terça-feira, 10 de abril de 2012

Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes… (Jo 20,17)

Maria Madalena é no Evangelho de São João uma profunda fonte de acesso ao mistério de Jesus, pois não só testemunhou a sua morte na cruz, era uma das mulheres que vindo da Galileia com Jesus se encontrava em Jerusalém aquando da sua morte, e mais precisamente junto da mãe de Jesus, como depois na manhã da ressurreição foi a primeira testemunha da revelação do ressuscitado.
É nesta manhã de Páscoa e neste encontro que Maria Madalena é encarregue de uma urgente e certamente difícil missão, ir anunciar aos discípulos, àqueles que tinham fugido no momento de perigo e ameaça, que Jesus tinha ressuscitado e os precederia na Galileia.
Maria Madalena assume desta forma a função daqueles mesmos anjos que ela tinha encontrado no interior do túmulo onde tinham depositado Jesus mas no qual já nada existia e que lhe tinham perguntado porque chorava. Maria Madalena transforma-se em anjo, o mensageiro encarregue de levar a Boa nova da ressurreição de Jesus.
Maria Madalena é assim solicitada a assumir a ousadia de tomar a palavra junto dos discípulos, de testemunhar uma realidade inusitada, ela que como mulher e na cultura vigente não seria digna de crédito. Ela deve dizer quem viu e o que ouviu.
A mensagem de Maria Madalena é extremamente importante, de uma importância que ultrapassa a própria ressurreição, pois o que Jesus lhe pede que anuncie é que sobe para o seu Pai e nosso Pai, para o seu Deus e o nosso Deus.
E Maria Madalena pode fazer este anúncio, pode anunciar aos discípulos de uma forma credível a mensagem de Jesus na medida em que ela própria a tinha já experimentado. Quando Jesus a chama pelo seu nome, Maria, está a convidá-la a entrar na inteligência e compreensão da natureza de Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, Filho do Pai e Irmão de todos os homens, pessoa que vive em relação, que foi capaz de estabelecer pontes de relação, a amizade entre Deus e os homens.
Também ao proibi-la de o agarrar, de o deter, Jesus mostra a Maria Madalena que ele pertence já a outra realidade que está para além do mundo físico, uma realidade que os homens são convidados também a assumir e a viver, a realidade da filiação e da fraternidade que está para além da carne e do sangue.
Nesta fraternidade e filiação propostas e iniciadas por Jesus o homem pode descobrir que tem um Deus que é pai da humanidade, e pela qual se apaixonou de tal modo que foi capaz de lhe entregar o próprio filho para a recuperar.
Maria Madalena é assim convidada pelo Senhor ressuscitado a anunciar aos seus irmãos que Jesus foi libertado da morte e todos os homens foram libertados da exclusão do pecado. E como ela também nós somos convidados a realizar o mesmo anúncio, a levar aos nossos irmãos a mesma Boa Nova.

Ilustração: “Noli me tangere, da Oficina de Peter Paul Rubens, Rijksmuseum, Amesterdão.

2 comentários:

  1. Frei José Carlos,

    Leio e fico a reflectir no texto da Meditação que urdiu e partilha connosco. Texto profundo, maravilhoso e que ilustrou com tanta beleza. Interrogo-me sobre Maria, a Madalena e pergunto-me se à semelhança de outras mulheres não foi (foram) elas próprias discípulas, testemunhas de Jesus. Maria Madalena, reveladora inicialmente de uma fé imperfeita, como alguns de nós, quando procura Jesus no túmulo, quando tenta deter Jesus mas que se transforma quando “aceita a difícil missão apostólica” de ir anunciar a Boa Nova.
    Como nos salienta no texto ...” Maria Madalena transforma-se em anjo, o mensageiro encarregue de levar a Boa nova da ressurreição de Jesus.(…)
    (…) A mensagem de Maria Madalena é extremamente importante, de uma importância que ultrapassa a própria ressurreição, pois o que Jesus lhe pede que anuncie é que sobe para o seu Pai e nosso Pai, para o seu Deus e o nosso Deus.
    E Maria Madalena pode fazer este anúncio, pode anunciar aos discípulos de uma forma credível a mensagem de Jesus na medida em que ela própria a tinha já experimentado. Quando Jesus a chama pelo seu nome, Maria, está a convidá-la a entrar na inteligência e compreensão da natureza de Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, Filho do Pai e Irmão de todos os homens, pessoa que vive em relação, que foi capaz de estabelecer pontes de relação, a amizade entre Deus e os homens.”…
    Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, por nos recordar que à semelhança de Maria Madalena também nós somos convidados “a anunciar aos nossos irmãos que Jesus foi libertado da morte e todos os homens foram libertados da exclusão do pecado”.
    Que o Senhor o abençõe e o guarde.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

    P.S. Permita-me que partilhe um poema de Frei José Augusto Mourão, OP.

    o linho e o nardo

    Deus que alumias/a respiração desta hora,/a alternância do luto/e da alegria/em nosso corpo//

    revista-nos a glória do teu ungido,/o ressuscitado de entre os mortos,/e que o teu Espírito nos
    ensine/a viver e a morrer/com a paixão do testemunho/que conheceu o nardo/e tocou o linho/
    e te reconheceu nos ritmos do mundo,//

    Pai de toda a criação,/que invocamos nesta hora/ de lonjuras e de laços//

    (In, “O nome e a Forma”, Pedra Angular, 2009)

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  2. Frei José Carlos,

    Muito grata,pelo maravilhoso e belo texto sobre o Evangelho de São João que propôs para Meditação,tão profundo,tão rico de sentido,que nos ajuda a reflectir mais profundamente.A ilustração excelente,o Senhor Jesus com Maria Madalena que muito gostei.
    Obrigada,Frei José Carlos,por todos os textos maravilhosos e profundos com as ilustrações magníficas,que nos ajudam a Meditar mais e melhor,toda esta semana pascal.Bem-haja,Frei José Carlos,por toda a partilha de belas Meditações,que partilhou connosco.As suas belas palavras são muito gratificantes.Que o Senhor Ressuscitado o ilumine e proteja.
    Um abraço fraterno.
    AD

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