O Evangelho que
acabámos de escutar apresenta-nos os primeiros passos da vida pública de Jesus,
passos simples, sem nada de extraordinário, marcados apenas pelo convite a uns quantos
para que o sigam.
Esta simplicidade dos
começos está no entanto carregada de sentido, de força, que podemos constatar
na situação geográfica em que tal acontece e no sem sentido do convite feito por
Jesus, ser pescadores de homens.
A situação geográfica,
Cafarnaum, território de Neftali e de Zabulão, terra dos gentios, marca
inequivocamente a fronteira, o espaço de fronteira em que Jesus se coloca. O projecto
de Jesus distancia-se assim não só de Jerusalém mas também do seu espaço
habitual, da sua Galileia natural.
Desde os primeiros
momentos vemos aquilo que depois vamos encontrar em todo o Evangelho, em toda a
vida de Jesus, a busca e o encontro daqueles que estão excluídos ou que são marginalizados.
Cafarnaum é já o sinal indiciador desta orientação de Jesus.
Cafarnaum representa
também, e para além da marginalidade, a universalidade da missão de Jesus, pois
aquela cidade e o seu território era terra conquistada pelos gentios no
passado, era terra aberta a outras ideias e a outros povos.
Diante desta situação,
e desta escolha de Jesus, podemos e devemos perguntar-nos pelo nosso
posicionamento em termos de Igreja, ou seja, como enfrentamos os desafios da
fronteira, da marginalidade e da universalidade.
E esta pergunta tem
ainda mais sentido quando nos deparamos nos nossos ambientes comunitários e
paroquiais com espíritos de grupo, com um egocentrismo comunitário que nos
impede de dar um passo no sentido do conhecimento e do acolhimento do outro.
Custa-nos tanto
colocar no lugar do outro, dar ao outro a oportunidade de partilhar as suas
experiências e os seus motivos, as raízes de pertença que são comuns mas que
tantas vezes não partilhamos nem somos capazes de fortalecer pela nossa
partilha e solidariedade.
E este desafio, esta
realidade, é tanto mais importante quanto percebemos que desde o primeiro
momento aquilo que Jesus pede é que se seja pescadores de homens, que deixemos
as nossas redes habituais e nos arrisquemos na pesca dos homens.
Convite e proposta por
demais estranha e extravagante, que deve ter sido difícil de compreender, mas
que ainda assim não teve qualquer oposição, qualquer questionamento. Diz-nos o
Evangelho que os discípulos deixaram as redes e os barcos e seguiram Jesus.
No final da história
ficamos a saber que não foi bem assim, que os pescadores continuaram ligados às
suas redes e à sua pesca no lago, e que foi necessário um encontro após a
ressurreição de Jesus nas margens desse mesmo lago para que eles percebessem o
total alcance do convite que desde o primeiro momento lhes tinha sido feito.
O encontro após a
ressurreição, em que Jesus partilha o pão e os peixes, mostra-nos que na
realidade daqueles homens havia algo a mudar, mas não era fundamentalmente a
sua profissão e actividade quotidiana.
O convite a ser
pescadores de homens é afinal um convite a uma relação profunda com Jesus,
verdadeiro homem e verdadeiro Deus, a um outro sentido para a vida, e a uma
outra relação com os homens, irmãos que devem partilhar do nosso amor.
Neste sentido, e como
o convite se mantém vivo e actual, não podemos deixar de ter bem presente as
palavras de São Paulo aos Coríntios, ou seja, que a nossa fé, o nosso
testemunho, a nossa missão, não é mais que dar a conhecer Jesus Cristo, o amor
de Deus que nos entrega o seu filho para que por ele possamos também ser
filhos.
Uma vez mais somos convidados
a deixar o nosso egocentrismo comunitário ou grupal, e a consciencializar-nos
que não somos pescadores de homens para nós, para o nosso grupo ou comunidade,
mas somos anunciadores de Jesus Cristo, pescadores de homens para Cristo.
À luz da imagem da maternidade,
que são Paulo também usa para se expressar face àqueles que lhe são queridos na
fé, também nós somos chamados a ser mães e pais dos nossos irmãos na fé, a
gerar para Jesus Cristo novos irmãos na fé.
Saibamos escutar o
convite de Jesus a segui-lo e a pescar homens para o seu Reino, nunca
esquecendo que a nossa acção e missão é mais uma página que se acrescenta ao
Evangelho, a nossa página, objecto de alegria para nós, para os nossos irmãos e
para Deus.
Caro Frei José Carlos,
ResponderEliminarA linguagem da Homilia do III Domingo do Tempo Comum desconcerta-nos e desafia-nos. A mudança de comportamento dos discípulos na sequência do encontro com Jesus após a Sua morte e ressurreição de entre os mortos marca uma ruptura com o passado e um passo decisivo para a compreensão e testemunho do Evangelho. Também para cada um de nós, a passagem do Jesus histórico para o Jesus vivo, o Deus connosco, acontece quando espiritualmente somos capazes de estabelecer, interiorizar, viver uma relação profunda com Jesus que se faz presente, na busca de um encontro.
Como nos salienta …”O convite a ser pescadores de homens é afinal um convite a uma relação profunda com Jesus, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, a um outro sentido para a vida, e a uma outra relação com os homens, irmãos que devem partilhar do nosso amor.”…
Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Homilia, profunda, eslarecedora, que nos desinstala, recordando-nos a …”escutar o convite de Jesus a segui-lo e a pescar homens para o seu Reino”. …
Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Votos de uma boa semana, com paz, alegria, confiança e esperança.
Bom descanso,
Um abraço mui fraterno e amigo,
Maria José Silva
Frei José Carlos,
ResponderEliminarAgradeço-lhe esta bela e maravilhosa partilha da Homilia do III Dimingo do tempo comum,que nos deixa um grande desafio de mudança de vida no nosso dia a dia.Obrigada,pelas palavras partilhdas,que nos dão força para prosseguirmos o caminho e,pela excelente ilustração.Que o Senhor o ilumine o ajude e o proteja.Continuação de uma boa semana com alegria e paz.Bem-haja,Frei José Carlos.
Um abraço fraterno.
AD