sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Sabei que está próximo o Reino de Deus. (Lc 21,32)

Ao aproximar-se o término de mais um ano litúrgico as leituras apontam-nos a realidade do Reino de Deus, o momento da vinda do Reino de Deus.
E sem que nos demos conta vamos protelando a concretização desse Reino para um tempo futuro, vamos projectando o Reino para um tempo indistinto, para uma meta história em que já não contamos participar.
Contudo, e apesar da linguagem apocalíptica e as referências escatológicas, não podemos deixar de ter bem presente que para Jesus a realidade do Reino acontece agora, o Reino está já presente entre os homens e de um modo muito significativo depois da incarnação do Verbo de Deus na história dos homens.
Não nos estranha assim que ao falar do Reino de Deus Jesus diga que ele está próximo, que aquela geração que é sua contemporânea é testemunha do acontecimento desse Reino, que tal como os brotes da figueira anunciam a chegada do verão também há sinais que indiciam a presença do Reino.
Mas se os homens não são capazes de reconhecer esse Reino, não são capazes de o perceber, tal deve-se ao facto de haver uma resistência intrínseca a qualquer definição. O Reino de Deus escapa à temporalidade e aos conceitos dos homens e por isso Jesus sempre se referiu a ele por parábolas. O Reino de Deus é semelhante a qualquer coisa, é semelhante aos brotes das árvores que anunciam o verão.
Neste sentido, e tendo presente que Jesus fala da sua vinda, se refere à sua vinda ao meio dos homens, e não ao seu regresso futuro, temos que aceitar que o Reino acontece hoje, que o Reino não se define em conceitos mas se torna real e presente na nossa história e na nossa vida pelo acolhimento de Jesus, do Verbo do Pai feito carne por cada um de nós.
A nossa caridade, a nossa fidelidade, a luta pela justiça e pela verdade, o bem que procuramos fazer, todas as realidades que estão imbuídas do espirito de Jesus são assim indícios da presença do Reino, da sua progressiva realização.
Tendo presente uma expressão do frei José Augusto Mourão, que dizia que o Reino de Deus era um sintagma vazio, a nossa missão face ao Reino é assim de preenchimento do vazio, é de actualização da sua realidade nunca confinada e nunca terminada.
Procuremos pois acolher Jesus e pelos nossos gestos traduzir em realidades quotidianas o Reino que já é, está a ser e virá a ser em plenitude.

 
Ilustração:  Ícone de Jesus Cristo Pantocrator, Mosteiro Kizhi, Carélia, Rússia.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Grata,pela profunda partilha do Evangelho de São Lucas,que nos ajuda a reflectir mais profundamente.Como nos diz o Frei José Carlos, procuremos pois acolher Jesus e pelos nossos gestos traduzir em realidades quotidianas o Reino que já é,está a ser e virá a ser em plenitude.Obrigada,pelas palavras partilhada e pela beleza da ilustração.Bem-haja.
    Desejo-lhe um bom dia.Votos de um bom fim de semana.Que o Senhor o ilumine o guarde e o proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  2. Caro Frei José Carlos,

    No peregrinar da vida vamo-nos interrogando sobre a dimensão temporal do Reino de Deus, a participação de cada um de nós na sua construção, a respectiva vivência no quotidiano e no futuro. E, ainda que possa ser claro que é no presente que ele se constrói, ficamos perplexos perante a incoerência de muitos de nós entre a Palavra e a acção, o testemunho...
    Como nos salienta ...” tendo presente que Jesus fala da sua vinda, se refere à sua vinda ao meio dos homens, e não ao seu regresso futuro, temos que aceitar que o Reino acontece hoje, que o Reino não se define em conceitos mas se torna real e presente na nossa história e na nossa vida pelo acolhimento de Jesus, do Verbo do Pai feito carne por cada um de nós.
    A nossa caridade, a nossa fidelidade, a luta pela justiça e pela verdade, o bem que procuramos fazer, todas as realidades que estão imbuídas do espirito de Jesus são assim indícios da presença do Reino, da sua progressiva realização.”…
    Que o exemplo do Apóstolo S.André nos inspire e interceda por nós para que tenhamos a sabedoria e a vontade de participarmos na construção de um novo mundo, de paz, fraterno, mais solidário, justo.
    Grata, Frei José Carlos, pelo texto da Meditação que partilhou, oportuno, esclarecedor, pelo desafio que nos deixa para …” acolher Jesus e pelos nossos gestos traduzir em realidades quotidianas o Reino que já é, está a ser e virá a ser em plenitude.”
    Que o Senhor o abençoe e o guarde.
    Votos de um bom dia. Bom fim-de-semana.
    Um abraço fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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