quinta-feira, 16 de junho de 2011

Orai assim: Pai-Nosso (Mt 6,9)

Faz parte da condição humana, da sua natureza, essa necessidade de se ligar ou re-ligar com uma entidade superior, é o que distingue o homem do animal. Na fé cristã essa ligação é estabelecida com um Deus que na história se revelou próximo, compassivo, preocupado com o homem como manifestação da sua glória.
Qualquer ligação necessita no entanto de ser mantida, de um meio que estabelece a relação e conexão entre o emissor e o receptor, e é neste sentido que Jesus apresenta aos seus discípulos a oração do Pai-Nosso, a possibilidade da verbalização de uma relação intima e próxima com o Deus em que acreditam.
O Pai-Nosso não é assim uma lista de reclamações, e muito menos um documento confessional de um acto de submissão, e ainda muito menos um reconhecimento implícito de uma impotência para prover às necessidades da vida humana na sua totalidade.
Se pedimos o pão, se pedimos a paz e o perdão, se pedimos o Reino de Deus é porque acreditamos que são realidades possíveis, mas que só adquirem a sua verdadeira e total dimensão quando enquadradas na vontade de Deus. Tudo está nas mãos do homem e é possível alcançar, mas sem o toque e a presença de Deus essas realizações ficarão sempre marcadas pela falha do egoísmo e do orgulho, e portanto ainda distantes da sua verdadeira e total realização.
O Pai-Nosso é assim e sempre um conjunto de pedidos, demandas verdadeiras que se fazem a um Deus que reconhecemos como Pai. É aqui e neste reconhecimento que se joga toda a diferença da oração que Jesus ensina, a originalidade do Pai-Nosso.
Porque esta oração, no seu conjunto de pedidos, apenas reitera o primeiro e grande pedido, que Deus seja o nosso pai e que nós sejamos os seus filhos. Rezamos para isso, para aprendermos a ser filhos de um Deus que se nos revela pai; e sendo filhos, que sejamos capazes de transformar todas as realidades do mundo em realidades com a marca divina do amor paterno.
Tudo isto, no entanto, nos escapa das mãos e das nossas capacidades limitadas e finitas. Apenas Deus no seu amor e no seu poder omnipotente poderá realizar esta filiação que solicitamos e a transformação das realidades a que nos lançamos conquistadores.
Peçamos por isso a Deus que nos faça sentir a sua paternidade, a nossa filiação divina, e nos dê a sabedoria e a coragem para partirmos à conquista das realidades do mundo em ordem à sua integração plena no Reino do amor divino.

3 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    O texto que elaborou e partilha connosco ajuda-nos na interpretação do sentido da oração que Jesus apresenta aos seus discípulos, a originalidade da oração do Pai-Nosso, que consiste “na possibilidade da verbalização de uma relação intima e próxima com o Deus em que acreditam.” “Orai assim: Pai-Nosso (Mt 6,9)” é traçar um caminho de oração que define na sua essência o estabelecimento de uma relação com Aquele a quem é dirigida.
    Mais do que rogar por esta ou por aquela necessidade, o que se pede ao Pai é que seja pai. Como nos afirma no texto a …“oração que Jesus ensina, a originalidade do Pai-Nosso (…) no seu conjunto de pedidos, apenas reitera o primeiro e grande pedido, que Deus seja o nosso pai e que nós sejamos os seus filhos. Rezamos para isso, para aprendermos a ser filhos de um Deus que se nos revela pai; e sendo filhos, que sejamos capazes de transformar todas as realidades do mundo em realidades com a marca divina do amor paterno”. …
    Como nos salienta ...” Tudo está nas mãos do homem e é possível alcançar, mas sem o toque e a presença de Deus essas realizações ficarão sempre marcadas pela falha do egoísmo e do orgulho, e portanto ainda distantes da sua verdadeira e total realização.” …
    Obrigada Frei José Carlos por esta bela e profunda partilha. Bem haja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva
    P.S. Permita-me, Frei José Carlos que partilhe a Oração do Pai-Nosso do BREVIÁRIO CALDEU extraída do livro “ UM DEUS QUE DANÇA”, Itinerários para a Oração, Padre José Tolentino, Maio de 2011.
    XXIX

    Pai-Nosso invisível que estais nos Céus/seja santificado em nós o Teu Nome/porque no Teu Espírito Santo,/Tu próprio nos Santificastes.//
    Venha a Nós o Teu Reino/Reino prometido a quantos amam Teu amor./Tua força e benevolência repousem sobre teus servos/aqui em mistério e lá na tua misericórdia.//
    Da mesa que não se esgota/dá alimento à nossa indigência/ e concede-nos a remissão das culpas/Tu que conheces nossa debilidade.//
    Nós Te pedimos:
    Salva aquilo que criastes/E livra-o do maligno que procura o que devorar./A Ti pertencem Reino, Poder e Glória, Ó Senhor.//
    Não prives da tua bondade os Santos!

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  2. Bom dia Frei José Carlos,
    Enquanto dormíamos,velou por nós,tornando a Oração por excelência tão real,aproximando-nos do Pai.
    Deus o guarde e o conserve junto de nós.
    GVA

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  3. Frei José Carlos,

    Muito grata por esta excelente partilha da Oração do Pai Nosso,na nossa vida,na vida da Igreja.Se a Igreja que somos todos nós,pela Comunhão dos filhos de Deus,então não pode viver sem aquela oração que o seu Fundador e a sua Cabeça,Jesus Cristo,lhe deixou para ser a sua oração,a que melhor exprime a identidade cristã de cada um dos seus membros e,por esse meio,mais contribui para a sua união vital numa única família.obrigada Frei José Carlos,por partilhar connosco esta bela Meditação que muito gostei.
    Agradeço-lhe todas as ilustrações que nos ajudam muito.Bem haja Frei José Carlos.
    Um abraço fraterno.
    AD

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