Não podemos deixar de
assumir que gostamos de ser preferidos, que não gostamos de ficar em segundo
lugar ou num papel secundário. Em muitas situações da nossa vida os conflitos,
as mágoas, os ressentimentos derivam dessa sensação de termos sido preteridos,
de ter havido alguém que foi preferido mais que nós.
Em muitas histórias
esta situação, este complexo, acompanha-nos desde a infância como uma cicatriz
de um acidente em que nos confrontámos com a realidade de não ser amados, de
não ser plenamente amados, ou amados como esperávamos. E quantas vezes essas
feridas não são apenas marcas e memórias do nosso egoísmo ou egocentrismo?
No amor humano o
simples facto de não ser preferido, de ter sido dada mais atenção a um outro
que a nós, quantas vezes não representa uma exclusão, uma sensação de abandono
que fere esse nosso gosto de ser o centro de todas as atenções.
Jesus diz aos seus discípulos
e à multidão que se alguém não o preferir mais que o pai, a mãe ou os irmãos
não pode ser seu discípulo. Jesus parece que pede a radicalidade e a
exclusividade, como se fosse uma criança mimada.
Contudo, face ao
mandamento do amor que nos deixou como podemos entender este pedido, esta
exclusividade? Como compreender a necessidade de deixar tudo e todos por Jesus,
para ser seu discípulo? Como compaginar o convite ao amor do próximo, e os mais
próximos são ainda a nossa família, como esta preferência por Jesus?
Não podemos deixar de
responder que o pedido de Jesus segue na linha da radicalidade do amor, da
compreensão de todos os afectos, de todo o carinho, como fundamentados e
alicerçados no amor divino. Deus é a fonte do amor e todo o amor deve dela
partir.
Desta forma o meu
amor, o meu carinho, a minha amizade deixarão de estar centrados em mim,
deixará de ser egoísta e apropriante, para ser uma manifestação do verdadeiro amor
que nos precede e nos vivifica. A partir da preferência por Jesus e à luz da
sua vida e do seu amor, o meu amor será iluminado, terá outro brilho e outra
dimensão.
Que o Espirito Santo
nos ajude a descobrir como a preferência por Jesus nos liberta e nos faz viver
de uma forma mais plena e verdadeira o amor por que todos aspiramos.
Ilustração: “A jarra
partida”, de Gustava Igler, Dorotheum, Viena.
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