativamente à sua relação com a Lei, Jesus não deixa que ela se mantenha. Ele não é contra a Lei, os mandamentos, os preceitos, confiados por Moisés ao povo para que ele pudesse seguir o caminho da vida.
Os seus frequentes contenciosos com os escribas, os doutores da Lei, os fariseus e os anciãos do povo é que nos podem provocar essa ideia, mas ela está bem longe do propósito de Jesus que no contexto do Sermão da montanha diz claramente que não veio revogar a Lei, mas pelo contrário completá-la.
Se alguém tinha alguma pretensão a uma revolução, ela cai por terra, e de uma forma radical quando Jesus diz que nem o mais pequeno sinal deixará de ser cumprido, que aquele que cumpriu a lei na sua radicalidade e assim a ensinar aos outros será o maior no reino dos Céus.
Contudo, se os mandamentos e os preceitos permanecem como uma referência inquestionável, a palavra e a vida de Jesus mostram-nos que devem adquirir uma outra dimensão, que não podem esquecer o fim para que foram constituídos, ou seja a vida e o caminho da felicidade, o homem e a sua realização plena.
Jesus confirma a Lei de Moisés, não rejeita nenhum dos pequenos preceitos, vive-os no seu quotidiano, mas redimensiona-os à luz da dimensão profética e da verdade que os constitui. Jesus liberta os mandamentos e os preceitos da rigidez moralizante, do espirito condenatório e elitista, da dimensão marginalizante que tinham adquirido com o tempo.
Jesus assume os mandamentos e os preceitos mas partindo sempre do homem e das suas condições, das suas circunstâncias, que Ortega y Gasset tanto gostava de referir, pois as leis não têm sentido no vazio, numa realidade sem relações. Jesus assume os mandamentos e os preceitos como um desafio a superar, como uma dimensão profética de uma realidade a que o homem está destinado e para a qual não pode deixar de se inclinar.
E são estas dimensões, profética e humana, que estão implícitas quando Jesus deixa como resumo de toda a Lei o mandamento do amor como ele o viveu, “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. O cumprimento perfeito dos mandamentos passa assim pela imitação de Jesus, pela imitação do seu amor sem medida. É o amor que marca a diferença!

 
Ilustração:
“Cristo e o jovem rico”, de Andrey Mironov, 2010.

1 comentário:

  1. Obrigada, pela reflexão tão profunda desta maravilha de Meditação.Gostei muito desta partilha da Palavra,tão rica de sentido para estarmos mais unidos a Jesus nesta semana Quaresmal.Frei José Carlos,que o Senhor o ilumine e o proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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