Uma das questões que
habitualmente se coloca quando nos debruçamos sobre a exclaustração das Ordens
Religiosas é o que aconteceu aos frades e religiosos que de um dia para o outro
se viram obrigados a abandonar os seus conventos.
Muitos passaram ao
anonimato, desapareceram quase sem deixar história, outros no entanto
envolveram-se na história e hoje podemos fazer um pequeno retracto das suas vidas.
Nestas circunstâncias encontra-se frei João Xavier de Sousa e Trindade,
certamente desconhecido de muitos de nós, mas que por mero acaso me veio parar
às mãos.
Segundo o que se encontra
na grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira João Xavier de Sousa e Trindade
nasceu em 1801 em Assagão de Bardez, India. Bramane de nascimento foi educado
na fé católica e ainda bastante jovem entrou no convento de São Domingos de Goa.
Ali e no Colégio de
São Tomás teria realizado a sua formação e começado a sua carreira, pois como
diz num discurso parlamentar em 1840 estudou e ensinou filosofia e teologia,
tendo alcançado os graus de Mestre e Doutor
Em 1825 e 1827 assina
como Prior os termos de abertura dos Livros de Rendas e Receitas do Colégio de
São Tomás de Goa, o que a fazer fé na data de nascimento teria ocupado os
lugares de governo muito jovem.
Em 1836 encontra-se em
Macau há já alguns anos, e por uma refutação que faz devido a críticas da sua administração
do Convento de São Domingos de Goa e do Colégio publicadas no jornal Crónica de
Macau, percebemos que teria ocupado também aquele lugar de governo.
Com a extinção das
Ordens e encerramento dos conventos frei João Xavier regressa a Goa, onde em
Abril de 1839 é eleito deputado às Cortes pelo Estado da India. No ano seguinte
está em Lisboa e a 25 de Março ocupa o seu lugar na bancada parlamentar do
partido do governo ao lado do advogado António Caetano Pacheco, enquanto os outros
representantes do estado da India se sentavam na bancada da oposição.
A sua participação na
Assembleia Legislativa teve alguma importância na medida em que não só defendeu
o envio da informação legislativa para todas as câmaras das colónias, mas
também a constituição de Códigos legislativos que tivessem em conta as
particularidades de cada colónia e seus habitantes.
Nesta passagem por
Lisboa frei João Xavier é apresentado para bispo e assim quando D. Maria II o
nomeia Conselheiro Real em 1843 é já tratado por D. João Xavier na Carta de
Mercê. Em 1844 a mesma rainha apresenta-o para Bispo de Malaca.
Com a conclusão dos
trabalhos do Parlamento D. frei João Xavier regressa a Goa onde novamente se
envolve na política através do partido do Conde de Tomar, o que o traz pela
segunda vez a Lisboa como representante do Estado da India às Cortes.
Em 1848 não é reeleito
como deputado, apesar das suas expectativas e da Comenda da Ordem de Cristo
entregue pela rainha. Contudo, não regressa a Goa e mantém-se em Lisboa onde
publica um pequeno opúsculo em 1849 intitulando-se bispo de Malaca, Solor e
Timor.
Em 1856 é nomeado
prelado para Moçambique, mas não parte de Lisboa, pois encontra-se a residir na
Travessa da Pereira à Graça em 1861 de acordo com o Almanaque do Clero do
Patriarcado desse mesmo ano.
Até à sua morte,
ocorrida a 22 de Janeiro de 1864, pouco mais sabemos da sua vida, mas deve
certamente ter continuado a frequentar os círculos políticos pois é sócio da
Associação Marítima e Colonial de Lisboa, onde publica alguns artigos no
Boletim da Associação.
Fica assim um pouco
mais conhecida a história dos egressos dominicanos portugueses e da India.
Ilustração: Capela de Nossa Senhora do Monte em Goa.
Ilustração: Capela de Nossa Senhora do Monte em Goa.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarFoi com interesse que li o texto que elaborou sobre D.João Franscisco Xavier de Sousa e Trintade, Dominicano da India, o desempenho relevante que teve relativamente “às particularidades de cada colónia e seus habitantes”, entre outras contribuições. A questão que coloca “sobre a exclaustração das Ordens Religiosas e o que aconteceu aos frades e religiosos que de um dia para o outro se viram obrigados a abandonar os seus conventos” é pertinente. São sempre momentos conturbados e de muito sofrimento e alguns de nós conhecemos situações vividas em períodos mais recentes, no século passado, com a implantação da I República, nos momentos mais radicais do pós 25 de Abril. Se me permite, este texto levou-me a pensar noutras situações em que os frades e religiosos de forma livre decidem deixar a vida religiosa em que a “integração” na sociedade é bem sucedida e como as duas faces de uma moeda, noutros casos, de forma problemática. Todos conhecemos particularmente no período pós-Concílio Vaticano II e provavelmente na actualidade exemplos das várias situações.
O importante é a coerência dos princípios e dos actos. O receio do desconhecido é sempre mau conselheiro. Nas diversas opções de vida que fazemos, há para alguns de nós, momentos de dúvida. Jesus Cristo, como Frei José Carlos, tem-nos recordado não obriga, convida, o encontro ou o reencontro com Jesus pode sempre acontecer. Buscamos o Filho de Deus, mas Jesus está sempre vigilante. A fé, a confiança, a perseverança são determinantes.
Que o Senhor nos ilumine e nos ajude a escolher os melhores caminhos. Que o Senhor o abençoe e proteja.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
Excelente texto apesar de não considerar Goa como Índia e sim como Índia Portuguêsa. Os Goeses são portugueses.
ResponderEliminar"D. Fr. João Xavier da Trindade e Sousa" foi eleito Deputado "pelos Eleitores do collegio eleitoral da província destas ilhas se Timor e Solor", conforme acta "Dada nesta Praca de Delly, capital das referidas ilhas, em 26 de Abril de 1844".
ResponderEliminar