sábado, 7 de abril de 2012

Quem nos retirará a pedra? (Mc 16,3)

Passado o sábado, Maria de Magdala, Maria mãe de Tiago e Salomé compraram perfumes e dirigiram-se ao túmulo no qual tinha sido depositado Jesus.
Contudo, uma preocupação não deixava de as inquietar, quem lhes retiraria a pesada pedra colocada na porta do sepulcro para que pudessem entrar e embalsamar o corpo do Senhor. Quem poderia retirar a pedra que lhes vedava o acesso, porque elas, fracas mulheres, não o podiam fazer.
Frente ao túmulo e à morte encontra-se esta pesada pedra, uma pedra de inquietação e de medo frente à noite escura da morte, uma pedra constituída por tudo o que pesa no homem.
No filme “A Ilha”, de Pavel Longuine, quando o staretz Anatoli, sabendo que chegara a sua hora, se deita no caixão, o padre Job pergunta-lhe se a morte provoca medo, ao que Anatoli responde que não, que o que verdadeiramente assusta é a perspectiva do encontro face a face com Deus.
Neste sábado e noite pascal, a pedra que selava o sepulcro foi retirada, a passagem foi aberta e assim como Maria de Magdala, Maria mãe de Tiago e Salomé encontraram o sepulcro aberto, também nós nesta noite encontramos a pedra retirada.
Deus retirou a pedra para nós, a sua vida e a sua luz foi mais forte que todas as pedras, que todos os medos e todos os desaires. O túmulo foi derrubado pelo Sol que nele se tinha encerrado e uma nova criação se inicia, um novo mundo e uma nova história.
Ao ver tal espectáculo as mulheres da manhã de Páscoa tiveram medo, ficaram assustadas, mas nada mais há a temer, nem para elas nem para nós. Deus nesta noite cumpre o seu projecto de felicidade, pois o seu desejo de luz, alegria e vida para os homens é finalmente conseguido. No seu Filho Jesus todos os homens voltam ao seio do Pai.
A Pascoa é assim um convite a libertar-se do medo, a gozar a alegria da luz e da vida, a enfrentar a morte sem temor porque Jesus vai à nossa frente iluminando e abrindo todas as portas. Já não necessitamos ter medo, como o staretz Anatoli, do encontro face a face com Deus.
Na Páscoa fazemos a experiência da realidade que deve ser a nossa vida, o nosso peregrinar em direcção à Pascoa definitiva e eterna, uma experiência de libertação do medo e de todos os fardos que nos podem barrar a passagem. Aos poucos vamo-nos acostumando à luz do Ressuscitado e da Ressurreição, preparando os olhos para ver a face de Deus luminosa.

Ilustração: “As três Marias”, de Peter Paul Metz, Igreja Paroquial de Ailingen.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Na passagem célere e silenciosa das horas deste dia de Sábado Santo – Vigília Pascal, leio e releio a partilha do texto da Meditação que urdiu e partilha. Fico num silêncio meditativo, pela espiritualidade, pela beleza, pelo conteúdo profundo que o mesmo encerra e não resisto a transcrever algumas das passagens que me tocam profundamente.
    ...” Frente ao túmulo e à morte encontra-se esta pesada pedra, uma pedra de inquietação e de medo frente à noite escura da morte, uma pedra constituída por tudo o que pesa no homem.(…)
    Deus retirou a pedra para nós, a sua vida e a sua luz foi mais forte que todas as pedras, que todos os medos e todos os desaires. O túmulo foi derrubado pelo Sol que nele se tinha encerrado e uma nova criação se inicia, um novo mundo e uma nova história.(…)
    A Pascoa é assim um convite a libertar-se do medo, a gozar a alegria da luz e da vida, a enfrentar a morte sem temor porque Jesus vai à nossa frente iluminando e abrindo todas as portas. Já não necessitamos ter medo, como o staretz Anatoli, do encontro face a face com Deus.”…
    Em sentido figurado, diria, Frei José Carlos, que há um motivo, para que a Páscoa aconteça na primavera, é a estação da renovação da vida vegetal, que ajuda a revigorar o ser humano, da passagem para um tempo novo, de vida, de luz.
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, pelo estímulo e pela força que nos transmitem, por nos recordar que …” Na Páscoa fazemos a experiência da realidade que deve ser a nossa vida, o nosso peregrinar em direcção à Pascoa definitiva e eterna, uma experiência de libertação do medo e de todos os fardos que nos podem barrar a passagem.”
    Que o Senhor seja a nossa luz nos dias cinzentos e a candeia que nos ilumina nas noites de busca, de vigia e de escuta. Que o Senhor o ilumine e o abençoe.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    Peço-lhe que me permita que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP.

    páscoa de páscoas

    I

    Deus, Páscoa de páscoas,/Deus da nossa noite do coração,/do deserto que nos paralisa,
    sem visiões de água//ou rumores de gente ou história,/dá-nos a coragem de avançarmos
    pela água dentro/porque vais à frente do nosso medo/e a profecia que visa a justiça nos precede//

    transforma a parte do nosso dia a dia/feita de medo e de cansaço e de impiedade,/transforma a
    nossa fuga em festa iluminada!//

    venha a tua Páscoa e realizem-se as figuras/por que visivelmente te dizemos,/sem a arrogância
    sabática dos apocalípticos//

    que a tua Palavra nos intime e mova/ a nascer de ti cada dia,// Deus que vens do futuro e
    passaste a morte glorioso//

    é a ti que cantamos,/na comunhão do Espírito criador,/ e é a tua bênção que invocamos,/
    Pai, Filho e Esírito Santo

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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