quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Se alguém não me preferir (Lc 14,25)

Não podemos deixar de assumir que gostamos de ser preferidos, que não gostamos de ficar em segundo lugar ou num papel secundário. Em muitas situações da nossa vida os conflitos, as mágoas, os ressentimentos derivam dessa sensação de termos sido preteridos, de ter havido alguém que foi preferido mais que nós.
Em muitas histórias esta situação, este complexo, acompanha-nos desde a infância como uma cicatriz de um acidente em que nos confrontámos com a realidade de não ser amados, de não ser plenamente amados, ou amados como esperávamos. E quantas vezes essas feridas não são apenas marcas e memórias do nosso egoísmo ou egocentrismo?
No amor humano o simples facto de não ser preferido, de ter sido dada mais atenção a um outro que a nós, quantas vezes não representa uma exclusão, uma sensação de abandono que fere esse nosso gosto de ser o centro de todas as atenções.
Jesus diz aos seus discípulos e à multidão que se alguém não o preferir mais que o pai, a mãe ou os irmãos não pode ser seu discípulo. Jesus parece que pede a radicalidade e a exclusividade, como se fosse uma criança mimada.
Contudo, face ao mandamento do amor que nos deixou como podemos entender este pedido, esta exclusividade? Como compreender a necessidade de deixar tudo e todos por Jesus, para ser seu discípulo? Como compaginar o convite ao amor do próximo, e os mais próximos são ainda a nossa família, como esta preferência por Jesus?
Não podemos deixar de responder que o pedido de Jesus segue na linha da radicalidade do amor, da compreensão de todos os afectos, de todo o carinho, como fundamentados e alicerçados no amor divino. Deus é a fonte do amor e todo o amor deve dela partir.
Desta forma o meu amor, o meu carinho, a minha amizade deixarão de estar centrados em mim, deixará de ser egoísta e apropriante, para ser uma manifestação do verdadeiro amor que nos precede e nos vivifica. A partir da preferência por Jesus e à luz da sua vida e do seu amor, o meu amor será iluminado, terá outro brilho e outra dimensão.
Que o Espirito Santo nos ajude a descobrir como a preferência por Jesus nos liberta e nos faz viver de uma forma mais plena e verdadeira o amor por que todos aspiramos.
 
Ilustração: “A jarra partida”, de Gustava Igler, Dorotheum, Viena.   

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