quarta-feira, 8 de junho de 2011

Consagra-os na Verdade (Jo 17, 17)

Jesus continua a rezar ao Pai pelos seus amigos e discípulos nesta hora de partida e despedida. E depois de afirmar que nenhum deles é do mundo, à sua semelhança, pede que os livre do mal e os consagre na verdade.
Para nós, para os discípulos e para cada um de nós, o primeiro pedido de Jesus soa-nos a normal, a uma consequência daquela oração que nos tinha ensinado e na qual terminamos pedindo ao Pai que nos livre do mal.
Faz parte da nossa condição humana, da nossa natureza, esse desejo de libertação do mal, de uma felicidade e alegria que nos estão inscritas nos genes desde a criação. Fomos feitos para a vida e para a felicidade e por isso aspiramos naturalmente a elas, e viveríamos nelas perfeitamente se não fosse o pecado, essa nossa tendência rebelde de querermos ser senhores de nós próprios e da nossa felicidade, como se fossemos o princípio e o fim de nós próprios.
Faz-nos falta aceitar as nossas limitações, as nossas dependências e interdependências, e a nossa necessidade dos outros e do Outro para nos encontrarmos com a vida verdadeira, a felicidade e a alegria que Deus dispôs e deseja para nós.
Para tal, para que de facto aconteça este encontro, Jesus pede ao Pai que nos consagre na verdade, que nos assuma junto dele e sob a sua protecção, porque é isso que de facto quer dizer consagrar. “Con-sacrum” ou “con-sanctum” quer dizer tomar para junto de si, assumir para junto de si, missão que o Espírito Santo realiza na medida em que é relação e coloca em comunicação o Pai e o Filho e todos aqueles que estão em relação com o Filho.
E somos assumidos junto do Pai na verdade que é o mistério do Filho, a Palavra feita carne, a Palavra experimentada pela morte e dela saída vencedora, a Palavra que assumida ao céu e à intimidade do seio do Pai regressa com todo o peso da condição humana.
Somos consagrados na Verdade que é Jesus Cristo, Filho de Deus e Filho do Homem, consagrado ele mesmo na obediência do amor para que todos possamos também ser consagrados pelo fruto e a vitória desse mesmo amor. É pelo Filho Jesus que se nos abre a via da consagração, desse poder ser assumido e colocado ao lado do Divino Pai.
Assim, como homens e mulheres em busca da felicidade, e como discípulos em busca de fidelidade ao Mestre e aos seus mandamentos, não podemos deixar de lado o processo de assumir a nossa humanidade, a nossa condição humana; necessitamos ser verdadeiramente homens e mulheres para nos encontrarmos com a nossa verdade humana, finita e provisória, e a partir dela nos encontrarmos também com a verdade divina que nos habita e impele, uma verdade eterna e vital que não se contenta nem se satisfaz apenas com a felicidade deste mundo.
O Espírito Santo é a fonte de luz e força para estes processos de encontro e verdade, e por isso o imploramos ao Senhor, o pedimos a Deus Pai, para todos nós e para todos os momentos da nossa vida.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    No texto que partilha connosco, recorda-nos que ...” Jesus continua a rezar ao Pai pelos seus amigos e discípulos nesta hora de partida e despedida (…) afirmando que “nenhum deles é do mundo, à sua semelhança, pede que os livre do mal e os consagre na verdade”.
    Neste texto que o Frei José Carlos foi tecendo, há dois momentos que me tocam particularmente. Quando nos recorda a dimensão relacional da nossa condição humana e como somos consagrados na Verdade.
    Permita-me que passe a citá-lo. …”Faz-nos falta aceitar as nossas limitações, as nossas dependências e interdependências, e a nossa necessidade dos outros e do Outro para nos encontrarmos com a vida verdadeira, a felicidade e a alegria que Deus dispôs e deseja para nós.” (…)
    …”Somos consagrados na Verdade que é Jesus Cristo, Filho de Deus e Filho do Homem, consagrado ele mesmo na obediência do amor para que todos possamos também ser consagrados pelo fruto e a vitória desse mesmo amor. É pelo Filho Jesus que se nos abre a via da consagração, desse poder ser assumido e colocado ao lado do Divino Pai.”… (…)
    ...” necessitamos ser verdadeiramente homens e mulheres para nos encontrarmos com a nossa verdade humana, finita e provisória, e a partir dela nos encontrarmos também com a verdade divina que nos habita e impele, uma verdade eterna e vital que não se contenta nem se satisfaz apenas com a felicidade deste mundo.” …
    Peçamos ao Senhor que nos envie o Sopro do Espírito Santo que como o Frei José Carlos nos salienta …”é a fonte de luz e força para estes processos de encontro e verdade, (…) para todos nós e para todos os momentos da nossa vida.”
    Obrigada pela partilha deste texto profundo que nos encoraja e reconforta no nosso peregrinar. Bem haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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