domingo, 6 de dezembro de 2015

Homilia do Domingo II do Advento

Celebramos o segundo domingo do Advento e a Liturgia da Palavra, as leituras que escutámos, coloca-nos face a face com a acção de Deus, com a iniciativa de Deus em todo o processo de salvação.
O excerto do livro de Baruc que escutámos na primeira leitura é neste sentido muito clara, pois diz-nos que Deus decidiu, que Deus vai mostrar, que Deus dará, que Deus tem a iniciativa antes de mais.
A Carta de São Paulo aos Filipenses, da segunda leitura, vai no mesmo sentido, pois diz-nos que Deus começou em nós uma obra boa, uma obra que levará a bom termo.
E o Evangelho de São Lucas, ao apresentar-nos a figura de João Baptista no deserto, confirma esta ideia ao dizer-nos que a palavra de Deus foi dirigida a João para que ele pregasse um baptismo de penitência e arrependimento.
Assim, se Deus tem a iniciativa, se a acção tem o seu princípio em Deus, a cada um de nós corresponde a participação nessa iniciativa de Deus pelo acolhimento da acção, pela disponibilidade para que ela aconteça em nós.
O apelo de João Baptista no deserto, fazendo eco da profecia de Isaías, é assim um apelo à abertura, à disposição para o acolhimento, à eliminação de todos os obstáculos que possam impedir a iniciativa de Deus de se realizar.
Disposição para o acolhimento que é processo de conversão, e que não pode ser vivido na tristeza nem na amargura, no desalento, pois o que se nos pede para endireitar, para aligeirar, para desprender é sempre em função de um bem maior, da plenitude que Deus tem na origem da sua iniciativa.
Somos assim convidados, tal como o profeta Baruc convidava Jerusalém, a deixar o nosso manto de luto e tristeza, a nossa aflição pelas coisas que não funcionam ou que correm contrariamente aos nossos planos e expectativas.
É a beleza da justiça que devemos vestir, a glória de Deus que devemos colocar como diadema sobre a nossa cabeça, é a esperança que deve animar os nossos gestos e atitudes, é no final das contas a dignidade de filhos de Deus que devemos assumir e procurar viver.
É a caridade que deve crescer, uma caridade que não é espontânea, que não surge do nada, mas que é fruto da ciência e do discernimento, de um trabalho pessoal e à luz da graça e da Palavra de Deus, e que nos permite distinguir o que é melhor, o que nos torna mais puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo.
Fizemos uma semana de caminhada neste tempo de Advento e certamente alguma coisa fizemos de diferente, algum discernimento com ciência elaborámos e iluminou as nossas acções e palavras.
Pelo que fizemos e também pelo que nos propusemos fazer mas ainda não fomos capazes, temos que dar graças a Deus, com alegria e fé, porque Deus vai actuando em nós e o nosso coração vai estando mais disposto e disponível à acção de Deus.
Ao iniciarmos a segunda semana do Advento não podemos dar-nos por satisfeitos pelo que já fizemos, nem cruzar os braços pelo que ainda ficou aquém do desejado, mas devemos solidificar o que já fizemos e continuar a insistir no que nos falta fazer.
Uma vez mais somos convidados a compromissos concretos, e realistas, a pequenos gestos que podem marcar a diferença junto do outro e até junto de mim próprio, a uma oração mais intensa, ou até mais simples mas mais unitiva com Deus.
Tal como São Paulo, manifestemos a nossa confiança na acção de Deus, no seu amor para connosco e na sua promessa de que não nos deixaria sós neste caminhar e nesta luta. Esta confiança produzirá a mudança que desejamos e esperamos.

 
Ilustração:
“São João pregando no deserto” de Luca Giordano, Los Angeles County Museum of Art.

1 comentário:

  1. Caro Frei José Carlos,

    Foi com muita alegria e interesse que li e reli o texto da Homilia que teceu no II Domingo do Advento. É um hino à alegria, à conversão, à confiança e à esperança, ...”a esperança que deve animar os nossos gestos e atitudes, é no final das contas a dignidade de filhos de Deus que devemos assumir e procurar viver.”...
    E, ...” se Deus tem a iniciativa”(...), somos chamados à conversão, ...” à disposição para o acolhimento, à eliminação de todos os obstáculos que possam impedir a iniciativa de Deus de se realizar.”...
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha da Homilia, profunda, esclarecedora, fundamental na interpretação da Palavra de Deus, por nos exortar a que, nesta segunda semana de Advento, ...” Tal como São Paulo, manifestemos a nossa confiança na acção de Deus, no seu amor para connosco e na sua promessa de que não nos deixaria sós neste caminhar e nesta luta. Esta confiança produzirá a mudança que desejamos e esperamos.”
    Bem-haja. Que o Senhor o ilumine, o abençoe e guarde.
    Continuação de uma boa semana.
    Um abraço mui fraterno,
    Maria José Silva

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