sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A semente germina e cresce sem o semeador. (Mc 4,27)

É inquestionável que todos nós gostamos de ver os frutos do nosso trabalho, que apreciamos a possibilidade de controlar o desenvolvimento dos nossos projectos, e que muitas vezes desejamos que rapidamente o projecto chegue ao seu termo, produza os seus melhores frutos.
No âmbito da Igreja os agentes pastorais não estão isentos nem inumes a este desejo e também aqui desejamos rapidamente ver os frutos do nosso trabalho, do nosso apostolado, aspiramos a controlar o desenvolvimento dos nossos projectos e missões.
O Evangelho, e muito concretamente as parábolas de Jesus nas quais o Reino de Deus é comparado à sementeira, apresenta-nos no entanto outra realidade, vem de certa forma em contramão às nossas aspirações e desejos, mostra-nos como sofremos de uma grave tentação.
Para Deus e face à Palavra que é semeada não interessam os terrenos, os tipos de terreno nos quais a semente da Palavra cai. O importante é que o semeador lança a semente, sem qualquer preocupação de rentabilidade.
Para Deus também não importa o tempo, ou melhor a rapidez da produção, porque Deus tem tempo e parte do princípio que é necessário tempo para que a semente da Palavra germine, cresça, e chegue a dar frutos, e muitas vezes frutos insuspeitos.
Neste sentido, devemos aprender como é importante a paciência, como é necessário o tempo de espera, como há um mistério que nos ultrapassa e sobre o qual não temos controlo nem conhecimento pleno.
A nós, agentes pastorais, não nos deve preocupar a produção dos frutos, os terrenos em que semente cai, mas sim a sementeira, a qualidade da sementeira, porque é essa a nossa missão, é esse o nosso trabalho, sair a semear. A terra pertence ao outro e a força da semente a Deus.
Se o Senhor nos chama ao seu trabalho, à sementeira da Palavra, saibamos nós confiar, fazer confiança na boa terra em que lançamos a semente e na força e acção de Deus que no maior segredo trabalha a terra de cada coração. É a nossa confiança que pode ajudar a produzir os frutos.

 
Ilustração: “O Semeador”, de Robert Zünd.

2 comentários:

  1. Quem não gosta de ver os frutos do seu trabalho, da sua acção? Lançar a semente, confiando apenas que a obra é de Deus... será para todos? Inter Pars

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  2. Caro Frei José Carlos,

    É com interesse que li a descrição feita por Jesus sobre o crescimento do Reino de Deus e o texto que sobre o mesmo teceu. Como afirma é humano desejar conhecer os frutos das acções/projectos que desenvolvemos em qualquer dimensão da vida, incluindo o trabalho realizado no seio da Igreja. Nas mais diversas realidades, há sempre algo que nos ultrapassa como actor, mas na vida religiosa, pela sua especificidade, e quando a mesma é vivida com verdade e coerência ao serviço de Deus e dos outros, nossos irmãos, o dom, a graça recebida, na sua transmissão, concretiza-se numa sementeira que se distribui por uma diversidade de terras, cujos frutos, resultados, o agente religioso nunca conseguirá medir os seus efeitos. Por vezes, o leigo, só consegue perceber a influência de determinado encontro(s) ou as palavras escutadas e meditadas, ao longo do tempo, sem compreender o que se operou. Só o Espírito Santo sabe como tudo se realizou. O importante é a paciência, a confiança, a bondade, o amor com que as sementes são dispersas.
    Permita-me que respigue algumas passagens do texto. ...” devemos aprender como é importante a paciência, como é necessário o tempo de espera, como há um mistério que nos ultrapassa e sobre o qual não temos controlo nem conhecimento pleno.
    A nós, agentes pastorais, não nos deve preocupar a produção dos frutos, os terrenos em que semente cai, mas sim a sementeira, a qualidade da sementeira, porque é essa a nossa missão, é esse o nosso trabalho, sair a semear. A terra pertence ao outro e a força da semente a Deus.”…
    Este texto, Frei José Carlos, vem também ao encontro de uma questão que alguns de nós colocamos desde há muito. Como sair do modo de actuação tradicional da Igreja e estabelecer uma outra relação com o homem, vir ao encontro de muitos de nós que sofrem profundamente, que pelos motivos mais diversos procuram um sentido para as suas vidas, que não ousam entrar numa Igreja e procurar alguém ... que os possa ajudar!
    Grata, Frei José Carlos, pela importância das palavras partilhadas, que nos merecem toda a reflexão e nos levam mais longe, questionando-nos sobre a urgência de “sair a semear”.
    Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
    Votos de um bom domingo, com paz, alegria, confiança e esperança.
    Bom descanso.
    Um abraço mui fraterno e amigo,
    Maria José Silva

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