quarta-feira, 15 de março de 2017

Não sabeis o que estais a pedir! (Mt 20, 22)

A mãe dos filhos de Zebedeu, Tiago e João, aproxima-se de Jesus para lhe fazer um pedido, que o mestre ordene que no seu reino os seus filhos se sentem à sua direita e à sua esquerda. Pedido motivado certamente pelo amor de mãe, mas ainda assim surpreendente e até estranho no grupo dos discípulos de Jesus. Tendo em conta a reacção dos outros discípulos, da sua indignação, a mãe de Tiago e João tinha ido longe de mais no que estava a pedir.
Esta ousadia da mãe dos filhos de Zebedeu torna-se ainda mais gritante e provocadora na medida em que pouco antes Jesus tinha anunciado, pela terceira vez, o fim que o esperava em Jerusalém, a sua paixão e morte, a negação e rejeição por parte de todos. Como poderia aquela mulher estar a fazer tal pedido face ao anunciado?
O despropósito do pedido agrava-se ainda mais se tivermos em conta tudo o que o Evangelho de São Mateus nos apresenta previamente das palavras e encontros de Jesus. É o encontro com o homem rico que não é capaz de se separar das suas riquezas, é a pergunta de Pedro sobre a recompensa daqueles que como eles deixaram tudo para seguir Jesus, e por fim é a parábola dos trabalhadores do final do dia que recebem tanto como os da manhã, pois os últimos serão os primeiros.
Jesus já tinha vindo a colocar as coisas no devido sítio, a apresentar a radicalidade do seguimento e como era necessário desprender-se de muito, até do que se poderia considerar justo, para o seguir, para ter um lugar consigo, um lugar no último lugar que é o primeiro. Mas enquanto Jesus falava de serviço e humildade, de dom de si próprio sem esperança de recompensa, os discípulos apenas pensavam na promoção, nos lugares de poder e governo.
Na lógica e nos planos de Jesus ser o primeiro significa ser o servo de todos, ser aquele que é capaz de se desprender das coisas que lhe são mais caras e esperar confiante que a recompensa virá, não pelo trabalho realizado, mas pela justiça do amor vivido. O importante é o vivido verdadeiramente. E Jesus abre-nos o caminho deste processo de vida através do seu dom total, do dom até à cruz.
Seguir Jesus é assim partilhar com ele os nossos sofrimentos, eliminar os dos nossos irmãos, amar e perseverar nesse amor apesar das dificuldades, é entregar a sua vida no serviço humilde do quotidiano, muitas vezes sem qualquer agradecimento, sem qualquer glória, escondidos como o fermento na massa. Neste silêncio o Pai mede o peso do nosso amor e chama-nos a entrar na sua intimidade, a partilhar a glória do mistério da encarnação.
A mãe dos filhos de Zebedeu e todas as circunstâncias que tornam o seu pedido despropositado, infeliz, convidam-nos a repensar a nossa oração e o que pedimos a Deus. Estaremos a pedir o que nos convêm, ou estaremos a pedir que em nós se faça vida a vontade de Deus? Senhor afasta de mim este cálice, contudo não se faça a minha vontade mas a tua!

Ilustração:
“Encontro de Jesus com os filhos e mulher de Zebedeu”, de Paolo Veronese, Musée de Grenoble.   

1 comentário:

  1. Obrigada,Frei José Carlos pela maravilhosa e bela partilha,muito profunda que gostei muito.As suas palavras são bem-vindas,para nos ajudar a refletir mais profundamente e estarmos mais unidas a Jesus nesta Quaresma.
    Que o Senhor o ilumine e o proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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