quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Quem és tu? (Jo 1,19)

Um homem a pregar no deserto e a atrair multidões não podia deixar indiferentes as autoridades. Por essa razão um grupo de sacerdotes e levitas vai de Jerusalém até às margens do rio Jordão. Tem uma missão muito clara, reunir todas as informações necessárias à identificação daquele que se tornou motivo de conversa e de movimentação social e religiosa na região.
No âmbito desta investigação, pode-se dizer que a primeira pergunta que é colocada é perfeitamente desnecessária, um desperdício, uma vez que aqueles enviados conheciam a família a que João pertencia, sabiam que era filho do sacerdote Zacarias, conheciam certamente alguns daqueles que se tinham tornado seus companheiros e discípulos.
“Quem és tu” surge assim como uma provocação, uma armadilha, que João Baptista utiliza para se identificar definindo-se sempre em relação a outro e à missão que lhe foi destinada.
Respondendo aos enviados de Jerusalém, João não se atribui nenhum título, nenhum protagonismo, mas pelo contrário sujeita-se e submete-se à missão, à pessoa para quem deve preparar o caminho.
João apresenta a sua submissão filial àquele que o enviou, que lhe despertou a missão de ser a voz que clama no deserto. João não é mais que a voz, porque a Palavra vem e já está presente no meio dos homens.
Esta submissão e definição filial de João Baptista é para cada um de nós cristãos um desafio, pois também cada um de nós não pode deixar de se definir senão em relação, com os outros e com Deus nosso criador e redentor.
É a nossa relação com Deus, é a nossa consciência filial, somos filhos de Deus e herdeiros do Reino com Jesus Cristo, que nos dá a razão e o sentido do nosso ser e da nossa missão.
Necessitamos voltar constantemente a esta consciência para não nos perdermos, para não nos encerrarmos no nosso egocentrismo, no nosso autismo orgulhoso, e podermos realizar plenamente a nossa identidade, a nossa existência.
Saibamos como João viver a radicalidade da nossa identidade, acolhendo o centro e o fim que não somos nós, mas o Outro que se nos apresenta e interpela.

 
Ilustração: “São João Baptista”, de Diego Polo, Fundação Banco Santander.

 

2 comentários:

  1. Não será importante que cada um de nós se pergunte "Quem sou eu?" para nos podermos colocar no nosso lugar, livres de todo o egoismo mas também de toda a frustração e acolhermos o Outro que é e nos quer filhos de Deus? Inter Pars

    ResponderEliminar
  2. Caro Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu ao abordar o testemunho de João Baptista quando interrogado pelo grupo de sacerdotes e levitas quando se encontra no rio Jordão, em que o mesmo responde à pergunta “Quem és tu” definindo-se sempre em relação a outro e à missão que lhe foi destinada, leva-nos mais além, e à importância da noção de “alteridade” na educação e ao longo da vida de cada um de nós, sejamos crentes ou não-crentes.
    Como nos salienta a …”submissão e definição filial de João Baptista é para cada um de nós cristãos um desafio, pois também cada um de nós não pode deixar de se definir senão em relação, com os outros e com Deus nosso criador e redentor.”…
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Meditação, importante, que nos desafia, que nos questiona, por recordar-nos que ...” É a nossa relação com Deus, é a nossa consciência filial, somos filhos de Deus e herdeiros do Reino com Jesus Cristo, que nos dá a razão e o sentido do nosso ser e da nossa missão”, e que “Necessitamos voltar constantemente a esta consciência para não nos perdermos, para não nos encerrarmos no nosso egocentrismo, no nosso autismo orgulhoso, e podermos realizar plenamente a nossa identidade, a nossa existência.”…
    Bem-haja. Que o Senhor o abençoe e o proteja.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno e amigo,
    Mria José Silva

    ResponderEliminar