quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Onde iremos buscar pão? (Mt 15,33)

Por duas vezes encontramos no Evangelho de São Mateus o milagre da multiplicação dos pães. Por duas vezes Jesus sente compaixão pela multidão que o escuta e sem alimento não pode regressar a suas casas. Por duas vezes Jesus interpela os discípulos no sentido de saber quais as provisões para alimentar toda aquela gente.
Os discípulos são colocados em questão e por isso um pouco mais tarde, no capítulo 16, ao entrarem na barca para atravessarem o lago, na expectativa da possibilidade de uma terceira multiplicação dos pães, vão questionar-se sobre o pão que lhes falta e vão recriminar-se por não o terem trazido.
Estes dois milagres colocam no entanto para os discípulos e para cada um de nós uma questão profundamente central no nosso seguimento de Jesus e na nossa fé. A nossa cooperação e partilha da missão, ou melhor, da misericórdia de Deus para com os homens e mulheres. Porque afinal quando Jesus se questiona como alimentar aquelas multidões fá-lo por misericórdia, porque tem pena delas, sente a sua fraqueza e sua incapacidade para ir muito mais além. Não podemos esquecer que tinham vindo de longe e neste segundo relato é-nos dito que muitos deles eram doentes, coxos e surdos, que Jesus curou, portanto inevitavelmente pessoas frágeis e fragilizadas.
Ao solicitar o pão aos discípulos e, depois de ter dado graças ao Pai, ao entregar esse mesmo pão aos discípulos, Jesus está a mostrar a necessidade que tem da humanidade para a difusão da sua misericórdia, como nos chama a ser canais do seu amor e da razão e sentido da sua encarnação. Jesus quer e necessita que sejamos as suas mãos, o seu corpo, os seus olhos, o seu coração e o seu amor junto daqueles que sofrem, que estão sós, abandonados, junto daqueles que necessitam de uma palavra ou de um pão.
E quando nos desculpamos da nossa incapacidade, tal como acontece com os discípulos somos interrogados sobre o que temos. E por vezes temos alguma coisa, outras vezes possivelmente só sete pães e dois peixes, mas é desse pouco que Jesus se vai servir para saciar a multidão. Jesus não necessita de muito, necessita apenas do pouco que temos, desse pouco que pela força do Espírito Santo pode ser multiplicado, transformado e saciar.
A multiplicação dos pães mostra-nos assim como Jesus age milagrosamente, como manifesta a sua misericórdia mas como nessa acção e manifestação conta connosco, conta com o que pouco que consideramos ter. Na medida em que lho entregarmos, em que lho ofertarmos, o receberemos de volta, transfigurado pela força de Deus e potenciado para realizar e satisfazer de uma forma insuspeita e inimaginável à nossa razão as necessidades que conhecemos e encontrarmos.

3 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Como nos recorda o importante é agradecer a Deus e partilhar o que temos. Permita-me que extraia alguns excertos que mais me sensibilizam ...” Jesus quer e necessita que sejamos as suas mãos, o seu corpo, os seus olhos, o seu coração e o seu amor junto daqueles que sofrem, que estão sós, abandonados, junto daqueles que necessitam de uma palavra ou de um pão.
    E quando nos desculpamos da nossa incapacidade, tal como acontece com os discípulos somos interrogados sobre o que temos. (…) Jesus não necessita de muito, necessita apenas do pouco que temos, desse pouco que pela força do Espírito Santo pode ser multiplicado, transformado e saciar.”
    Que Jesus nos transforme espiritualmente para que possamos estar mais disponíveis para Ele, seguir-Lhe as “pegadas” e, se isto acontecer, estaremos mais atentos e solidários com o nosso próximo, no que se revelar necessário.
    Obrigada Frei José Carlos pela partilha da Meditação que nos interpela e conforta. Bem haja.
    Um abraço fraterno.
    Maria José Silva

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  2. Bom dia Frei José Carlos,
    É um sentimento de gratidão que nos invade pelas partilhas que connosco faz através das sugestões de meditação, das homilias, enfim da palavra, alimento de vida.É com emoção que reparamos que vem ter connosco com o lenitivo certo, no momento certo, de confronto com as nossas infidelidades, as nossas desesperanças, os nossos egocentrimos que cegam.
    Que Ele possa contar connosco, comigo,com todo o meu ser, vivida a catarse, para uma entrega verdadeira.
    Tenha um bom dia,
    GVA

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  3. Boa Noite Frei José Carlos

    Parabéns pelo lindo texto , realmente é maravilhosa a palavra de Deus e a explicação dessa mesma palavra ainda reconforta mais quem a lê.
    Com um abraço fraterno AD.

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