A última ceia de Jesus
com os discípulos, antes da sua paixão, é um momento paradoxal, um momento em
que a luz e as trevas se fazem presentes, em que o amor e a traição se contrastam
de tal maneira que é impossível ficar insensível.
É nesta ceia que os discípulos
aparecem perdidos, desconcertados face aos gestos de Jesus, como a lavagem dos
pés. Mas por outro lado, e após as diversas promessas do Espirito Santo, que
lhes era tão estranho como tudo o que viviam, afirmam a Jesus que agora lhes
falava claro, que agora tudo se tornava compreensível.
Como estavam enganados,
e como Jesus bem o sabia! Por isso diante da confiança que eles manifestavam Jesus
coloca-os imediatamente face ao abandono, à dispersão que a sua prisão
provocaria. Afinal, na compreensão que diziam ter havia ainda outros interesses
presentes.
O anúncio de Jesus,
marcado certamente pela tristeza, não está carregado de azedume nem de revolta,
enuncia-se apenas como uma evidência face às circunstâncias. O abandono dos discípulos
não se compara com o amor do Pai, amor e presença que permanecem para além de
todas as circunstâncias.
Este anúncio de Jesus,
e o convite que se lhe segue para que tenham a paz, mostra-nos o olhar mais
largo de Jesus, a sua perspectiva de futuro, a confiança que deposita nos discípulos
para além do imediato e do abandono. Jesus acredita na recuperação da fidelidade,
na conversão dos discípulos.
Esta confiança e esta
visão mais alargada deveriam ser para nós um alento, um incentivo a não temer o
regresso à fé, o regresso à Igreja, a não temer a conversão. Jesus conhece-nos
e conhece as nossas infidelidades, sabe quantas vezes o deixámos só e o abandonámos.
A nossa fé pode
fraquejar, a nossa fidelidade pode andar um pouco frouxa, mas ainda assim Jesus
deixa-nos a sua paz, abre-nos a porta da sua confiança para que possamos
regressar, para que retomemos a relação com ele.
Ele nunca está só, mas
nós podemos ficar sós, e por essa razão nos deixa a sua paz para não nos
perdermos na nossa solidão.
Realmente ficamos muitas vezes sós, sobretudo quando a nossa fé fraqueja, quando a nossa fidelidade está longe de ser o que devia. Nesses momentos é que verdadeiramente precisamos de confiar, de sentir a paz de Deus, para sermos capazes de de voltar para trás e recomeçar. Inter Pars
ResponderEliminarCaro Frei José Carlos,
ResponderEliminarApós a leitura atenta do texto da Meditação que partilha interroguei-me se deveria escrever algumas linhas que não revestissem o cariz de um “libelo”. Nas linhas quebradas da vida de muitos de nós, a dúvida não reside na espera, no acolhimento de Jesus porque como afirma ...” Jesus conhece-nos e conhece as nossas infidelidades, sabe quantas vezes o deixámos só e o abandonámos”. … Acreditamos que Jesus na Sua infinita misericórdia espera por todos. E é bom saber que assim é.
E, permita-me, Frei José Carlos, a forma directa e sem rodeios como me exprimo. As razões do afastamento, a dificuldade no regresso não à fé mas à Igreja, resulta, em parte, do acolhimento, da compreensão e do comportamento de alguns dos seus membros. E sentimos quão importante é a vida em comunidade …
Como salienta …” O anúncio de Jesus, marcado certamente pela tristeza, não está carregado de azedume nem de revolta, enuncia-se apenas como uma evidência face às circunstâncias (…) e o convite que se lhe segue para que tenham a paz, mostra-nos o olhar mais largo de Jesus, a sua perspectiva de futuro, a confiança que deposita nos discípulos para além do imediato e do abandono”. …
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, que são um estímulo, um alento, por recordar-nos que …” Jesus deixa-nos a sua paz, abre-nos a porta da sua confiança para que possamos regressar, para que retomemos a relação com ele.” …
Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o proteja.
Boa semana. Bom descanso.
Fraternalmente,
Maria José Silva