Celebramos hoje a
Solenidade da Epifania do Senhor, o mistério da revelação de Deus aos homens, e
como acontecimento evangélico paradigmático deste mistério encontramo-nos com a
adoração dos reis magos vindos do oriente.
É um desses
acontecimentos que encontramos nos chamados Evangelhos da Infância, que são
como que uma introdução, um pórtico, dos Evangelhos de São Lucas e São Mateus. Evangelhos
da Infância que não podem ser lidos à luz da investigação histórica, uma vez
que as narrações ali desenvolvidas não existem para satisfação da nossa
curiosidade relativamente aos primeiros anos da vida de Jesus.
Bem pelo contrário,
encontramo-nos face a narrações que só alcançam a sua verdadeira dimensão e
verdade quando lidas à luz da Páscoa, à luz do grande mistério da paixão, morte
e ressurreição de Jesus.
Neste sentido, o
anúncio dos anjos aos pastores que pudemos contemplar e meditar na noite de Natal,
face aos títulos cristológicos anunciados, não pode ser dissociado do anúncio
às mulheres que na manhã de Páscoa correm ao túmulo de Jesus e se encontram
também ali com outros anjos que lhes anunciam a ressurreição.
O anúncio dos anjos na
noite do nascimento do Salvador é assim uma prefiguração do anúncio da manhã de
Páscoa, tal como a adoração dos reis vindos do oriente é a prefiguração, a
metáfora, da adoração do fim dos tempos, da plenitude gloriosa que o profeta Isaías
também já anuncia na primeira leitura desta solenidade.
A adoração dos magos,
com o que comporta de encontros e desencontros é assim a manifestação clara que
Jesus não é uma propriedade particular, uma especificidade local, mas aquilo
que podemos chamar no verdadeiro sentido da palavra “património da humanidade”.
Jesus, no seu mistério
pertence a toda a humanidade, dirige-se a toda a humanidade e os reis magos
vindos do oriente mais não representam que simbolicamente essa mesma humanidade
na sua diversidade original e na busca do divino que lhe é inerente, acredite-se
ou não em Jesus Cristo como Filho de Deus.
Por outro lado, a adoração
dos magos, com a acidentada passagem por Jerusalém e o encontro com Herodes, é
a manifestação da revolução que Jesus opera face ao mal, uma vez que Jesus põe
a descoberto o mal que afecta o homem e contagia todas as instituições humanas.
Desde o seu nascimento Jesus manifesta-se como uma ameaça ao mal e ao poder que
se constitui sobre o mal e coloca em causa a humanidade.
A adoração dos reis
magos enquanto representação da busca do divino, inerente à humanidade, é para
cada um de nós um verdadeiro apelo, um desafio, à consciencialização do
processo em que estamos envolvidos. E neste sentido, a passagem por Jerusalém
não é um desastre, ou um equívoco sinistro, mas a explicitação da necessidade
de uma orientação divina, do encontro com o mistério da revelação.
Estes homens vindos do
oriente perceberam pelos seus conhecimentos e pelo seu estudo, pela sua
inteligência, que a natureza lhes manifestava algo de extraordinário. O mundo
tal como o conhecemos manifesta a obra de Deus, a sua acção, e a sua presença. Diante
de tal realidade colocaram-se em caminho, arriscaram o desconhecido e outros
mundos, outras culturas, até outros sinais, para compreender na sua plenitude o
que antes tinham intuído, percebido pelas suas capacidades.
A passagem por Jerusalém
foi a oportunidade para se encontrarem e confrontarem com os dados da
revelação, com a necessidade da fé que aprofunda e desafia os próprios
conhecimentos adquiridos. A partir dali puderam encontrar o menino, puderam
compreender os sinais que tinham visto na natureza e o seu cabal significado.
Este processo, esta
caminhada, é inerente a toda a humanidade e, tal como aconteceu com os reis
magos, é feito de avanços e recuos, de perdas e encontros, de incertezas que só
são vencidas na medida em que se arrisca a fé, em que se acolhe o dom de Deus,
em que se aceita que Deus vem ao nosso encontro e se nos manifesta das mais
diversas formas.
Dado o encontro com o
menino, a adoração, os reis regressam por outro caminho, porque é impossível voltar
pelo mesmo caminho depois do encontro com o Salvador, com aquele que é a luz
que ilumina cabalmente o homem na sua essência e revela Deus na sua natureza.
Desta forma, a epifania
de Jesus, a manifestação de Deus, é para todos nós um motivo de esperança, de
vivermos cheios de esperança, uma vez que nos revela que as nossas buscas nos
conduzem sempre, mais tarde ou mais cedo, ao encontro com o salvador, e que a
nossa humanidade em nada sai diminuída por essa busca e esse reconhecimento.
A epifania de Jesus
manifesta-nos afinal que Deus assumiu a nossa humanidade e com a incarnação do
Filho esta mesma humanidade readquiriu a dignidade divina perdida. Saibamos
viver com dignidade a herança que nos foi confiada em Cristo Jesus.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarLi com muito interesse a Homilia da Solenidade da Epifania do Senhor,tão profunda e rica de sentido para todos nós.Como nos diz o Frei José Carlos..."Saibamos viver com dignidade a herança que nos foi confiada em Cristo Jesus.Obrigada,pela maravilhosa partilha,as suas palavras esclarecedoras que nos ajudam a uma reflexão mais profunda neste começo de ano e,pela sua excelente ilustração.Que o Senhor o ilumine o proteja e abençoe.Votos de um bom dia cheio de paz e alegria.Bem-haja,Frei José Carlos.
Um abraço fraterno.
AD
Caro Frei José Carlos,
ResponderEliminarO texto da Homília da Solenidade da Epifania do Senhor que teceu é uma mensagem de esperança, um convite a percorrermos o caminho dos Magos, a encontrar o Menino, com todos os erros que façamos no Caminho. “Procurai e achareis”, disse Jesus. O lugar e o tempo não são importantes porque Jesus está com a humanidade, entre nós.
Como nos salienta …”Este processo, esta caminhada, é inerente a toda a humanidade e, tal como aconteceu com os reis magos, é feito de avanços e recuos, de perdas e encontros, de incertezas que só são vencidas na medida em que se arrisca a fé, em que se acolhe o dom de Deus, em que se aceita que Deus vem ao nosso encontro e se nos manifesta das mais diversas formas.”…
Que a luz que brilhou para os Magos, continue a iluminar as nossas vidas, os caminhos do tempo, sem recear os erros, olhando as estrelas, mas igualmente os olhos dos outros, nossos irmãos.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Homilia, profunda, que nos enche de alegria, conforto, confiança e esperança, por recordar-nos que …”a epifania de Jesus, a manifestação de Deus, é para todos nós um motivo de esperança, de vivermos cheios de esperança, uma vez que nos revela que as nossas buscas nos conduzem sempre, mais tarde ou mais cedo, ao encontro com o salvador, e que a nossa humanidade em nada sai diminuída por essa busca e esse reconhecimento.”…
Bem-haja. Que o Senhor o cumule de todas as bençãos.
Um abraço mui fraterno e amigo,
Maria José Silva