domingo, 17 de novembro de 2013

Homília do XXXIII Domingo do Tempo Comum

O texto do Evangelho de São Lucas que acabámos de escutar dá-nos, através de uma breve referência, uma ideia da grandiosidade do templo de Jerusalém, um templo iniciado por Herodes o Grande e terminado no ano sessenta e três da nossa era.
No momento histórico em que decorre o acontecimento que São Lucas nos transmite, o templo estava já bastante adiantado, era já uma obra magnífica e esplendorosa que deixava todos os que subiam a Jerusalém verdadeiramente maravilhados. Era uma verdadeira obra-prima e uma glória não só para o rei mas para todo o povo.
O comentário de Jesus sobre a finitude dessa mesma obra e a precaridade dessa grandeza aparece assim como uma provocação, como uma blasfémia face ao conceito generalizado que tal grandiosidade era da vontade de Deus, era um sinal divino. O comentário aparece também como um atentado ao orgulho colectivo e por isso não admira que seja usado no momento do julgamento de Jesus como acusação para a sua condenação.
Mas, se as palavras de Jesus são de certa forma proféticas relativamente à vida do templo, que foi destruído sete anos depois de concluído, no ano setenta da nossa era, pelas tropas romanas do imperador Tito, elas são fundamentalmente uma chamada de atenção, um convite a perceber que tudo neste mundo é efémero, é passageiro, mesmo as obras mais grandiosas.
Ao dizer que daquela grandiosidade não ficaria pedra sobre pedra Jesus está a alertar os seus ouvintes, e cada um de nós que hoje escutamos o Evangelho, que os nossos sonhos e ilusões de poder, de glória, de fama e imortalidade terrestre são meramente sonhos e ilusões, são realidades passageiras que não passam disso mesmo. Há algo mais fundamental a que temos que prestar atenção.
Como acontece em muitos outros momentos do Evangelho, os ouvintes de Jesus não perceberam nada e face ao anúncio catastrófico do futuro interessaram-se inevitavelmente por querer saber como podiam discernir esse mundo de destruição de que Jesus falava, como podiam preparar-se para o fim do mundo.
Como era previsível Jesus não lhes respondeu, não lhes disse quais os sinais, bem pelo contrário, alertou-os para o cuidado a ter com esse desejo de saber e para as respostas pretensiosas que tantas vezes são oferecidas pelos profetas das desgraças.
Face às realidades que fazem parte e constituem este mundo em que vivemos, as catástrofes naturais como a que recentemente pudemos observar nas Filipinas, as guerras que se travam entre povos como na Síria, Jesus teve a coragem de lhes dar a sua verdadeira dimensão, de as apontar como realidades intrínsecas ao nosso sistema e à nossa condição e de as desmistificar da codificação apocalíptica habitual.
Os sinais do fim do mundo não se encontram assim na horizontalidade deste mundo, na dimensão natural e nas suas condições e leis constituintes, mas encontram-se num combate que nos transcende, num combate vertical de que Jesus é o primogénito como combatente e como vencedor.
Para Jesus se há algum sinal apocalíptico, algum sinal do fim do mundo, ele desenvolve-se e acontece na perseguição por causa do seu nome, acontece no facto de homens e mulheres serem odiados, perseguidos, maltratados por causa do seu nome.
Os sinais do fim do mundo jogam-se assim na fidelidade e na perseverança, acontecem na medida em que nasce o sol de justiça para aqueles que temem o nome de Deus e vivem confiantes que a força e a ajuda divina não lhes faltará face aos desafios que lhes são colocados pela sua situação no mundo.
Neste sentido, e tal como recomenda São Paulo aos Tessalonicenses, os cristãos não devem viver ocupados em futilidades, não devem desesperar da situação e das realidades deste mundo como se o fim estivesse eminente, mas devem viver tranquilos, confiantes, ganhando o pão de cada dia, conscientes de que a sua luta diária, a sua perseverança na fé face ao perigo da tibieza é o mais evidente sinal do fim do mundo, pois é manifestação de uma vitória e de uma vida que já nos foi alcançada por aquele que foi sacrificado por causa do nome de Deus.
Procuremos pois viver os desafios de testemunho confiantes que a nossa defesa já foi preparada e que pela vitória de Jesus nem um só cabelo da nossa cabeça se perderá se perseverarmos na nossa fidelidade.

 
Ilustração: “A destruição do Templo de Jerusalém”, de Francesco Hayez, Academia de Veneza.  

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Agradeço-lhe a Homilía do XXXIII Domingo do Tempo Comum,muito esclarecedora e profunda,que nos ajuda à nossa reflexão.Como nos diz o Frei José Carlos..."Procuremos pois viver os desafios de testemunho confiantes que a nossa defesa já foi preparada e que pela vitória de Jesus nem um só cabelo da nossa cabeça se perderá se perseverarmos na nossa fidelidade.Obrigada ,Frei José Carlos,pelas palavras partilhadas,tão profundas que nos dão força para a nossa caminhada,e pela beleza de ilustração.Que o Senhor o ilumine o proteja e o abençoe.Bem-haja.Um bom dia cheio de alegria e paz.Votos de uma boa semana.
    Um abraço fraterno.
    AD

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  2. Caro Frei José Carlos,

    As Leituras, o Evangelho do XXXIII Domingo do Tempo Comum e o texto da Homília que teceu, conduzem-nos à reflexão sobre a relação de cada um de nós com Deus e com o outro, ao modo como vivemos, às expectativas, à dinâmica e imprevisibilidade do futuro. Jesus a propósito da grandeza e da finitude do templo em Jerusalém e das questões colocadas por alguns vem alertar para os falsos sinais apocalíticos e falsos profetas, para o valor da fidelidade, da confiança e da perseverança e para a necessidade de libertar-nos da ilusão do poder, da riqueza e dos privilégios.
    Como nos salienta …” Para Jesus se há algum sinal apocalíptico, algum sinal do fim do mundo, ele desenvolve-se e acontece na perseguição por causa do seu nome, acontece no facto de homens e mulheres serem odiados, perseguidos, maltratados por causa do seu nome.
    Os sinais do fim do mundo jogam-se assim na fidelidade e na perseverança, acontecem na medida em que nasce o sol de justiça para aqueles que temem o nome de Deus e vivem confiantes que a força e a ajuda divina não lhes faltará face aos desafios que lhes são colocados pela sua situação no mundo.”…
    A fidelidade é um combate permanente. Saibamos saborear a alegria da fidelidade cristã, ser perverantes, mostrar-nos aberto ao outro, à novidade, não ter medo, porque Jesus está connosco, não nos abandona nas nossas dificuldades, ter esperança.
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Homília, por recordar-nos que relativamente à vida do templo…” as palavras de Jesus são fundamentalmente uma chamada de atenção, um convite a perceber que tudo neste mundo é efémero, é passageiro, mesmo as obras mais grandiosas.”…
    Que o Senhor o cumule de todas as bençãos.
    Um abraço fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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