sábado, 11 de março de 2017

Sede perfeitos como o vosso Pai celeste. (Mt 5,48)

Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito é a recomendação que Jesus deixa aos discípulos, a cada um de nós em particular, na sua circunstância de vida.
Recomendação que à primeira vista nos parece exagerada, pois sabemos que frequentemente fazemos as coisas de modo imperfeito, atabalhoado, sem pensarmos muito. A sabedoria popular diz mesmo que a pressa é inimiga da perfeição, e fazemos tanta coisa à pressa.
Recomendação que assumida de forma irreflectida nos pode conduzir a um perfeccionismo, a um exagero em que o centro está em nós, ou em que apenas nos interessa o seu alcance, desprezando tudo o mais. A perfeição é um fétiche que nos satisfaz, que exclusivamente nos orienta e conduz.
E contudo a recomendação permanece, apesar dos perigos e desvios, como algo a que não nos podemos subtrair. A perfeição é o nosso fim, e é-o inevitavelmente, na medida em que o nosso fim é Deus, a suma perfeição.
Deste modo, temos que olhar com atenção para a perfeição que nos é exigida e oferecida, pois devemos ser perfeitos como o Pai celeste é perfeito. A perfeição do Pai joga-se no amor, na misericórdia, nessa capacidade de fazer chover sobe justos e injustos, de amar mesmo aqueles que não o amam ou até o desprezam e negam.
A perfeição que nos é pedida é assim a da liberalidade, a da capacidade de nos descentrarmos de nós próprios para olhar e estar com os outros, para os compreender e aceitar, para os acolher com todas as suas falhas e misérias. A perfeição que nos é pedida é a do amor sem medida e sem contrapartidas, a da nossa humildade face aos desaires dos outros porque não somos melhores que eles.
A perfeição é assim fazer algo de extraordinário com o nosso amor, com o acolhimento que o outro nos solicita à semelhança de Deus que se apresenta para ser acolhido e amado.

 
Ilustração:
“A conversão de Maria Madalena”, de Paolo Veronese, National Gallery, Londres

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