sexta-feira, 20 de abril de 2012

Um rapazito com cinco pães e dois peixes (Jo 6,9)

Jesus sobe ao monte e uma multidão vem ter com ele, uma multidão que sobe e se aproxima de mãos vazias, uma multidão ávida e desorientada, como um rebanho sem pastor.
A preocupação nasce nos discípulos e Filipe não se coíbe de a exprimir quando responde à pergunta do Mestre sobre a forma de alimentar aquela multidão: “Duzentos denários não chegarão para dar uma migalha a cada um”.
Contudo, Jesus sabia o que iria fazer, Jesus sabia qual era a verdadeira fome daquela gente e porque trepavam ao monte para o encontrar. Aquela multidão tinha de facto fome, mas o seu alimento não estava ao alcance nem do ouro nem da prata.
É um rapazito, um desconhecido, um pobre, que tem o alimento, cinco pães e dois peixes, uma insignificância face àquela multidão, mas o suficiente para com amor alimentar e ainda encher doze cestos.
Não podemos deixar de ver neste rapazito a pessoa de Jesus e o mistério da sua encarnação, a sua pobreza feita oferta, o dom da sua vida, o Filho do Homem pelo qual não dão nada, não oferecem nenhum reconhecimento para além da servidão à necessidade momentânea, mas que na sua pobreza e pequenez é capaz de se fazer alimento e alimentar. E com tão pouco, apenas cinco pães e dois peixes.
Este rapazito convida-nos a apresentar igualmente a nossa pobreza, os nossos parcos e fracos recursos, a nossa insignificância, porque ao fazê-lo estamos a colocar-nos na peugada de Jesus, a assumir a sua aniquilação e a sua oferta para que os outros se pudessem alimentar.
Jesus não nos pede muito, ou se calhar até nos pede muito ao pedir-nos tudo, como os cinco pães e dois peixes daquele rapazito, mas tal pedido acarreta consigo a possibilidade da multiplicação e portanto a abundância, doze cestos de pedaços que não se podem desperdiçar.
Quem deixar casas, terras, família por minha causa receberá cem vezes mais e quem disponibilizar o pouco que tenha verá o fruto da sua oferta multiplicado.
Que a promessa de Jesus e o testemunho dos doze cestos que sobraram nos incentivem e encorajem a entregar tudo o que o Senhor necessitar para alimentar a multidão com fome.

Ilustração: “Cristo alimentando as multidões”, de Bernardo Strozzi, Museu Pushkin, Moscovo.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu sobre a “multiplicação dos pães” recorda-nos com profundidade o significado da generosidade, da partilha, da confiança em Jesus.
    Como nos salienta ...” não podemos deixar de ver neste rapazito a pessoa de Jesus e o mistério da sua encarnação, a sua pobreza feita oferta, o dom da sua vida, o Filho do Homem pelo qual não dão nada (…) o qual convida-nos a apresentar igualmente a nossa pobreza, os nossos parcos e fracos recursos, a nossa insignificância, porque ao fazê-lo estamos a colocar-nos na peugada de Jesus, a assumir a sua aniquilação e a sua oferta para que os outros se pudessem alimentar”. …
    A leitura do texto da Meditação levou-me a reflectir de novo nos tempos que vivemos, no outro, próximo ou distante, faminto ou não fisicamente mas essencialmente com uma grande fome espiritual, faminto e sedento de Deus. Como fazer, cada um de nós, nas suas vivências e limites, para que a situação se modifique, Frei José Carlos, é esta a questão que coloco se me permite.
    Que o excerto do Evangelho do dia de hoje e a Meditação que partiha connosco nos sirvam de alento e esperança.
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras de estímulo e de coragem que nos dirige. Que o Senhor o abençõe e proteja.
    Votos de um bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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