Sento-me por instantes, as costas denotam já o cansaço do dia,
e no entanto quanto falta ainda.
Foram as compras, a fruta e os caramelos,
as multidões nas caixas de pagamento, a mesa e o arroz doce.
A última prenda embrulhada,
já não em papel florido mas num simples e antigo papel de merceeiro.
Também nós vamos assim,
umas vezes em papel florido, outras vezes em papel de embrulho.
Contudo, somos sempre um presente,
apenas necessitamos que alguém desate o laço ou rasgue a folha de papel.
Agora aqui sentado, sentindo o corpo queixar-se,
acerca-se ao coração esse desejo miudinho de ficar quieto,
de parar, nem que seja por uns momentos, de contemplar e meditar.
Mas falta ainda tanto…
o arranjo da mesa, o bacalhau e os fritos de Natal,
a ceia de consoada e a Missa do galo.
E novamente chega ao coração esse desejo miudinho,
e o diálogo de David com o profeta Natan.
Quero construir uma casa para o Senhor,
moro num palácio e a arca do Senhor numa tenda, disse David.
Faz o que o coração de pede, respondeu Natan a David.
Mas nem sempre o que o coração pede é,
o que o Senhor nosso Deus deseja, e assim
não será David a construir, mas Deus a fazer uma casa a David.
Também aqui nestes instantes a mesma voz,
a mesma resposta,
não te compete fazer-me uma casa, eu farei para ti uma casa,
não te compete contemplar-me porque eu te contemplo,
não te compete fazer-me um Natal porque eu já me fiz Natal para ti.
Compete-te dar, fazer-te alimento e festa, ser homem e irmão,
porque foi o que eu fiz… por ti, pelos teus e por todos os homens.
Incarna, sê o que és, faz o que fazes,
por amor, foi o que eu fiz.
Contempla-me no doce dos sonhos e das rabanadas,
na luz trémula das velas,
no perfume do pinho e do incenso,
e no brilho dos olhos dos pequeninos.
Tudo é divinamente possível ao amor, com amor.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarQue bela partilha, que belo poema tão maravilhosamente ilustrado, que profundo diálogo com Deus que habita os nossos corações, está connosco. Quantos de nós, vemo-nos espelhados neste texto, a desejar parar, para poder contemplar e meditar, Frei José Carlos. E falta ainda muito tempo para que se faça silêncio e possamos contemplar o Deus menino com o “desejo de fazermos por cada um de nós e por todos os homens o que Deus fez por todos”.
Permita-me que termine como concluiu ...” Tudo é divinamente possível ao amor, com amor.”
Obrigada pela partilha da Meditação que nos ajuda sempre. Bem haja.
Um Santo Natal. Um abraço fraterno.
Maria José Silva
Boa noite Frei Jose Carlos,
ResponderEliminarEste Natal, passado noutro continente, foi igualmente partilhado convosco na companhia dos vossos textos e na visita a lugares que sempre nos deram como presente a companhia do Menino. Gravado vai ficar por muitos anos como exemplo de alegria e agradecimento pelo muito que Ele proporcionou.Que todos se encontrem muto bem.
Tenha uma santa noite,
GVA
Olá Frei José Carlos,
ResponderEliminarJá passei por aqui várias vezes, mas nunca deixei comentário. Por isso, começo por agradecer toda a inspiração e dicas de meditação que proporciona. Hoje tenho mesmo de comentar: O post arrancou-me um Aleluuuuiiiiiiiiiiiiiiaaaaa muito sentido!!! Pois é, já faz parte do ritual de Natal ouvir os Padres protestarem que a azáfamas das prendas, das decorações e das comezainas nos esquecemos do mais importante… O que diz hoje é coisa nunca ouvida, mas corresponde 100% ao que sempre achei mas nunca consegui pôr em palavras. Sim, nesta quadra fico um bocadinho louca, como muitos comuns mortais deste lado da Cristandade. No resto do ano fujo da cozinha como o diabo da cruz. No Natal comparo sete receitas de sonhos para escolher a melhor, e a há muito esquecida Bimby fica surpreendida com a súbita intensidade de utilização. No resto do ano, ninguém me apanha, sob pretexto algum, num centro comercial ao fim de semana. No Natal, enfrento horas de banho de multidão só para descobrir em que loja ainda não se esgotaram os ténis verde-musgo que a filha da minha prima tanto deseja. No resto do ano, limpo a casa de quinze em quinze dias. No Natal, até o pote horrorosa que a Tia Francisca deu tem de estar a brilhar.
Esquecer o Deus Menino? Como, se ele é a inspiração de tudo? Fico sempre fascinada com o facto de um bebé nascido há dois milénios ainda nos conseguir pôr a dar o melhor de nós e, por uma vez que seja, a procurar a felicidade e o conforto dos outros. Gostei mesmo muito da parte "Compete-te dar, fazer-te alimento e festa, ser homem e irmão, porque foi o que eu fiz… por ti, pelos teus e por todos os homens". E também gostei de,depois de tudo feito, vir aqui fazer "uma pausa para Jesus".
D.
Ao Frei José Carlos, a todos os irmãos dominicanos, aos seguidores do blogue e ao meu próximo, desejo um Bom Ano Novo suplicando ao Senhor nosso Deus, para todos vós, a Sua protecção e todas as bênçãos divinas, num mundo mais justo, mais fraterno e com paz.
ResponderEliminarUm abraço fraterno
Maria José Silva