O encontro de Jesus com os dois cegos é um relato que se desenvolve em dois níveis, em dois momentos que se diferenciam pela distância, pelo título dado a Jesus e pela própria acção levada a cabo por cada um dos intervenientes.
Assim, num primeiro momento encontramos Jesus em caminho e dois cegos que de longe invocam a sua misericórdia. Não sabendo nem tendo outro conhecimento, ou um conhecimento mais intimo, chamam Jesus de “filho de David”. Para eles e naquele momento era o título cristológico possível e aceitável pois ainda não tinham partilhado da intimidade de Jesus, da sua acção salvadora.
Já em casa, partilhando da intimidade de Jesus podem responder ao questionamento sobre a sua fé chamando Jesus de “Senhor”. Houve uma alteração nas suas vidas e na relação com Jesus que agora não é já um estranho, mas alguém que se relaciona com eles e os questiona sobre a possibilidade de lhes fazer aquilo que pedem. A alteração acontece ainda mesmo antes de acontecer o milagre.
O narrador evangelista não nos diz o que solicitavam de Jesus, ainda que posteriormente se perceba que era a cura da sua cegueira, pois é disso que Jesus os vai curar. Contudo, e para além dessa cura física, estava em causa a sua fé, a confiança que depositavam em Jesus de que ele podia fazer alguma coisa por eles, operar uma mudança significativa nas suas vidas.
Tudo no relato concorre para mostrar o poder de Jesus, o seu poder taumatúrgico, mas também e sobretudo para mostrar a necessidade da fé e do seu poder, da sua capacidade operativa. A fé opera milagres, a confiança em Jesus pode realmente alterar a nossa vida, o curso das coisas. E por isso são tão significativas as palavras de Jesus “seja feito segundo a vossa fé”.
Palavras significativas e desafiantes porque colocam em questão a nossa fé, ou seja a sua profundidade, a sua convicção plena e a confiança total. Quantas vezes quando solicitamos alguma ajuda a Jesus o fazemos de uma forma tão superficial, quase sem confiança de que alguma coisa realmente pode acontecer? Quantas vezes, os nossos pedidos, as nossas orações, não sofrem dessa falta de intimidade de que sofriam os cegos enquanto estavam no caminho e solicitavam a misericórdia de Jesus?
E é na intimidade que se descobre o Senhor, que se nos revela o que verdadeiramente pedimos, que nos confrontamos com a nossa confiança tanto mais ou menos segura, que Jesus nos responde que tudo será feito de acordo com a nossa fé, com a confiança que colocamos nele.
Peçamos assim a Deus a cura da nossa cegueira, dessa cegueira da falta de confiança.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarO texto da Meditação que escreveu para partilhar connosco é profundo, cheio de significado, faz-nos reflectir sobre a profundidade da nossa fé, sobre a confiança que depositamos em Jesus, do que pode fazer por nós, como pode mudar radicalmente as nossas vidas.
Na realidade é como afirma ...” A fé opera milagres, a confiança em Jesus pode realmente alterar a nossa vida, o curso das coisas. E por isso são tão significativas as palavras de Jesus “seja feito segundo a vossa fé”.”…
Obrigada por nos questionar sobre a forma como solicitamos a ajuda a Jesus, duvidando, por vezes, “de que alguma coisa realmente pode acontecer”.
Que Jesus nos ilumine e fortaleça a nossa fé para que “tudo seja feito de acordo com a nossa fé, com a confiança que colocamos Nele.”
Que bela Meditação, Frei José Carlos. Bem haja.
Um abraço fraterno
Maria José Silva