sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A tua paz seria como um rio! (Is 48,18)

Na agitação do nosso dia-a-dia, no meio das solicitações do mundo, um grito ecoa no nosso coração, faz estremecer as entranhas do nosso ser. Como sedentos de água assim anda sedento o nosso coração, a nossa vida, de paz!
Todo o nosso ser grita de ansiedade por paz. É o corpo que solicita a paz do descanso merecido, é o espirito que pede a paz de uns minutos de silêncio, é o coração que reclama a paz das relações, é a alma que deseja a paz de Deus.
O Senhor diz-nos que essa paz vem até nós, é-nos oferecida como um rio, quando atendemos às suas ordens. E como nos custa atender a esta oferta que responde às nossas necessidades.
Nos ritmos alucinantes do quotidiano esquecemos que o nosso corpo necessita de repouso, de recuperar energias, e como não o fazemos adequadamente chegamos ao esgotamento. Falta-nos a paz do corpo, porque não percebemos nem queremos perceber que o nosso corpo é a primeira dimensão da nossa existência e que necessita cuidados, como o descanso.
Cheios de imagens e som, de instrumentos cada vez mais afinados de comunicação, perdemos a noção e o gosto do silêncio, desenvolvemos até uma fobia ao silêncio. E é no silêncio que encontramos a paz que nos embala o espirito, que nos permite olhar o horizonte da nossa existência, escutar o bater do nosso coração agitado ou mais tranquilo.
Pressionados por uma imagem social, pelo grupo, por aspirações de conforto que levam a um trabalho desenfreado, perdemos os outros, deixámos de nos falar e as relações tornaram-se violentas ou vazias de sentido. O nosso coração necessita, e aflito reclama, um abraço, um carinho, uma palavra de consolo ou incentivo, reclama as relações fraternas de amor.
A alma saudosa da paz eterna busca em cada dia essa paz, geme com o Espirito e pelo Espirito, tentando fazer brotar no coração do homem esse desejo de parar um minuto e olhar sem medo nem pressa o rosto do seu Criador e Salvador.
E no turbilhão de todas estas necessidades o Senhor recorda-nos as suas ordens, como o nosso corpo é sagrado, como os outros são nossos irmãos, como o tempo é um dom e o silêncio uma necessidade para o apreciar, como necessitamos encontrar-nos com Ele para nos encontrarmos verdadeiramente connosco.
Que a paz brote em nós neste Advento como uma nascente de água fresca e siga com remanso até às margens da nossa vida.

 
Ilustração:
Rio Rhône, junto do Chemin du Moulin des Frères, em Genebra.

3 comentários:

  1. Caro Frei José Carlos,

    Leio a reflexão partilhada e fico a meditar no que escreveu e no que consideramos paz exterior e interior que andam interligadas e vêm-me à memória algumas frases que vamos repetindo sobre a paz, ao longo da vida, sem pensarmos sobre a necessidade e a forma de alcançá-la, i.e., : “a paz, se possível, mas a verdade a qualquer preço” ou “o primeiro dos bens, depois da saúde, é a paz interior.”... Na realidade, para alcançarmos a paz precisamos de uma outra dimensão de que nos fala no texto, o tempo, mas também o silêncio.
    Como nos afirma ...” Todo o nosso ser grita de ansiedade por paz. É o corpo que solicita a paz do descanso merecido, é o espirito que pede a paz de uns minutos de silêncio, é o coração que reclama a paz das relações, é a alma que deseja a paz de Deus. (...) “E é no silêncio que encontramos a paz que nos embala o espirito, que nos permite olhar o horizonte da nossa existência, escutar o bater do nosso coração agitado ou mais tranquilo.” ...
    Um grande obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, oportunas, profundas, que vêm ao encontro das nossas necessidades prementes e quotidianas de ordem física e espiritual, por recordar-nos que ...” como o tempo é um dom e o silêncio uma necessidade para o apreciar, como necessitamos encontrar-nos com Ele para nos encontrarmos verdadeiramente connosco.”...
    Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Bom descanso. Bom fim-de-semana com paz, alegria, confiança e esperança.
    Um abraço mui fraterno,
    Maria José Silva
    P.S. Permita-me que partilhe um poema de Sophia de Mello Breyner Anderson.

    A Paz sem Vencedor e sem Vencidos

    Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos/ A paz sem vencedor e sem vencidos/Que o tempo que nos deste seja um novo/ Recomeço de esperança e de justiça/ Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos //

    A paz sem vencedor e sem vencidos

    Erguei o nosso ser à transparência/ Para podermos ler melhor a vida/ Para entendermos vosso mandamento/ Para que venha a nós o vosso reino/Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos//

    A paz sem vencedor e sem vencidos

    Fazei Senhor que a paz seja de todos/ Dai-nos a paz que nasce da verdade/ Dai-nos a paz que nasce da justiça/ Dai-nos a paz chamada liberdade/ Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos//

    A paz sem vencedor e sem vencidos

    Sophia de Mello Breyner Andresen, in 'Dual'

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  2. Oh! meu Deus... Como necessitamos de paz...A paz do descanso, como a paz do silêncio e, sobretudo a paz de Deus. Mas, não necessitamos de dar ao coração a paz das relações?... Estranho este mundo dos afectos que interfere com a paz interior e a alegria de viver. Inter pars

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  3. Frei José Carlos,

    Fiquei maravilhada ao ler este belo texto rico de sentido,profundo,que nos ajuda a nossa reflexão com mais amor na preparação para a chegada do Deus Menino!É com alegria que vivemos este tempo do Advento.Como nos diz o frei José Carlos...Que a paz brote neste Advento como uma nascente de água fresca e siga com remanso até às margens da nossa vida.
    Obrigada,pela partilha tão profunda das suas palavras,que nos dão força para a nossa caminhada mais amor e paz .Também gostei muito das ilustrações,da anterior e desta. Que o Senhor o ilumine o guarde e o abençoe.Desejo-lhe um bom fim de semana e espero que tenha um pouco de descanso bem merecido,para que o corpo não reclame...Uma boa tarde.
    Bem-haja.Uma abraço fraterno.
    AD

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