quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Pai vê o que está oculto (Mt 6,18)

As palavras de Jesus sobre a mentira do aparente visível e a verdade invisível do oculto não podem deixar de ser enquadradas na Verdade que ele mesmo é e na verdade que deseja para a vida dos seus discípulos.
O povo, as instituições religiosas, a própria lei religiosa que estruturava o povo, a sua organização e as suas relações, estavam demasiado assentes na hipocrisia de uma realidade que não correspondia à verdade. Jesus não quer isso para os seus discípulos.
E é neste sentido, nesta busca de verdade interior, numa aparente perda de importância exterior, que Jesus recomenda um conjunto de gestos e atitudes que devem apenas ser vistos pelo Pai, por Aquele que perscruta os corações e os rins e conhece o intimo de cada homem.
Desta forma os discípulos libertam-se da glória exterior, da vaidade e da possibilidade do orgulho diante dos outros que poderão não ter as condições para realizar essas mesmas obras. Há assim um nivelamento, uma igualdade apenas diferenciada diante Daquele que conhece tudo e sabe do que cada um pode dar.
Mas para além desta libertação, a prática das boas obras no silêncio e na invisibilidade permite o estabelecimento e o reforço da relação com Deus nessa intimidade apenas frequentada por aqueles que verdadeiramente têm direito e razão para a frequentarem, Deus e o próprio.
É um processo longo, doloroso até, em muitas coisas semelhante à frequência do deserto, em que cada um se vê face a face com as suas limitações e fraquezas, com os passos não dados por medo, preguiça ou até por egoísmo de não querer arriscar mais.
No silêncio e na invisibilidade das dádivas e da entrega, da esmola, do jejum e da oração encontramo-nos com um centro que não somos nós próprios, com um Outro que nos identifica e reconhece na mesma medida em que reconhecemos sem ostentação, sem insinuação hipócrita de superioridade e capacidade de ajudar, os outros e as suas necessidades.
E como nos diz São Paulo “quem semeia abundantemente também colherá abundantemente”, pelo que não podemos nem nos devemos coibir de aprofundar esta intimidade com Deus através desse silêncio, dessa invisibilidade, desta gratuidade e descentrar de nós próprios. O que aparentemente perdermos, o receberemos multiplicado.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Ao referir-nos o Evangelho do dia (Mt 6,18), recorda-nos que Jesus recomenda aos discípulos e também a cada um de nós um conjunto de palavras e gestos assentes na verdade interior, aonde não há lugar para a hipocrisia, para a ostentação, praticados no silêncio e na discrição, no encontro com Cristo, na relação com um Outro.
    Mas como nos diz no texto que partilha connosco para além da libertação da ...” glória exterior, da vaidade e da possibilidade do orgulho diante dos outros que poderão não ter as condições para realizar essas mesmas obras (…) a prática das boas obras no silêncio e na invisibilidade permite o estabelecimento e o reforço da relação com Deus nessa intimidade apenas frequentada por aqueles que verdadeiramente têm direito e razão para a frequentarem, Deus e o próprio”.
    E como o Frei José Carlos reconhece esta forma de ser e de estar é difícil, longa, requer um despojamento interior e exterior, uma grande humildade que nos compromete no encontro com ….” um Outro que nos identifica e reconhece na mesma medida em que reconhecemos sem ostentação, sem insinuação hipócrita de superioridade e capacidade de ajudar, os outros e as suas necessidades” e na relação com o nosso próximo.
    Bem haja por nos exortar a …” aprofundar esta intimidade com Deus através desse silêncio, dessa invisibilidade, desta gratuidade e descentrar de nós próprios”. Obrigada por esta profunda partilha.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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