terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Sei quem tu és! (Mc 1,24)

Jesus dirige-se à sinagoga de Cafarnaum como costumava fazer todos os sábados. Vai com o seu grupo de discípulos, recentemente reunido, respondendo-lhes de certa forma à pergunta que tinham feito pouco depois do baptismo no Jordão, “onde moras”.
Jesus mora também na sinagoga, no espaço da escuta da Lei e dos Profetas, e era necessário que os discípulos percebessem que ele era a Palavra viva cujo eco se ouvia naquele espaço, o Verbo que na Lei e pelos Profetas se oferecia ao povo eleito naquele espaço.
Esta entrada na sinagoga é ocasião para um confronto, confronto que se mantém constante em toda a primeira parte do Evangelho de São Marcos, o confronto com o espirito das trevas, com o mal que aprisiona o homem.
Manifestando o seu conhecimento ancestral, o espirito impuro que possuía um homem revela a todos os presentes quem é Jesus, o Santo de Deus, ainda que nenhum dos presentes o compreenda, tome verdadeiro conhecimento e sentido do que é proferido.
Tal como aconteceu com o primeiro homem, o mal insinua-se, afronta o homem Jesus com a provocação da sua identidade e do seu poder, estende uma rede que convida à resposta, a um aprisionamento na provocação.
Esta provocação mostra que o espirito não está equivocado, que sabe muito bem quem tem diante de si, e que essa presença é de facto uma ameaça, representa o seu fim, ele sabe que aquele homem tem o poder divino para o destruir.
Evitando a armadilha da sedução, Jesus corta toda a hipótese de diálogo, e com autoridade ordena apenas que o espirito se cale e abandone aquele homem. Jesus manifesta o seu poder, a sua autoridade, revela aos discípulos e a todos os presentes que há um tempo novo, que a vitória sobre o mal está em processo, e ele é essa vitória.
Graças a Deus podemos dizer que não estamos possuídos pelo mal, mas já não podemos dizer que não tenhamos pactuado com este mesmo mal, que em certos momentos não nos tenhamos deixado seduzir, encantar pelas suas palavras que manifestam o poder que há em nós.
Face a estas capitulações necessitamos recordar a força da palavra de Jesus, recordar que não podemos responder ao espirito impuro do mal, entrar em diálogo com ele, mas tal como Jesus exprimir a nossa fé reduzindo-o ao silêncio, expulsando-o com a autoridade de Jesus nossa vitória sobre o mal.
Que a Palavra de Jesus ganhe autoridade na nossa vida e todo o mal seja por ela expulso.

 
Ilustração: “Jesus curando o possesso de um espirito impuro”, vitral da Catedral de Estrasburgo.  

1 comentário:

  1. Caro Frei José Carlos,

    Fiquei longamente a reflectir no Evangelho do dia de hoje e no texto da Meditação que elaborou e partilha. E, pergunto-me, o que leva muitos de nós a andarmos cansados, desiludidos com a realidade. A injustiça, o sofrimento que nos cerca, a hipocrisia do que se ouve, lê ou a que se assiste como de uma representação permanente se tratasse, de instâncias que deviam estar acima de qualquer falta de transparência? E, cumulativamente e individualmente falta-nos fé, como Jesus recordou ao discípulo Pedro quando duvidou (Mt 14, 22-33).
    Sabemos que é necessário e importante conseguirmos descentrar-nos mas atitude nem sempre fácil no actual contexto. Há um único caminho a fazer que é o caminho de Jesus. Como nos salienta ...” necessitamos recordar a força da palavra de Jesus, recordar que não podemos responder ao espirito impuro do mal”… .
    Bem-haja. Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas que nos ajudam a reflectir, que nos questionam.
    Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Bom descanso.
    Um abraço fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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