Já estamos tão
habituados que já não nos estranha, já não nos coloca nenhum problema ou
interrogação. Jesus era procurado por todo o tipo de gente, com todo o tipo de
enfermidades e problemas.
Neste conjunto de
gente, encontramos dois cegos que seguem Jesus, e a pergunta que não colocamos
por pudor ou educação, mas que o próprio Jesus coloca num outro contexto, é se
um cego pode conduzir outro cego.
Jesus responde à
questão concluindo que dois cegos acabarão inevitavelmente num barranco,
acabarão por conduzir-se mutuamente ao desastre e à tragédia, e ainda que não
pareça é o que acontece com estes dois cegos que seguem Jesus.
É incontestável que
foram curados por Jesus, que o seu pedido de visão foi satisfeito, mas também é
incontestável que imediatamente a seguir Jesus os proíbe de divulgar a cura
alcançada.
Podemos assumir, como
Jesus assume no Evangelho de São João, que esta recomendação deriva do facto de
ainda não ter chegado a sua hora. Podemos assumir que Jesus procurava gerir a
sua missão e o impacto dela, afinal estamos ainda no início da vida pública.
Contudo a questão é
bem mais profunda e o silêncio recomendado por Jesus prende-se com o milagre
operado, com a visão alcançada por aqueles cegos, uma visão exterior, uma visão
imediata, uma visão do taumaturgo triunfante, poderíamos dizer uma visão
equivocada.
Aqueles dois cegos
recuperaram a vista mas não chegaram de facto a ver quem tinham diante deles,
porque para o verem necessitavam permanecer, fazer intimidade, guardar
silêncio, ter cuidado e não sair imediatamente para fora a contar o sucedido.
Aqueles cegos viram o Filho de David mas não tiveram tempo para ver o Filho de
Deus.
Como os cegos também
nós corremos suplicantes atrás de Jesus, não só porque queremos ver o Filho mas
também porque queremos que ele nos mostre o Pai.
Para que nos seja
alcançada a visão que buscamos necessitamos de tempo, tempo para que os nossos
olhos se abram para a humanidade do Filho do Homem, para a carne da nossa carne
feita ternura numa criança, para a humildade do amor exposta nua numa cruz,
para o aniquilamento de si para que a visão do rosto do Pai aconteça.
Concede-nos Senhor um
coração puro, porque prometestes que os puros de coração veriam a Deus! Mas sobretudo,
concede-nos Senhor o dom do tempo para ti!
“Jesus cura o cego de nascença”, de Orazio de Ferrari, Colecção de Arte do Banco Carige.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarSeguiram Jesus dois cegos."Também nós corremos suplicantes atrás de Jesus,não só porque queremos ver o Filho mas também porque queremos que ele nos mostre o Pai."
Para que nos seja alcançada a visão que buscamos necessitamos de tempo,tempo para que os nossos olhos se abram para a humanidade do Filho do Homem,para a carne da nossa carne feita ternura numa criança,para a humildade do amor exposta numa cruz,para o aniquilamento de si para que a visão do rosto do Pai aconteça.
Concede-nos Senhor um coração puro,porque prometestes que os puros de coração veriam a Deus ! Mas sobretudo, concede-nos Senhor o dom do tempo para ti !Obrigada,Frei José Carlos,por esta maravilha de partilha,que nos ajuda a prosseguirmos a nossa caminhada do Advento.Bem-haja,por todo o seu trabalho .Desejo-lhe um bom descanso.Que o Senhor o ilumine o ajude e o abençoe.
Um abraço fraterno.
AD
Que neste tempo de preparação para o Natal saibamos permanecer no silêncio do nosso coração para lá podermos encontrar, contemplar e seguir o Menino que quer que O conheçamos para podermos conhecer o Pai. Inter pars
ResponderEliminarPassamos uma parte significativa da vida mergulhados num quotidiano de tal forma atribulado, enrodilhado, que não há tempo para Deus, para a família, para os amigos, para o outro, nosso irmão, e nem sequer para nos determos e interrogar-nos quem somos, porque existimos, para onde caminhamos!! Como foi possível tudo isto acontecer e como é difícil deter-nos para questionar- nos e mudar de caminho... Tornamo-nos cegos incuráveis!
ResponderEliminarComo Frei José Carlos nos recorda não é suficiente o encontro com Jesus e a aparente cura da cegueira. E passo a citá-lo ...” Para que nos seja alcançada a visão que buscamos necessitamos de tempo, tempo para que os nossos olhos se abram para a humanidade do Filho do Homem, para a carne da nossa carne feita ternura numa criança, para a humildade do amor exposta nua numa cruz, para o aniquilamento de si para que a visão do rosto do Pai aconteça.”…
Que o Senhor nos conceda o dom do tempo para estar com Ele e com os outros.
Grata, Frei José Carlos, por esta partilha que nos desinstala e desafia na nossa forma de ser e de estar na vida, na relação que estabelemos com Jesus e com os outros. Bem-haja.
Bom descanso. Bom fim-de-semana. Que o Senhor o cumule de todas as bênçãos.
Um abraço mui fraterno,
Maria José Silva