quarta-feira, 18 de abril de 2012

Quem pratica a verdade aproxima-se da luz (Jo 3,21)

As palavras de Jesus “quem pratica a verdade aproxima-se da luz” colocam-nos face a face com uma realidade que escapa aos nossos parâmetros e concepções habituais, ou seja, que a verdade tem uma dimensão de practicidade que na medida em que é exercida nos aproxima da luz.
Estamos assim em processo, numa caminhada, em peregrinação, num movimento que nos aproxima da luz enquanto praticantes da verdade. A vida cristã, a fé, coloca-nos no caminho em sentido e direcção a Deus, ao encontro da verdade última que buscamos.
E em cada dia a Palavra de Deus nos livros do Antigo Testamento, nos Evangelhos e Epistolas desperta-nos, confirma-nos ou coloca-nos em causa nesse mesmo caminhar.
A Palavra de Deus tem esse efeito acutilante de não nos deixar permanecer na mesma situação e nos mesmos dados, como se tivéssemos chegado ao fim. Há sempre mais, há sempre necessidade de partir, de despertar, de aferir do caminhado e do que ainda falta caminhar.
Como dizia Santa Catarina de Sena, quanto mais aprofundamos no mistério de Deus, na verdade, e nos aproximamos da luz, mais necessidade e desejo sentimos de aprofundar, há uma sede em nós que se torna ainda mais viva.
Por isso, quando alguém se interroga sobre a monotonia da vida cristã, e muito particularmente da vida monacal e conventual, a resposta que se encontra nos irmãos e irmãs que optaram por uma vida de clausura, é que não existe monotonia, não existe fastio nem aborrecimento em fazer sempre o mesmo, porque o mesmo, as rotinas, são sempre portos de chegada e praias de partida, movimentos encadeados do grande movimento em direcção a Deus.
Em cada dia necessitamos escolher de novo, praticar a verdade e colocarmo-nos ou recolocarmo-nos em aproximação à luz. Necessitamos fazer da luz uma opção sempre renovada e assumida, de modo a que possa desfazer as nossas trevas, os nossos medos e preguiças, o nosso imobilismo tão frequente.

Ilustração: “O que é a Verdade? Cristo e Pilatos”, de Nicolaj Nicolajewitsch Ge, Galeria Tretyakov, Moscovo.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu e partilha é profundo, belo e maravilhosamente ilustrado. Ao citar as palavras de Jesus “quem pratica a verdade aproxima-se da luz”, recorda-nos que “a verdade tem uma dimensão de practicidade que na medida em que é exercida nos aproxima da luz”.
    Ao assumirmos o projecto de Deus, como nos salienta …” A vida cristã, a fé, coloca-nos no caminho em sentido e direcção a Deus, ao encontro da verdade última que buscamos. E em cada dia a Palavra de Deus nos livros do Antigo Testamento, nos Evangelhos e Epistolas desperta-nos, confirma-nos ou coloca-nos em causa nesse mesmo caminhar. (…)
    (…)Há sempre mais, há sempre necessidade de partir, de despertar, de aferir do caminhado e do que ainda falta caminhar.”…
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, por nos lembrar que … “em cada dia necessitamos escolher de novo, praticar a verdade e colocarmo-nos ou recolocarmo-nos em aproximação à luz. Necessitamos fazer da luz uma opção sempre renovada e assumida, de modo a que possa desfazer as nossas trevas, os nossos medos e preguiças, o nosso imobilismo tão frequente”.
    Jesus, luz do mundo, ajudai-nos a ser solidários, a praticar a justiça e a participar na construção da paz.
    Peçamos ao Senhor que o abençõe e o guarde. Continuação de uma boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me, Frei José Carlos, que volte a partilhar um poema de Frei José Augusto Mourão, OP

    caminho, verdade e vida

    Deus, tu és o Caminho, a Verdade e a Vida/que se dão as mãos/porque a verdade do caminho
    é a vida que a tece/e a engloba, aberta/e é a polifonia da ternura que acorda os caminhos/
    e age e cura a vida//

    tu és o caminho que precede todos os caminhos,/a visitação do corpo/no que o corpo esquece,/
    o nunca visto da paz e da alegria//

    dá a este corpo que o teu dom reúne/um instante de fome e de aflição/para que deste tempo-fora-do tempo/
    se erga a verdade dos caminhos/da nossa vida e do nosso louvor,/Deus que vens em Jesus Cristo/
    e no Espírito que nos ensina a rezar.

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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