No domingo imediato à
celebração do Natal do Senhor somos convidados a celebrar festivamente a
Sagrada Família de Jesus, Maria e José, somos convidados a celebrar o dom da
família, base e célula fundamental da sociedade, mediação estruturante da
realização plena da pessoa humana.
As imagens da Sagrada
Família que moldaram o nosso imaginário, algumas devoções e certa
espiritualidade familiar ficam em muitos aspectos distantes da verdade e da realidade
da experiência da família de Nazaré. Moldada por algumas histórias que nos
aparecem nos Evangelhos Apócrifos imaginámos uma família perfeita, sem
problemas, uma família em que a santidade dos seus membros e a presença do
próprio Verbo de Deus feito carne resolvia tudo.
E, contudo, a
realidade que os Evangelhos nos transmitem não é assim tão perfeita, bem pelo
contrário, apresenta-nos uma família que tem problemas, que enfrenta situações
desafiantes, que tem que encontrar respostas para os seus problemas.
Podemos começar na
questão que perturba José quando sabe da gravidez de Maria, passar ao
nascimento do menino numa gruta de animais porque não havia lugar para eles na
hospedaria, olhar a perda de Jesus no templo aos doze anos e que o Evangelho de
hoje nos apresenta. Podemos ver a necessidade de emigrar para o Egipto para
escapar à morte, a pressão familiar junto de Maria para fazer regressar o filho
a casa considerado louco, o sofrimento da paixão e da morte de um filho como um
criminoso.
A Sagrada Família de Nazaré
não se distancia muito das nossas famílias, das famílias de todos os tempos nos
desafios e problemas que tem que enfrentar. Também hoje temos membros das
nossas famílias emigrados, outros sem trabalho, alguns doentes, outros que nos
colocam questões e exigências que muitas vezes não sabemos como responder.
Mas se a Sagrada
Família de Nazaré se aproxima da realidade das famílias, e se a Igreja nos propõe
no dia de hoje esta festa, é para nos convidar e ajudar a encontrar respostas
para os nossos problemas, situações e desafios tal como a família de Jesus,
Maria e José o fizeram. Neste sentido, o acontecimento da perda de Jesus no
templo de Jerusalém pode ajudar-nos a compreender as respostas que necessitamos
encontrar.
Respostas que assentam
no paradigma do crescimento em sabedoria, estatura e graça; que no caso do
Evangelho que lemos se aplica directamente ao crescimento de Jesus, mas que de
facto se aplica a todos nós. A família tem como missão possibilitar o
crescimento em todas as dimensões, um crescimento estruturante da nossa pessoa
e que nos conduzirá à plenitude da realização humana.
Poderíamos dizer que a
família é o ambiente propício para a realização de todas as vocações, a
dinâmica que possibilita o desenvolvimento de todos os dons, e como tal da
pessoa em toda a sua potencialidade e plenitude.
O homem desenvolve-se
como companheiro, como esposo, como pai, como amigo, como trabalhador
responsável, como educador e transmissor de valores, como testemunha da fé e da
esperança. A mulher desenvolve-se como esposa e companheira, como mãe, como
fonte de carinho e ternura, como testemunha do amor para os seus filhos. Os filhos
desenvolvem-se reflectindo o respeito e o carinho dos pais, o sentido da
responsabilidade, a esperança e a confiança apreendida nas conversas dos seus
pais.
A família permite
assim o desenvolvimento em ordem à plenitude humana, o desenvolvimento da
sabedoria sempre acrescentada das experiências de cada um, mas permite
igualmente o desenvolvimento da graça, na medida em que cada um sendo fiel à
sua missão, aos dons recebidos, vive cada vez mais e melhor e desenvolve em si
a santidade a que é chamado.
Encontramo-nos assim
todos na mesma circunstância que Jesus menino ao responder a Maria que devia
ocupar-se da casa e das coisas de seu Pai. Também nós nos devemos ocupar das
coisas e da casa do Pai, que não são nada mais que os nossos irmãos, aqueles
que partilham a nossa vida e são templo de Deus, habitação da presença de Deus.
Desta forma, e tal
como recomenda São Paulo aos Colossenses, que todas as nossas obras, palavras,
gestos, tudo o que fizermos, seja sempre em nome de Jesus Cristo e seja sempre
para a plenitude e perfeição do próximo, de modo que todos se sintam e saibam
filhos muito amados de Deus.
“A Sagrada Família do passarito”, de Bartolomé Esteban Murillo, Museu do Prado.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarGrata,pela excelente partilha da Homilia da Festa da Sagrada Família,profunda e muito rica de sentido.Como nos diz São Paulo aos Colossenses,que todas as nossas obras,palavras,gestos,tudo o que fizermos,seja sempre em nome de Jesus Cristo e seja sempre para a plenitude e perfeição do próximo,de modo que todos se sintam e saibam filhos muito amados de Deus.
Obrigada,Frei José Carlos,por ter partilhado connosco esta maravilha de Meditação,e pela beleza da ilustração.Gostei muito desta reflexão.Bem-haja.Desejo-lhe um Feliz Ano Novo cheio das Graças e Bençãos do Senhor e uma boa semana e bom descanso!Que o Senhor o ilumine o guarde e o proteja.
Um abraço fraterno.
AD