domingo, 20 de dezembro de 2015

Homilia do IV Domingo do Advento

O Advento aproxima-se do seu termo e celebramos já o quarto domingo deste tempo e caminhada de preparação para a celebração do Natal do nosso Salvador Jesus Cristo Senhor. Iniciamos a quarta semana já com um ar de alegria, de festa, pois Maria sai alegre de sua casa a visitar Isabel sua prima que se alegra com a visita.
Neste acontecimento, nesta visita de Maria a Isabel, que o Evangelho de São Lucas hoje nos apresenta, podemos ver uma espécie de parábola do próprio mistério da encarnação que celebramos no Natal. Tal como Maria também Deus vem alegremente ao nosso encontro.
Desta forma, e perante este mistério da visitação de Deus, podemos colocar a questão que Isabel colocou quando viu Maria diante de si: como me é dado que venha ter comigo? Para nós não se trata já tanto da Mãe do meu Senhor, mas do próprio Senhor que vem ter connosco. Como é possível?
A leitura da Epístola aos Hebreus que escutámos dá-nos a resposta para esta questão, uma vez que nos diz que não agradaram a Deus os holocaustos e os sacrifícios, o culto exterior, a idolatria que escraviza o homem. Havia por isso necessidade da encarnação do Filho, a formação de um corpo de homem, para que todos os homens pudessem saber que o desejo de Deus, o que agrada a Deus é a realização da sua vontade. E ela é alcançada na nossa humanidade!
A visita de Deus à nossa humanidade, o mistério da encarnação, é assim para nos mostrar que é na nossa condição humana com as suas limitações e fragilidades que nos podemos encontrar com Deus. O mistério da encarnação vem sublinhar de forma vincada e iluminar com todo o brilho a criação do homem à imagem e semelhança de Deus que nos é apresentada no livro do Génesis.
Perante esta realidade o nosso coração deve rejubilar de alegria, deve viver na alegria de se saber amado e querido de Deus, filho de Deus, deve viver na paz que o próprio Jesus nos alcançou com a encarnação, através da qual experimentou a morte mas também nos alcançou a graça da redenção.
São esta paz e esta alegria que nos levam a sair ao encontro do outro, pois à semelhança do próprio Deus elas projectam-nos para fora de nós próprios. Ficar encerrado em si próprio, viver egoisticamente, egocentricamente, é contrariar esta dinâmica da alegria e da paz de Deus, é aniquilar a vitalidade divina semeada na humanidade pelo próprio Filho de Deus ao fazer-se homem como nós em tudo menos no pecado.
A visita de Maria a sua prima Isabel e ainda mais o nascimento de Jesus desafiam-nos nesta dinâmica, nesta necessidade de ir ao encontro do outro para que a alegria e a paz possam ser mútuas, para que o projecto de Deus chamado homem se realize plenamente.
É certo que teremos que atravessar dificuldades, teremos que atravessar as montanhas como Maria, mas na medida do nosso compromisso com esta dinâmica poderemos fazer a experiência da bem-aventurança, da felicidade de ver realizado tudo o que nos foi dito e anunciado.   
Nestes dias que nos faltam para a celebração do Natal do nosso Redentor, que possamos fazer a experiência do encontro, de sairmos ao encontro do outro e de acolhermos o outro.
Se não formos capazes de abrir o nosso coração, e o que também não é fácil que é o nosso tempo disponível, ao outro que vive ao nosso lado e partilha a nossa vida, a nossa celebração do Natal será certamente mais pobre, menos luminosa e alegre.
Saibamos sair ao encontro do outro, saibamos acolher o outro que vem ao nosso encontro, e então estaremos certamente juntos a adorar o menino Deus na noite mais bela de todas as noites, na noite que desvela a alegria da eternidade.

 
Ilustração:
“Visitação”, de António de Pereda y Salgado, Museu Lázaro Galdiano, Madrid.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Li e reli a Homilia com muito interesse,fiquei maravilhada com a bela partilha que nos ajuda à nossa reflexão com profundidade,com mais alegria.Todo o texto é duma beleza espectacular.Saibamos sair ao encontro do outro,saibamos acolher o outro que vem ao nosso encontro,e então estaremos certamente juntos a adorar o menino Deus na noite mais bela de todas as noites,na noite que desvela a alegria da eternidade.
    Obrigada,Frei José Carlos,por partilhar connosco toda esta maravilha,as suas palavras ricas de sentido,profundas. Gostei muito,e também pela bela ilustração.Bem-haja.
    Que o Senhor o ilumine o ajude e abençoe.Votos de uma bela semana.Um bom dia cheio de paz e alegria no Senhor.
    Um abraço fraterno.
    AD

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