segunda-feira, 30 de abril de 2012

Eu sou a porta. (Jo 10,9)

Face à incompreensão, por parte dos seus ouvintes, da identificação daquele que escutam com o pastor prometido a Israel, Jesus vê-se obrigado a recorrer à imagem da porta, a essa metáfora em que se apresenta como a passagem pela qual os homens podem e devem passar para alcançar a vida.
É uma imagem extremamente sugestiva e rica, pois a porta faz recordar a casa, o abrigo, o local que protege e também o local de reunião da família. Por outro lado, a porta sugere também o acolhimento, a abertura para que o outro entre e partilhe connosco, a comunidade aberta ao que chega.
Com esta imagem da porta Jesus abre um campo imenso de possibilidades, ainda que a passagem seja aquela que mais ganha preponderância, uma vez que também esta ideia faz alusão à Pascoa, a grande passagem. Jesus é assim a Páscoa, a saída do Egipto para entrar na terra prometida, a passagem dos homens para Deus e de Deus para os homens, Jesus é a nova Aliança.
E neste sentido da passagem há que ter presente que Jesus apresenta um movimento de entrada e um movimento de saída, há um entrar pela porta e um sair pela porta.
Somos assim convidados a entrar na sua intimidade, na relação com Deus em Jesus Cristo, a passar a porta para dentro, mas para o fazer temos que sair das nossas certezas e infidelidades, temos que sair para fora do nosso mundo escravizado.
Por outro lado, e no sentido inverso, se somos convidados a passar a porta no sentido de sair, é porque a intimidade vivida com Jesus, a experiência divina nos impele e obriga a partilhá-la, a trazê-la ao mundo, a entrar com a liberdade e a verdade de Jesus nos campos que necessitam de ser convertidos.
Não podemos portanto deixar de escutar a voz de Jesus, que como Bom Pastor nos chama e nos convida a entrar e a sair dele e por ele, a ganhar a vida na sua vida e a partilhá-la com os outros que necessitam.
A porta está aberta, foi aberta para que possamos passar, atrevamo-nos a transpô-la.

Ilustração: “Mulher da Bretanha à soleira da porta”, de Anna Bilinska-Bohdanowicz, Museu Nacional de Varsóvia.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Li e reli o texto da Meditação que elaborou e partilha. Mergulhei nele. É profundo, directo e muito belo. A imagem da porta é extremamente rica com múltiplas significações, como nos refere. É essencialmente passagem, a sugerir-nos tudo o que nos descreve, num “movimento especial de dança na relação com Deus em Jesus Cristo”.
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha desta maravilhosa Meditação, por nos recordar que … “Somos assim convidados a entrar na sua intimidade, na relação com Deus em Jesus Cristo, a passar a porta para dentro, mas para o fazer temos que sair das nossas certezas e infidelidades, temos que sair para fora do nosso mundo escravizado.
    Por outro lado, e no sentido inverso, se somos convidados a passar a porta no sentido de sair, é porque a intimidade vivida com Jesus, a experiência divina nos impele e obriga a partilhá-la, a trazê-la ao mundo, a entrar com a liberdade e a verdade de Jesus nos campos que necessitam de ser convertidos.”…
    Aceitemos o convite que Frei José Carlos nos deixa, cientes das responsabilidades ...”A porta está aberta, foi aberta para que possamos passar, atrevamo-nos a transpô-la.”…
    Um grande obrigada pelas palavras de estímulo, força, esperança que nos deixa. Que o Senhor o abençoe e o guarde, Frei José Carlos.
    Votos de uma boa semana.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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