terça-feira, 14 de março de 2017

O maior entre vós será servo. (Mt 23,11)

É diante da multidão que Jesus fala aos seus discípulos sobre os escribas e os fariseus e a duplicidade de vida que levam, sobre a hipocrisia do que exigem aos outros mas se recusam a praticar e viver. É um aviso, um apelo, para que assim não aconteça com eles.
Jesus inicia esta série de imprecações e críticas contra os fariseus e escribas, que vai ocupar todo o capítulo vinte e três do Evangelho de São Mateus, colocando em evidência o exterior, as marcas externas que apenas têm como objectivo diferenciar, demarcar-se dos outros, aparentar aquilo que se não é ou vive. São as ricas vestimentas, as borlas e filactérias, os primeiros lugares, os títulos e deferências que enganam o outro, a máscara do orgulho para se ser considerado pelo que se não é.
Com os seus discípulos tal não pode acontecer, não podem viver à custa da imagem e para a imagem, para o que os outros podem pensar. E tal não pode acontecer porque antes de mais são irmãos, são todos irmãos, e viver como irmãos supõe humildade e verdade, calor humano, um espirito de serviço e sobretudo um dom de entrega muito forte.
Os irmãos que vivem como irmãos não estão dependentes do que os outros podem pensar, vivem em liberdade porque se conhecem e reconhecem, porque o outro é parte de si, porque sabem que o que entregam e confiam uns aos outros é verdadeiro e irrepetível, inegociável.
E como viver como irmãos representa um esforço, uma aplicação contínua, Jesus apresenta-se como modelo a seguir, mostra-nos a verdadeira fraternidade em termos práticos, de uma forma radical humilhando-se até à morte pelos seus irmãos, pelo amor de os resgatar da morte.
Sabemos que os discípulos não participaram deste último momento, com excepção de João e as mulheres que acompanharam Jesus até à crucifixão, mas sabemos como foram objecto de um gesto que os transtornou e os marcou de forma indelével neste aprender da humildade e do serviço aos outros, de ser o maior sendo o servo de todos.
Quando o mestre se ajoelhou diante de cada um deles para lhes lavar os pés a transformação aconteceu, no fundo do coração aqueles homens pressentiram o que mais tarde perceberam, que o amor não tem limites, que o amor serve na maior humildade, que o amor se entrega totalmente.
Não era o maior de entre eles que se humilhava, pelo contrário esse até teve alguma dificuldade em perceber o gesto de Jesus, mas era o próprio Mestre que se inclinava e como um servo lhes lavava os pés, até àquele que depois o traiu e entregou. Como poderiam eles aspirar a maior glória que a glória da humildade do serviço manifestada pelo Mestre? Como podemos nós aspirar a outras glórias?

 
Ilustração:
“Jesus lavando os pés aos apóstolos”, de Palma Giovane, San Giovanni in Bragora, Veneza.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,obrigada pela maravilhosa partilha tão profunda, que nos ajuda nesta caminhada Quaresmal,para que a nossa vivência seja uma verdadeira conversão.Que o Senhor o ilumine o guarde e o proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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