sexta-feira, 17 de março de 2017

Mandou os servos para receber os frutos. (Mt 21,34)

O Evangelho de São Mateus informa-nos que a parábola dos vinhateiros homicidas se dirige aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, que eles perceberam bem a mensagem e só não prenderam Jesus porque tiveram medo do povo.
Na parábola está entendida a história da revelação, os profetas que Deus tinha enviado e não tinham sido escutados, que tinham sido assassinados, mas está também e de forma profética a realidade que se perfila no horizonte para Jesus, o filho e herdeiro enviado numa última tentativa de colecta dos frutos.
Assim, face a esta primeira leitura, podemos assumir que a parábola pouco tem a dizer-nos, fala-nos de acontecimentos do passado, dirige-se a destinatários concretos que somos capazes de identificar e não somos nós. Mas será bem assim?
Sãos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo, surpreendentemente, que nos colocam em jogo, ao dizerem que o dono entregará a sua vinha querida a outros vinhateiros que lhe entreguem os frutos a devido tempo. Nós sabemos que somos nós, que a pedra rejeitada por aqueles homens, e que é o Filho, se tornou para nós pedra angular.
Cumpre-nos assim perguntar como estamos a cuidar a vinha, que frutos dispomos para entregar, mas também como estamos a acolher os servos que o dono da vinha nos envia hoje para receber esses frutos? Porque o Senhor continua a mandar os seus servos.
A vinha nova, cuidada e murada que nos foi confiada, é a vinha da graça divina, da filiação divina alcançada por Jesus Cristo. Os frutos que somos chamados a apresentar são os frutos do Espirito Santo, a caridade, a alegria, a paz, a paciência, a benignidade, a bondade, a longanimidade, a mansidão, a fé, a modéstia, a continência e a castidade.
Os nossos irmãos, homens e mulheres que se cruzam connosco todos os dias na intimidade da família, nos postos de trabalho, no anonimato da rua, são os servos que o Senhor continua a enviar para que possam recolher os frutos da sua vinha. O dono da vinha não vem por si próprio recolher os frutos, mas envia os seus servos, os homens e mulheres.
Que amor lhes retribuo? Que alegria lhes partilho? Que paz lhes concedo? Como os acolho com paciência? Como sou capaz de perdoar a falta cometida? Que tempo lhes concedo para mudarem? Como lhes testemunho a minha fé? Como as minhas atitudes e modos de ser os provocam? Que castidade desenvolvemos nas relações que estabelecemos?
Os servos do Senhor continuam a vir bater à porta, a procurar os frutos devidos, que tenho eu para lhes dar, sabendo que cada um deles é tão proprietário da vinha como eu pela morte do Filho que nos fez herdeiros.

 
Ilustração:
“Parábola dos vinhateiros homicidas”, de Andrey Mironov, 2013.

1 comentário:

  1. Os Evangelhos destas semanas da Quaresmas são intensos e indicam-nos o caminho a seguir. Às vezes pela negativa, como no caso dos vinhateiros ingratos ou do pedido despropositado da mãe dos filhos de Zebedeu. Mas depois a lição: necessidade de disponibilidade, de desprendimento,de partilha, de amor. Obrigado por nos chamar a atenção para a necessidade de estarmos atentos e responder com generosidade e humildade aos dons de Deus.Inter pars.

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