sexta-feira, 6 de abril de 2012

Vigilantes em frente do sepulcro (Mt 27,61)

Tudo está consumado e o corpo jaz suspenso no madeiro. Os chefes dos escribas e dos fariseus retiram-se e a arruaça termina. Não há nada mais para ver. Junto ao corpo já sem vida e sem cor apenas a mãe, João e as mulheres que vieram desde a Galileia.
Surpreendentemente e do desconhecido surge José de Arimateia já com a licença de Pilatos para que lhe entregassem o corpo de Jesus. Com ele vem Nicodemos para ajudar a descer o corpo do madeiro.
À pressa, pois é já a preparação do sábado, envolvem o corpo de Jesus num lençol e colocam os poucos aromas que conseguiram reunir para o sepultamento, e sem qualquer demora transportam-no para o sepulcro novo que existia escavado na rocha no jardim ali ao lado.
Nada mais havia a fazer, pelo menos enquanto não passasse o sábado, mas ainda assim Maria de Magdala e a outra Maria ficaram sentadas frente ao sepulcro, vigilantes.
Podemos perguntar-nos o que ficaram a fazer estas mulheres, o que esperavam, quais eram as suas expectativas para terem ficado sentadas frente ao túmulo, quanto todos se retiravam e tudo tinha terminado.
Ainda que houvesse alguma expectativa, alguma esperança, a sua permanência junto ao sepulcro deve-se antes de mais ao amor, à dor da perda daquele que amavam pela salvação alcançada e que agora parece que desaparecia das suas vidas.
Nesta noite de Sexta-feira Santa somos também convidados a permanecer vigilantes, a guardar amorosamente o túmulo do Senhor Jesus, e não pelo temor de o perder ou de que o roubem, mas por amor, por gratidão pela salvação que nos alcançou.
Maria de Magdala e a outra Maria não sabiam muito bem o que guardavam para além do corpo chagado e já sem vida do Senhor Jesus; nós pelo contrário sabemos que guardamos o preço do resgate da nossa vida, cujo valor é demasiado alto para que o possamos deixar de guardar.
Não foi com ouro nem com prata que fomos resgatados da nossa vã maneira de viver, mas com o corpo e o sangue do Filho do Homem e que agora jaz no sepulcro em jubilosa espera pela manhã da ressurreição.
Devemos por isso vigiar, permanecer frente ao sepulcro, aguardando igualmente a manhã da ressurreição, pois nessa manhã juntos resplandeceremos o brilho da vitória alcançada sobre a morte e a glória da filiação divina que nos é oferecida.

Ilustração: “Maria Madalena”, por Nicolas Régnier.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Bem-haja por nos recordar que, à semelhança de Maria de Magdala e a outra Maria …” Nesta noite de Sexta-feira Santa somos também convidados a permanecer vigilantes, a guardar amorosamente o túmulo do Senhor Jesus, e não pelo temor de o perder ou de que o roubem, mas por amor, por gratidão pela salvação que nos alcançou.(…)
    (…) sabemos que guardamos o preço do resgate da nossa vida, cujo valor é demasiado alto para que o possamos deixar de guardar.”
    Obrigada, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, profundas e belas, por salientar-nos que …” Não foi com ouro nem com prata que fomos resgatados da nossa vã maneira de viver, mas com o corpo e o sangue do Filho do Homem e que agora jaz no sepulcro em jubilosa espera pela manhã da ressurreição”, por convidar-nos a …” vigiar, permanecer frente ao sepulcro, aguardando igualmente a manhã da ressurreição, pois nessa manhã juntos resplandeceremos o brilho da vitória alcançada sobre a morte e a glória da filiação divina que nos é oferecida.” Que o Senhor o abençõe e proteja.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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