sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Seguiram Jesus dois cegos. (Mt 9,27)

Já estamos tão habituados que já não nos estranha, já não nos coloca nenhum problema ou interrogação. Jesus era procurado por todo o tipo de gente, com todo o tipo de enfermidades e problemas.
Neste conjunto de gente, encontramos dois cegos que seguem Jesus, e a pergunta que não colocamos por pudor ou educação, mas que o próprio Jesus coloca num outro contexto, é se um cego pode conduzir outro cego.
Jesus responde à questão concluindo que dois cegos acabarão inevitavelmente num barranco, acabarão por conduzir-se mutuamente ao desastre e à tragédia, e ainda que não pareça é o que acontece com estes dois cegos que seguem Jesus.
É incontestável que foram curados por Jesus, que o seu pedido de visão foi satisfeito, mas também é incontestável que imediatamente a seguir Jesus os proíbe de divulgar a cura alcançada.
Podemos assumir, como Jesus assume no Evangelho de São João, que esta recomendação deriva do facto de ainda não ter chegado a sua hora. Podemos assumir que Jesus procurava gerir a sua missão e o impacto dela, afinal estamos ainda no início da vida pública.
Contudo a questão é bem mais profunda e o silêncio recomendado por Jesus prende-se com o milagre operado, com a visão alcançada por aqueles cegos, uma visão exterior, uma visão imediata, uma visão do taumaturgo triunfante, poderíamos dizer uma visão equivocada.
Aqueles dois cegos recuperaram a vista mas não chegaram de facto a ver quem tinham diante deles, porque para o verem necessitavam permanecer, fazer intimidade, guardar silêncio, ter cuidado e não sair imediatamente para fora a contar o sucedido. Aqueles cegos viram o Filho de David mas não tiveram tempo para ver o Filho de Deus.
Como os cegos também nós corremos suplicantes atrás de Jesus, não só porque queremos ver o Filho mas também porque queremos que ele nos mostre o Pai.
Para que nos seja alcançada a visão que buscamos necessitamos de tempo, tempo para que os nossos olhos se abram para a humanidade do Filho do Homem, para a carne da nossa carne feita ternura numa criança, para a humildade do amor exposta nua numa cruz, para o aniquilamento de si para que a visão do rosto do Pai aconteça.
Concede-nos Senhor um coração puro, porque prometestes que os puros de coração veriam a Deus! Mas sobretudo, concede-nos Senhor o dom do tempo para ti!

 
Ilustração:
“Jesus cura o cego de nascença”, de Orazio de Ferrari, Colecção de Arte do Banco Carige.

3 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Seguiram Jesus dois cegos."Também nós corremos suplicantes atrás de Jesus,não só porque queremos ver o Filho mas também porque queremos que ele nos mostre o Pai."
    Para que nos seja alcançada a visão que buscamos necessitamos de tempo,tempo para que os nossos olhos se abram para a humanidade do Filho do Homem,para a carne da nossa carne feita ternura numa criança,para a humildade do amor exposta numa cruz,para o aniquilamento de si para que a visão do rosto do Pai aconteça.
    Concede-nos Senhor um coração puro,porque prometestes que os puros de coração veriam a Deus ! Mas sobretudo, concede-nos Senhor o dom do tempo para ti !Obrigada,Frei José Carlos,por esta maravilha de partilha,que nos ajuda a prosseguirmos a nossa caminhada do Advento.Bem-haja,por todo o seu trabalho .Desejo-lhe um bom descanso.Que o Senhor o ilumine o ajude e o abençoe.
    Um abraço fraterno.
    AD

    ResponderEliminar
  2. Que neste tempo de preparação para o Natal saibamos permanecer no silêncio do nosso coração para lá podermos encontrar, contemplar e seguir o Menino que quer que O conheçamos para podermos conhecer o Pai. Inter pars

    ResponderEliminar
  3. Passamos uma parte significativa da vida mergulhados num quotidiano de tal forma atribulado, enrodilhado, que não há tempo para Deus, para a família, para os amigos, para o outro, nosso irmão, e nem sequer para nos determos e interrogar-nos quem somos, porque existimos, para onde caminhamos!! Como foi possível tudo isto acontecer e como é difícil deter-nos para questionar- nos e mudar de caminho... Tornamo-nos cegos incuráveis!
    Como Frei José Carlos nos recorda não é suficiente o encontro com Jesus e a aparente cura da cegueira. E passo a citá-lo ...” Para que nos seja alcançada a visão que buscamos necessitamos de tempo, tempo para que os nossos olhos se abram para a humanidade do Filho do Homem, para a carne da nossa carne feita ternura numa criança, para a humildade do amor exposta nua numa cruz, para o aniquilamento de si para que a visão do rosto do Pai aconteça.”…
    Que o Senhor nos conceda o dom do tempo para estar com Ele e com os outros.
    Grata, Frei José Carlos, por esta partilha que nos desinstala e desafia na nossa forma de ser e de estar na vida, na relação que estabelemos com Jesus e com os outros. Bem-haja.
    Bom descanso. Bom fim-de-semana. Que o Senhor o cumule de todas as bênçãos.
    Um abraço mui fraterno,
    Maria José Silva

    ResponderEliminar