quinta-feira, 28 de novembro de 2013

A vossa libertação está próxima! (Lc 21,28)

Ao termos presentes os dados históricos e circunstanciais em que Jesus anuncia a destruição de Jerusalém e do seu templo, este anúncio não nos soa estranho, mas bem pelo contrário, aparece-nos como uma constatação de alguém muito atento à realidade.
O país e a cidade estavam ocupados e sob o jugo do império romano, a exploração e a violência era cada vez maior, e da parte do povo havia uma revolta interior, um desejo de libertação que por vezes explodia em movimentos radicais de guerrilha e subversão.
Presentes estes dados era fácil perceber que mais dia menos dia, mais ano menos ano, a situação se tornaria explosiva, conflituosa até ao ponto de um dos oponentes ter que ser completamente eliminado. A força e o poder militar romano levaram a melhor e foi Jerusalém que foi destruída pelas tropas de Tito no ano setenta.
Face a esta perspectiva do futuro, Jesus aponta um outro caminho, uma solução que conduzirá a uma outra revolução, muito mais significativa e transformadora das realidades. Face à possibilidade da violência Jesus oferece a paz, a concórdia, o convite a erguer a cabeça porque a libertação está próxima.
Não se trata já de aniquilar o outro, mas de perceber em nós e no outro uma dignidade que nos ergue, que nos distingue e identifica. Somos ambos filhos do mesmo Deus e portanto é no respeito mutuo, na colaboração reciproca para o crescimento pleno, que podemos alcançar a nossa dignidade como homens.
A libertação não é assim uma acção exterior, o fruto de uma luta violenta, mas um estado interior, uma realidade que nos habita e portanto está mais próxima de nós que os nossos próprios gestos de libertação.
No momento social e histórico em que vivemos, fragmentado por tentativas de libertação de um jugo económico que nos oprime, não podemos esquecer que essa libertação está no nosso interior, começa na dignificação de cada um e de todos, e que necessitamos urgentemente de ideias, mais que palavras.
Como diz Goethe “tende-se a colocar muitas palavras onde faltam as ideias”, e se as palavras já nos cansaram, é urgente recuperar a ideia da dignidade do homem e da mulher, a dignidade do trabalho como forma de colaboração humana na obra divina.
Necessitamos erguer-nos, erguer-nos como Filhos de Deus, uma vez que a libertação habita já dentro de nós no valor divino de cada homem e mulher que somos.

 
Ilustração: “Macabeus”, de Wojciech Stattler, Museu Nacional de Cracóvia.

 

2 comentários:

  1. Tenhamos sempre esta força de nos erguermos conscientes da nossa dignidade de Filhos de Deus.
    Inter Pars

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  2. Caro Frei José Carlos,

    Li e reli o texto da Meditação que elaborou e que é intemporal. Esquecemos a História, mesmo os acontecimentos políticos e económico-sociais mais recentes dos finais do século passado, princípios de 2000. O que acontecera na Argentina não nos dizia aparentemente respeito ... . A Grécia fica longe, ainda que na Europa, a mancha de óleo não nos atingia..., e quando ouvíamos falar dos Gregos esquecíamos a importância histórica dos mesmos para a civilização ocidental, qual povo virtual, com uma imagem deformada e os acontecimentos que nos eram publicitados para um tal estado de coisas eram-nos alheios, estranhos ... Afinal, Portugal sempre fora tão bom aluno para a Europa, digo União Europeia, cumpridor, aceitando tudo, sem referendar a entrada ... Centrados em nós próprios, não percebemos que outros, os desenvolvidos, o grupo dos líderes, seriam arrastados para a queda. Era somente uma questão de tempo, se não unissemos esforços. Ciente que contribuímos directa ou indirectamente para parte da situação a que chegámos, só à medida que fomos sendo atingidos na nossa dignidade enquanto homens e mulheres de cabeça erguida, pudemos finalmente compreender o jugo a que estávamos submetidos... E, se não nos foi dado conhecer oportunamente a verdade dos factos, estamos fartos de palavras, independentemente da forma que assumem e dos actores que as transmitem! Como afirma, ...”não podemos esquecer que essa libertação está no nosso interior, começa na dignificação de cada um e de todos, e que necessitamos urgentemente de ideias, mais que palavras e que é urgente recuperar a ideia da dignidade do homem e da mulher, a dignidade do trabalho como forma de colaboração humana na obra divina”. … Precisamos de ideias que levem à acção, à mudança, a outras soluções construtoras de uma nova realidade, consequentes.
    Grata, Frei José Carlos, pela oportunidade e importância das palavras partilhadas, pela força que nos transmite, por levar-nos a ultrapassar a mesquinhez, o esgoísmo, a usura, a injustiça que nos atinge, que vivemos quotidiamente, por exortar-nos a acreditar que …”a libertação habita já dentro de nós no valor divino de cada homem e mulher que somos”. Bem-haja.
    Que o Senhor o cumule de graças.
    Um abraço fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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