Neste dia de Páscoa,
no qual a leitura dos Actos dos Apóstolos nos apresenta Pedro, diante da
multidão, a interpelar os seus ouvintes, dizendo-lhes que todos eles sabem o
que aconteceu com Jesus de Nazaré na Judeia e na Galileia, podemos igualmente
dirigir-vos as mesmas palavras.
Também vós sabeis o
que aconteceu com Jesus, conheceis o bem que fez, as curas e milagres que
operou, como foi amigo de todos, como procurou fazer o bem e salvar todos
aqueles que sofriam. Sabeis também como pela sua liberdade foi julgado e
condenado, foi conduzido ao suplício da cruz e aí morreu.
Esta é aquela que
podemos chamar a experiência histórica, a que nos pode ser dada por qualquer
testemunha, mesmo por aqueles que o negam ou se recusam a acreditar. Esta é a
história comum que o povo pôde testemunhar, os gestos e as atitudes que os
olhos puderam ver.
Contudo, e tal como
Pedro também afirma no seu discurso ao povo, houve algumas testemunhas
particulares, houve alguns homens e mulheres que fizeram uma experiência
diferente, homens e mulheres aos quais foi dado perceber que Jesus era o ungido
de Deus, que os seus gestos e milagres eram consequência da força do Espirito
Santo que o habitava.
Estes homens e
mulheres puderam por isso fazer a experiência da ressurreição, eles que o
tinham conhecido na intimidade, em momentos particulares de revelação da sua
identidade, puderam encontrar-se com Jesus para além da sua morte na cruz,
porque a mesma força do Espirito os iluminava.
Esta experiência da
ressurreição não foi no entanto fácil, pelo contrário, muitas vezes titubeou entre
o maravilhoso e a incredulidade, passou em muitos casos por um desencontro, ou
um encontro complexo com o túmulo vazio como aconteceu com Maria Madalena,
Pedro e João.
Se aquela que vai ser
a primeira testemunha do ressuscitado sai desesperada do encontro com o túmulo
vazio, Pedro, o primeiro dos apóstolos, fica atónito e estupefacto, enquanto o discípulo
amado acredita sem qualquer questão. Atitudes diferentes para a mesma
experiência do vazio, da perda, face ao material que testemunha a ausência do
corpo de Jesus como são o pano do sudário e as ligaduras abandonadas.
Será a memória dos
acontecimentos, dos encontros pessoais, interpretada com amor à luz da
Escritura, da Palavra e promessa de Deus, que tal como nos diz o Evangelho de
São João permitirá entender o que significa a ressurreição.
No caso de Maria
Madalena é o apelo pelo nome, apelo que exige liberdade, a liberdade de deixar
subir para o Pai aquele que se ama, porque também ele a deixou ir livre um dia
sem a condenar pelos seus pecados. No caso de Pedro é a questão da fidelidade no
amor, por três vezes questionada, ele que tinha sido instituído de autoridade com
a mudança do nome de Simão para Pedro, e que tinha negado por três vezes aquele
que lhe dera essa mesma autoridade.
Cada um dos discípulos
faz a experiência da ressurreição à luz da sua relação pessoal com Jesus, da
sua história lida e contada com amor. De certa forma cada um participa da
ressurreição na medida em que encontra a sua vida escondida em Cristo, em que se
sente presente na própria vida de Jesus.
E este é o desafio que
se nos coloca de percebermos e vivermos a ressurreição de Jesus, ou seja,
quanto maior é a nossa intimidade com ele, quanto maior é a nossa assimilação à
sua vida, a nossa participação no seu amor e vida obedientes ao Pai, tanto
maior é a nossa compreensão e experiência da ressurreição.
Tal como diz São Paulo
aos Colossenses a nossa vida e a nossa morte estão já presentes em Jesus, estão
escondidas na sua humanidade assumida e na divindade revelada, e por isso
devemos aspirar às coisas do alto, devemos afeiçoar-nos àquelas realidades que
manifestam a nossa vida ressuscitada, a nossa condição de redimidos e assumidos
como filhos de Deus.
A ressurreição de Jesus
que celebramos na Páscoa é assim a celebração da nossa ressurreição, o que nos
exige e compromete na vida como ressuscitados, homens e mulheres de vida vivida
em plenitude e verdade.
1 - “A Ressurreição”, de Tintoretto.
2 - Arranjos florais para a cruz gloriosa na igreja de Cristo Rei, Porto.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarSanta Páscoa! Ainda que afastado está sempre presente, recordado pela mão que estende e conforta.
Um abraço,
GVA
Caro Frei José Carlos,
ResponderEliminarAo iniciarmos o tempo da Páscoa, vivendo a alegria da Ressureição do Senhor e a vitória do Amor de Deus sobre o pecado e a morte, deixa-nos um grande desafio:…” o de percebermos e vivermos a ressurreição de Jesus”… .
Saibamos libertar-nos do que nos impede de viver a vida em “plenitude e verdade” e confiar que Cristo vivo está entre nós, no coração, na palavra, no serviço, nos gestos de amor de cada um de nós com Deus e o próximo, nosso irmão.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha do texto da Homília da Páscoa do Senhor Ressuscitado, profunda, simples, mas nem sempre fácil de realizar, por exortar-nos a fazer a “experiência da ressurreição à luz da (…) relação pessoal com Jesus”…
Que o Senhor o cumule de todas as bençãos.
Votos de uma boa semana.
Bom descanso.
Um abraço mui fraterno e amigo,
Maria José Silva
P.S. Permita-me que deixe um link para o video Christus Resurrexit - Taize
https://www.youtube.com/watch?v=6IzzzVWPpIU
Frei José carlos,
ResponderEliminarMais uma vez obrigado pelo seu trabalho, esta nova forma de podermos interiorizar estas palavras, estes exemplos, que por vezes lidos de outra forma mais compacta se tornam mais difíceis ou menos perspectiveis, por vezes por por acomodação ou timidez não estamos tão a vontade com os representantes que nos podem tonar melhores cristãos,seguir o melhor caminho a jesus Cristo.
Filomena Miranda
Frei José Carlos,
ResponderEliminarAo ler a maravilhosa e bela Homília da Páscoa da Ressurreição do Senhor,profunda e tão rica de sentido para todos nós,e pela beleza de ilustração,gostei muito.Obrigada,Frei José Carlos,pelas palavras partilhadas,que nos dão força para a nossa caminhada.Que o Senhor o ilumine o guarde e o proteja.Bem-haja.Desejo-lhe um boa semana de Pascoa.Bom descanso.
Um abraço fraterno.
AD