sábado, 11 de junho de 2011

Vésperas em Gregoriano em São Domingos de Silos

É na medida da honra que cada um rende a Deus durante a oração, com o seu corpo e com o seu espírito, que se abrirá diante de si a porta do socorro que o deve conduzir à purificação das suas moções e à iluminação no decurso da oração. Aquele que toma uma atitude de respeito durante a oração, elevando as mãos para o céu enquanto se mantém modestamente abaixado, ou prostrando-se com a cabeça até ao solo, será julgado digno das grandes graças do alto.”
Estas palavras de Isaac o Sírio, Padre da Igreja Oriental do século sétimo, não podem deixar de nos provocar na medida em que um participa, como hoje tive a oportunidade de participar, na celebração das Vésperas na Abadia Beneditina de São Domingos de Silos, em Espanha.
É verdade que é o canto gregoriano que nos atrai a Silos e a esta comunidade beneditina, que assumiu o canto como uma forma de evangelização e de transmitir ao mundo e a todos aqueles que aqui se dirigem a experiência de Deus.
Contudo, e como nos diz Isaac o Sírio, a oração e o canto necessitam de expressão corporal, necessitam de gestos, de uma presença física comunicativa, que permita que esse canto e essa oração adquiram uma dimensão de honra, de meio visível para o alcance das graças solicitadas e do louvor prestado a Deus.
Os monges beneditinos de Silos, para além do canto, cuidam também esta expressão corporal, esta honra e respeito que marcam a sua celebração e que nos ajuda a interiorizar o canto em latim, que certamente não perceberíamos sem a ajuda da tradução que distribuem e sem a gestualidade que nos coloca atentos e obriga a focalizar os sentidos.
Para alguns este cuidado é um pouco “old fashion”, um ressuscitar de velhas formas, de velhos ritos e de uma liturgia que se apresenta distante e não participativa. É um retrocesso no que se alcançou com a reforma litúrgica do Segundo Concilio Vaticano.
Contudo, e verdade seja dita, nessa reforma perdemos uma dimensão simbólica e espiritual que não foi substituída por nada e por isso em muitos lugares as nossas celebrações, ainda que muito dinâmicas e participativas, deixam uma sensação de vazio, não deixam memória, uma memória que atravessa os sentidos e chega ao coração e ao sentido da presença do divino.
Necessitamos por isso, numa celebração mais participativa ou mais ritual, cuidar os gestos da celebração, na riqueza da sua simplicidade, porque muitos gestos litúrgicos necessitam apenas ser bem executados para que voltem a ter uma dimensão simbólica e a dizer mais do que à primeira vista querem dizer.
Estas Vésperas celebradas em São Domingos de Silos em gregoriano foram assim um bom início para a Solenidade do Pentecostes e um motivo para dar graças a Deus e para pedir a iluminação do Espírito Santo para a forma como celebramos, para a dignidade da forma como devemos celebrar.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Li, reli e fiquei a reflectir no texto que partilha connosco e que intitulou “Vésperas em Gregoriano em São Domingos de Silos”. Nas minhas reflexões, pergunto-me o que é para mim a oração, o ritual da mesma, privada ou colectiva. É um “estado de alma”, na qual está subjacente a relação com o Outro, uma forma de diálogo com Deus, no qual o corpo participa, porque somos seres humanos. E o envolvimento do corpo, traduzimo-lo simbolicamente, no baixar a cabeça, olhar o céu, ajoelhar ou noutras formas. Na Missa, mais do que dialogar com Deus, estamos a afirmarmo-nos como colectivo que acredita em Deus, partilhando as palavras tristes ou alegres do Evangelho, os cânticos e os gestos. O fundamental na oração é o encontro.
    E rezar é também estar sozinho (a) diante de Deus, é conseguir a solidão absoluta, no local escolhido, no local possível. É o silêncio. Então, sou eu, tal como Deus me conhece. É Deus que vem ao meu encontro que contemplo e me deixo contemplar.
    O texto que escreveu Frei José Carlos, levou-me, neste final de noite a reflectir e a escrever sobre algo que não estava previsto.
    E apesar da aparente contradição estou certa que conhece bem a realidade do que nos afirma ...” Necessitamos por isso, numa celebração mais participativa ou mais ritual, cuidar os gestos da celebração, na riqueza da sua simplicidade, porque muitos gestos litúrgicos necessitam apenas ser bem executados para que voltem a ter uma dimensão simbólica e a dizer mais do que à primeira vista querem dizer.”...
    Obrigada pela partilha, pela reflexão. Bem haja.
    Votos de uma Santa Festa de Pentecostes e boa estada.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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