quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Senhor cooperava com eles. (Mc 16,20)

O Evangelho de São Marcos, cuja festa hoje celebramos, termina com estas palavras, “o Senhor cooperava com eles confirmando a Palavra com os sinais que a acompanhavam”.
É surpreendente a fé e a confiança de São Marcos, a revolução radical operada na concepção de Deus, que não se apresenta como um concorrente, como alguém estranho em competição, mas alguém próximo e cooperante. O Senhor cooperava com eles.
Ao partirem para anunciar a Boa Nova de Jesus, depois da ascensão ao céu, os discípulos não se sentem sozinhos, nem abandonados, unicamente entregues a si próprios e às suas capacidades limitadas.
Ao percorrerem os caminhos do mundo e ao enfrentarem os desafios do testemunho da sua fé em Jesus sentem-se acompanhados, sentem-se apoiados pelo mesmo Jesus que professam como Filho de Deus. O Senhor está com eles em todos os momentos.
Uma presença e uma cooperação que não eximem de saber fazer as coisas, de viver com radicalidade, de usar a inteligência e o discernimento para testemunhar a fé. A cooperação do Senhor não é como uma varinha mágica, não é um seguro ou pronto-socorro, ao qual se recorre quando as coisas não correm bem ou não se sabe como fazer. O Senhor é a vida e por isso é a inspiração, é a atitude, está presente nos gestos e nas palavras, vai à frente nos desafios, acompanha nos momentos de incerteza e fica como um selo que perdura na vida dos outros.
O Senhor é a inspiração no sentido do ar que se respira, do alento que anima, do oceano em que se movem e por isso está presente em tudo o que os discípulos fazem, ele configura pelo Espírito o espírito e a palavra dos discípulos que falam e agem já não por si mas por Cristo.
Como diz São Paulo “já não sou eu que vivo é Cristo que vive em mim”, Cristo faz-se presença em mim na medida da minha adesão à sua acção em mim, à minha intimidade transfigurante com ele.
Perguntamos muitas vezes como é que aqueles quase analfabetos discípulos conseguiram converter tanta gente, levar a Boa Nova de Jesus a tanto lado, e nós mal conseguimos tocar aqueles que vivem connosco, que partilham tantas dimensões da nossa vida.
Não sei se a resposta para a nossa ineficácia testemunhal não está na nossa falta de fé e confiança dessa presença de Jesus connosco, da sua cooperação connosco. Se colocarmos da nossa parte tudo o que é necessário, Deus não contribuirá com a sua parte?
Que o Senhor aumente a nossa fé e a nossa confiança na sua presença e na sua cooperação, e não nos desanime os resultados que não vemos, porque a uns cabe semear, a outros regar e a outros colher, e como nos revela Jesus a sua Palavra não volta sem ter produzido os seus frutos.
Anunciemos portanto em palavras e em obras a Palavra, o mesmo Senhor Jesus Filho do Homem e Filho de Deus.

Ilustração: “Jesus e os Apóstolos”, Tiffany Glass and Decorating Company 1890, na Galeria Richard H. Driehaus, Chicago.

3 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    No dia em que celebramos a festa de São Marcos Evangelista, o texto da Meditação que teceu e que ilustrou com um vitral tão belo e inspirador da cooperação e da fraternidade entre Jesus e os Apóstolos, coloca-nos algumas questões sobre a Evangelização que nos desinstalam, objecto de reflexão a vários níveis, sobre as quais cada um de nós vimos reflectindo, com as nossas limitações, sem encontrar as respostas adequadas e que permanecem.
    Como nos salienta ...” Ao partirem para anunciar a Boa Nova de Jesus, depois da ascensão ao céu, os discípulos não se sentem sozinhos, nem abandonados, unicamente entregues a si próprios e às suas capacidades limitadas. (…)
    O Senhor é a inspiração no sentido do ar que se respira, do alento que anima, do oceano em que se movem e por isso está presente em tudo o que os discípulos fazem, ele configura pelo Espírito o espírito e a palavra dos discípulos que falam e agem já não por si mas por Cristo.”…
    Façamos nossas as palavras de Frei José Carlos e peçamos ….” ao Senhor que aumente a nossa fé e a nossa confiança na sua presença e na sua cooperação, e não nos desanime os resultados que não vemos, porque a uns cabe semear, a outros regar e a outros colher, e como nos revela Jesus a sua Palavra não volta sem ter produzido os seus frutos”.
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, pela importância, pela actualidade do tema que aborda e pela esperança que nos deixa. Que o Senhor ilumine e guarde o Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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  2. “Perguntamos muitas vezes como é que aqueles quase analfabetos discípulos conseguiram converter tanta gente, levar a Boa Nova de Jesus a tanto lado, e nós mal conseguimos tocar aqueles que vivem connosco, que partilham tantas dimensões da nossa vida.”

    Não creio que o povo daquele tempo tivesse sido facilmente convertido, mas aconteceu aos apóstolos, algo que não aconteceu com os outros homens: inicialmente eram homens com vida normal, família, profissão. Agora passaram a caminhar com Jesus, vivendo com Ele, seguindo-O por toda a parte. Vão ser lentos em crer, prontos a deformar, vagarosos em levar a Palavra e testemunharão por escrito de um modo um pouco imperfeito a actividade de Jesus mas depois do Pentecostes, foi-lhes concedida a capacidade de reproduzir a história de Jesus com outra dimensão. Num tempo tão próximo dos acontecimentos, as multidões e os povos aperceberam-se de que algo era possível.
    Antes de Jesus Cristo, Deus nunca se tinha feito tão humilde, tão humano, tão escondido na vida (no Antigo Testamento revelava-se muito através dos Profetas e de sinais). Era algo tão novo que nem os Judeus com todo o Antigo Testamento conseguiram compreendê-lO. Algo tão novo que só vendo e tocando de perto o próprio Cristo, convivendo com Ele, podia dar-se um estalo na mente do povo para compreender na Sua identidade e a Sua missão. É preciso ser extremamente sóbrio, é preciso “apagar-se” para poder entrar no espírito do Evangelho, para ver a multidão como Jesus a via e tudo isto é sempre necessário quando queremos dizer alguma coisa a alguém, alguma coisa que o toque profundamente.
    O que acontece hoje, Frei José Carlos é facilmente dedutível no meio que nos rodeia, como no próprio seio familiar, entre sobrinhos, primos, ou com os próprios amigos, onde nos apercebemos que é absurdo exigir a compreensão da Boa Nova quando praticamente não sabem nem se interessam pela vida de Jesus, do que Ele veio fazer, ou para quem Jesus e um Santo António são quase a mesma coisa. Contudo, é a esperança maior que permanece,porque de facto “ sua Palavra não volta sem ter produzido os seus frutos.”, porque é uma Palavra de Luz que mexe com o interior, que confunde e que faz questionar e tudo isto é preferível à indiferença porque esta é que impede realmente qualquer tipo de encontro.

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  3. Concordo com a análise de M.

    Maria José Silva

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