terça-feira, 3 de abril de 2012

Senhor, para onde vais? (Jo 13,36)

Estamos em pleno contexto da celebração da última ceia de Jesus com os discípulos, uma ceia em que o amor de Jesus se manifesta de sobremaneira nesse gesto de lavar os pés aos discípulos, de lhes oferecer o pão e o vinho como o seu corpo entregue por amor.
É um momento de despedida, pois Jesus tem conhecimento e consciência de tudo o que o espera, das traições e infidelidades daqueles mesmos que ali estão e partilham com ele a refeição da Páscoa, e por isso deixa-lhes as últimas recomendações, as últimas palavras para que possam compreender e resistir a tudo o que se vai suceder.
E no entanto os discípulos não percebem nada, não são capazes de ver, cegados ainda pelos interesses mundanos e de poder. E por isso a pergunta de Pedro “Senhor para onde vais?”
Rodeado daqueles que ama, Jesus vê-se confinado à sua solidão, a essa solidão que apenas o Pai partilha e vive igualmente, porque os seus discípulos, aqueles que ama, não são capazes de dar um passo mais, eles querem seguir o Mestre mas não sabem como.
Jesus encontra-se assim sozinho face à sua missão e por isso não se estranha que no momento da sua prisão no jardim das oliveiras todos fujam, todos desapareçam, deixando-o sozinho com aqueles que o prendem.
É verdade que o seguirão de longe, confrontados com a sua traição e com o abandono, porque de facto não lhes era possível mais. Ainda lhes faltava o poder e a força do Espírito para enfrentar todos os desafios, para poderem dar a vida como Jesus a dava.
Estranha ceia em que se joga a traição, a perda e a solidão enquanto se manifesta a entrega de amor, se define uma presença que permitirá a todo o homem jamais sentir-se só, abandonado ou traído.
Na sua solidão e na traição dos amigos Jesus deixa aos homens a sua presença eterna, o seu amor entregue sob a forma de alimento, o seu corpo e o seu sangue, Eucaristia.
Senhor para onde vais? Para onde ninguém mais pode seguir, para uma presença eterna, ilimitada, transfigurada, acessível a todos.
Poderemos seguir-te? Talvez um pouco e aos poucos na medida em que nos alimentarmos do acesso que nos abres, do teu Corpo e do teu Sangue que nos transfigura em Ti.

Ilustração: “Última Ceia”, de Nikolaj Nikolajewitsch Ge, Museus da Rússia.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Como nos diz no texto da Meditação que teceu e partilha connosco, Jesus entrega-Se aos discípulos numa “ceia em que o amor de Jesus se manifesta de sobremaneira nesse gesto de lavar os pés aos discípulos, de lhes oferecer o pão e o vinho como o seu corpo entregue por amor, que não conseguem compreender as últimas palavras de Jesus, deixando-O sozinho com aqueles que o prendem”.
    Como nos salienta …” Estranha ceia em que se joga a traição, a perda e a solidão enquanto se manifesta a entrega de amor, se define uma presença que permitirá a todo o homem jamais sentir-se só, abandonado ou traído.” …
    Bem-haja, Frei José Carlos, por terminar o texto da Meditação de forma tão profunda, espiritual, ao colocar-nos a pergunta, …” Poderemos seguir-te? exortando-nos e encorajando-nos, deixando uma janela aberta: “Talvez um pouco e aos poucos na medida em que nos alimentarmos do acesso que nos abres, do teu Corpo e do teu Sangue que nos transfigura em Ti”.
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha, pelo estímulo, pela força, pela esperança que deixa a muitos de nós. Que o Senhor o ilumine e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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