terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A parábola dos filhos obedientes (Mt 21,28-31)

As parábolas de Jesus sempre nos colocam em cheque, sempre nos fazem vacilar entre um ou outro personagem, pois sempre nos podemos identificar com um ou com outro dos intervenientes.
Nesta parábola do pai que pede aos filhos que vão trabalhar para a sua vinha encontramos dois filhos e duas atitudes completamente opostas. Um primeiro filho que se nega ao pedido do pai mas depois vai trabalhar para a vinha, e um segundo filho que aquiesce ao pedido do pai mas depois não vai. São duas figuras que podemos encarnar, que são imagens de muitas das nossas realidades e compromissos.
Elas no entanto evidenciam uma realidade bem mais profunda que a adesão ao pedido do pai, é a realidade da relação com o pai, do conhecimento e reconhecimento, de um respeito que um filho primeiramente não mostra mas depois desenvolve e que o outro filho mostra mas é apenas hipocritamente e portanto não tem.
Se o primeiro filho, aquele que frontalmente se nega a anuir ao pedido do pai, reconhece o seu erro e muda de atitude, é porque encontra no pai e reconhece a liberdade que o pai tem pela sua decisão, o respeito que o pai tem por ele enquanto filho e enquanto capacidade para dizer sim e dizer não. O pai não se impõe, não obriga, apenas faz um pedido e espera uma resposta, que neste caso chega quando se reconhece a autonomia e a liberdade pessoais.
Podemos dizer que este filho faz um processo de caminhada de conversão, um processo que tramita pela sua autonomia e pela sua liberdade que conscientemente reconhecidas não podem deixar de conduzir a uma outra resposta, a uma adesão e a um consentimento positivo ao pedido feito.
Ao contrário, o filho que não vai para a vinha mas diz que sim ao pai envereda por um processo de mentira, de uma obrigação e opressão que não existe porque também ele tem a liberdade de dizer não como teve a liberdade de não ir depois de se comprometer com o pai que iria trabalhar para a vinha. Este filho não conhece o pai, não conhece a sua liberalidade e julga o pai por si mesmo, pela sua hipocrisia e incapacidade de agir livremente. Inversamente ao irmão rebelde este filho obediente distancia-se do pai e da liberdade que o pai possibilita.
Encontramos também nestas duas atitudes o verso e o reverso da dinâmica do ser cristão, uma dinâmica que não se restringe apenas a uma resposta, a uma apresentação exterior, mas a um compromisso activo, participativo, revelador da resposta verdadeiramente dada. Não basta dizer sim ao pai, é necessário ir de facto para a vinha, mostrar factualmente a resposta afirmativamente dada.
Neste sentido cabe-nos perguntar e avaliar das nossas respostas a Deus, e de como em cada uma delas estamos a respeitar a liberdade que Deus nos dá, uma liberdade que conscientemente não nos pode deixar indiferentes, que inevitavelmente nos tem que dar um outro tipo de relação com Deus e portanto uma outra resposta aos seus pedidos. Afinal a pergunta é como somos livres em Deus e são livres as nossas respostas e os nossos compromissos.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O texto que preparou e que hoje partilha connosco sobre o Evangelho do dia e que ilustrou com uma bela pintura interpela-nos sobre a coerência dos nossos comportamentos como cristãos, sobre o dizer e o agir.
    E somos, Frei José Carlos, pelo menos, muito de nós, um misto do comportamento dos dois filhos da parábola de Jesus. Falta-nos, por vezes a coragem e a humildade para analisarmos o que há de menos bom no coração e no pensamento de cada um de nós, as nossas fragilidades.
    E como afirma “Encontramos também nestas duas atitudes o verso e o reverso da dinâmica do ser cristão, uma dinâmica que não se restringe apenas a uma resposta, a uma apresentação exterior, mas a um compromisso activo, participativo, revelador da resposta verdadeiramente dada”.
    Somos seres dotados de liberdade o que nos dá a faculdade de escolhermos o caminho que queremos seguir, e consequentemente assumimos compromissos como cristãos perante Deus, nós próprios e o nosso semelhante, o que nos leva a questionar a qualidade da nossa relação com Deus.
    Neste período de Advento façamos um esforço para sublimar os nossos egoísmos, para renascermos, enquanto esperamos o nascimento de Jesus.
    Obrigada por esta importante partilha. Bem haja.
    Um abraço fraterno
    Maria José Silva

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