quinta-feira, 5 de abril de 2012

Amou-os até ao fim. (Jo 13,1)

Sabendo que chegar a sua hora, a hora da sua passagem, porque isso mesmo significa a Páscoa, passagem, Jesus amou os seus até ao fim, até ao extremo do impossível.
Um extremo e um fim que leva Jesus a dizer no momento da sua morte, tudo está consumado, tudo está terminado, tudo foi feito.
Hoje, contudo, esse extremo e esse fim passa por chegar às nossas extremidades, aos nosso fins, ao mais baixo, aos nossos membros inferiores, aos pés, que Jesus lava com carinho e amor.
Ao descer até ao mais baixo, ao que é menos digno e menos nobre em nós, Jesus faz-se servidor de todos nós, o mais humilde dos servos, aquele que de facto pode salvar e pode curar porque é capaz de ir ao mais profundo, ao mais ínfimo, ao mais baixo.
Foi até aí, até essa imensidão de baixeza que o Senhor Jesus desceu, e até onde nos amou e onde ainda hoje não deixa de nos amar. Jesus veio salvar o homem inteiro, da cabeça aos pés.
E se Jesus, o Filho do Homem, verdadeiro homem, é a cabeça sobre a qual escorre o azeite da unção real e divina, derramado pela pecadora, também cada um de nós, nestes pés lavados por Jesus, é assumido nessa unção real e divina.
Afinal nada da pessoa humana fica de fora no mistério da encarnação e redenção de Jesus, nada nem ninguém, porque Jesus tudo assumiu e tudo quis resgatar da morte.
Neste gesto de humildade e entrega total, de disposição amorosa, Jesus deixa-nos o exemplo e o apelo para que também nós o sigamos, para que também nós não deixemos nem os nossos membros inferiores, nem aqueles menos dignos fora do dinamismo da salvação.
O Senhor deixa-nos o exemplo do serviço, da entrega, da disponibilidade para nos colocarmos aos pés uns dos outros, para resgatar da fragilidade e da marginalização, da exclusão tudo o que foi criado por Deus e resgatado por Jesus.
Se verdadeiramente só Deus salva, só Deus nos pode lavar os pés dos nossos pecados e da nossa fragilidade, o nosso amor fraterno e o nosso serviço, a nossa disponibilidade, pode contribuir a essa salvação, pode ajudar a abrir as portas ao acolhimento da salvação e do salvador.
No seguimento de Jesus, como verdadeiros discípulos, procuremos pois num mesmo movimento de abaixamento, de humildade, chegar às nossas extremidades, aos nossos fins necessitados de conversão e aos nossos irmãos que necessitam ser lavados e erguidos da sua miséria e exclusão.
Que o Senhor nos ilumine e no fortaleça neste nosso desejo e na nossa humildade.

Ilustração: “Jesus lava os pés aos discípulos”, Mestre de Hausbuches, Gemaldegalerie, Berlim.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    No texto da Meditação que teceu e partilha recorda-nos como “Jesus amou os seus até ao fim, até ao extremo do impossível”. Como nos diz …” Jesus veio salvar o homem inteiro, da cabeça aos pés”, o ser humano, na sua unidade física e espiritual, sem excepções, com amor, compreensão, infinita misericórdia e perdão.
    Bem-haja por nos salientar que …” O Senhor deixa-nos o exemplo do serviço, da entrega, da disponibilidade para nos colocarmos aos pés uns dos outros, para resgatar da fragilidade e da marginalização, da exclusão tudo o que foi criado por Deus e resgatado por Jesus”.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, que nos dá força para continuarmos com humildade o nosso peregrinar, por nos enfatizar que …” Se verdadeiramente só Deus salva, só Deus nos pode lavar os pés dos nossos pecados e da nossa fragilidade, o nosso amor fraterno e o nosso serviço, a nossa disponibilidade, pode contribuir a essa salvação, pode ajudar a abrir as portas ao acolhimento da salvação e do Salvador”. …
    Que o Senhor o abençõe e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    Peço-lhe que me permita que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP.

    quinta-feira santa

    chegamos do deserto do nosso quotidiano/desolado, cego,/do espectáculo das pequenas mortes/
    que olhamos sem estremecimento nem remorso/pode a banalidade de chumbo do quotidiano/
    abrir-se ao fluxo estranho da luz e da memória/de todas as nossas quedas e esperanças?//

    pode a Palavra da Sarça reacender ainda/a Promessa do dom e da comunhão?/ e não são o pão
    e o vinho desta ceia//

    as figuras do dom extremo/daquele que morreu para testemunhar/da santidade e da Justiça de Deus?

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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