Ao colocar diante de nós, nesta entrada da Semana Santa, o episódio da unção dos pés de Jesus por Maria, irmã de Lázaro, a liturgia da Igreja convida-nos a contemplar a gratuidade e a abundância do dom, o aparente desperdício, mas que significa o dom total, a entrega da vida sem reservas por Jesus.
Para celebrar a ressurreição de Lazaro é oferecido em sua casa um jantar, faz-se uma festa na qual Lazaro também está presente como sinal da vida que Jesus pode dar. Nessa festa Maria toma uma libra de perfume de nardo puro e derrama-o sobre os pés de Jesus, permitindo que a casa se encha do perfume do bálsamo derramado.
É evidente o gesto gratuito, bem como o exagero, aquilo que Judas considera como um desperdício, pois o dinheiro dispendido naquele perfume podia ser usado para alimentar os pobres.
Contudo, o desperdício e a desproporção são aprovados por Jesus, são reconhecidos como um sinal da sua morte e do seu dom total. O perfume que Maria usa em Jesus é uma antecipação da sua morte, um sinal da sua morte próxima, mas é igualmente um sinal do dom total que vai acontecer.
Por isso o perfume inunda toda a casa porque o gesto de Maria é um gesto de amor que não só atinge Jesus mas também todos os presentes, tal como o dom de Jesus também alcançará todos os habitantes da casa que é o mundo. Ninguém será excluído, ninguém deixará de ser atingido e por isso a presença de Lázaro como prefiguração de tal alcance.
Esta unção, como loucura amorosa, prefigura e anuncia aquele momento em que Jesus também lavará os pés aos seus discípulos, pois é o mesmo amor e a mesma desmedida que está presente num e noutro momento, num e noutro abaixamento aos pés daqueles que se amam.
Nesta Segunda-feira Santa somos assim convidados a contemplar e a assumir o dom total do amor de Jesus, um dom que se expande, se difunde por toda a humanidade, e tal como Maria a embeber aí os nossos cabelos da volúpia e do pecado para que possam absorver a essência do perfume e ser transformados por ela.
Que nesta Semana Santa a contemplação dos mistérios da Paixão de Jesus nos ajude a assumir o dom que nos é oferecido, e a viver alegremente a liberdade que esse mesmo dom nos proporciona,
Ilustração: “A unção de Betânia”, por Jean Fouquet, Livro de Horas de Étienne Chevalier, Museu Condé
Frei José Carlos,
ResponderEliminar«A casa encheu-se com a fragrância do perfume.» O texto da Meditação que partilha connosco recorda-nos de forma profunda e muito bela que o gesto de Maria, irmã de Marta e Lázaro, ao ungir os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, enxugando-os depois com os cabelos, atitude contestada por Judas mas aprovada por Jesus, significa o “dom total, a entrega da vida sem reservas por Jesus”.
Mas Frei José Carlos vai mais longe e salienta-nos que …” O perfume que Maria usa em Jesus é uma antecipação da sua morte, um sinal da sua morte próxima, mas é igualmente um sinal do dom total que vai acontecer (…) de que “ninguém sera excluído”, e …” prefigura e anuncia aquele momento em que Jesus também lavará os pés aos seus discípulos, pois é o mesmo amor e a mesma desmedida que está presente num e noutro momento, num e noutro abaixamento aos pés daqueles que se amam.” …
Bem-haja pelo convite que nos deixa. “Nesta Segunda-feira Santa somos assim convidados a contemplar e a assumir o dom total do amor de Jesus, um dom que se expande, se difunde por toda a humanidade, e tal como Maria a embeber aí os nossos cabelos da volúpia e do pecado para que possam absorver a essência do perfume e ser transformados por ela.”
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, muito bela. Que o Senhor o abençõe e proteja.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva