Celebramos o segundo
domingo do Advento e a Liturgia da Palavra, as leituras que escutámos, coloca-nos
face a face com a acção de Deus, com a iniciativa de Deus em todo o processo de
salvação.
O excerto do livro de
Baruc que escutámos na primeira leitura é neste sentido muito clara, pois
diz-nos que Deus decidiu, que Deus vai mostrar, que Deus dará, que Deus tem a
iniciativa antes de mais.
A Carta de São Paulo
aos Filipenses, da segunda leitura, vai no mesmo sentido, pois diz-nos que Deus
começou em nós uma obra boa, uma obra que levará a bom termo.
E o Evangelho de São
Lucas, ao apresentar-nos a figura de João Baptista no deserto, confirma esta
ideia ao dizer-nos que a palavra de Deus foi dirigida a João para que ele
pregasse um baptismo de penitência e arrependimento.
Assim, se Deus tem a
iniciativa, se a acção tem o seu princípio em Deus, a cada um de nós
corresponde a participação nessa iniciativa de Deus pelo acolhimento da acção,
pela disponibilidade para que ela aconteça em nós.
O apelo de João
Baptista no deserto, fazendo eco da profecia de Isaías, é assim um apelo à
abertura, à disposição para o acolhimento, à eliminação de todos os obstáculos
que possam impedir a iniciativa de Deus de se realizar.
Disposição para o
acolhimento que é processo de conversão, e que não pode ser vivido na tristeza nem
na amargura, no desalento, pois o que se nos pede para endireitar, para aligeirar,
para desprender é sempre em função de um bem maior, da plenitude que Deus tem
na origem da sua iniciativa.
Somos assim
convidados, tal como o profeta Baruc convidava Jerusalém, a deixar o nosso
manto de luto e tristeza, a nossa aflição pelas coisas que não funcionam ou que
correm contrariamente aos nossos planos e expectativas.
É a beleza da justiça
que devemos vestir, a glória de Deus que devemos colocar como diadema sobre a
nossa cabeça, é a esperança que deve animar os nossos gestos e atitudes, é no
final das contas a dignidade de filhos de Deus que devemos assumir e procurar
viver.
É a caridade que deve
crescer, uma caridade que não é espontânea, que não surge do nada, mas que é
fruto da ciência e do discernimento, de um trabalho pessoal e à luz da graça e
da Palavra de Deus, e que nos permite distinguir o que é melhor, o que nos
torna mais puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo.
Fizemos uma semana de
caminhada neste tempo de Advento e certamente alguma coisa fizemos de
diferente, algum discernimento com ciência elaborámos e iluminou as nossas
acções e palavras.
Pelo que fizemos e
também pelo que nos propusemos fazer mas ainda não fomos capazes, temos que dar
graças a Deus, com alegria e fé, porque Deus vai actuando em nós e o nosso
coração vai estando mais disposto e disponível à acção de Deus.
Ao iniciarmos a
segunda semana do Advento não podemos dar-nos por satisfeitos pelo que já
fizemos, nem cruzar os braços pelo que ainda ficou aquém do desejado, mas
devemos solidificar o que já fizemos e continuar a insistir no que nos falta
fazer.
Uma vez mais somos
convidados a compromissos concretos, e realistas, a pequenos gestos que podem
marcar a diferença junto do outro e até junto de mim próprio, a uma oração mais
intensa, ou até mais simples mas mais unitiva com Deus.
Tal como São Paulo,
manifestemos a nossa confiança na acção de Deus, no seu amor para connosco e na
sua promessa de que não nos deixaria sós neste caminhar e nesta luta. Esta confiança
produzirá a mudança que desejamos e esperamos.
“São João pregando no deserto” de Luca Giordano, Los Angeles County Museum of Art.
Caro Frei José Carlos,
ResponderEliminarFoi com muita alegria e interesse que li e reli o texto da Homilia que teceu no II Domingo do Advento. É um hino à alegria, à conversão, à confiança e à esperança, ...”a esperança que deve animar os nossos gestos e atitudes, é no final das contas a dignidade de filhos de Deus que devemos assumir e procurar viver.”...
E, ...” se Deus tem a iniciativa”(...), somos chamados à conversão, ...” à disposição para o acolhimento, à eliminação de todos os obstáculos que possam impedir a iniciativa de Deus de se realizar.”...
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Homilia, profunda, esclarecedora, fundamental na interpretação da Palavra de Deus, por nos exortar a que, nesta segunda semana de Advento, ...” Tal como São Paulo, manifestemos a nossa confiança na acção de Deus, no seu amor para connosco e na sua promessa de que não nos deixaria sós neste caminhar e nesta luta. Esta confiança produzirá a mudança que desejamos e esperamos.”
Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e guarde.
Continuação de uma boa semana.
Um abraço mui fraterno,
Maria José Silva