A última ceia de Jesus
com os discípulos é um grande momento de verdade, de confronto com a verdade. Por
um lado Jesus assume a realidade do seu dom total e propõe a radicalidade do seguimento
pela lavagem dos pés, por outro lado manifesta-se a traição e a infidelidade
daqueles que ali mesmo se afirmam seus amigos incondicionais, dispostos a tudo,
até a segui-lo para onde não sabem.
Quando tudo parece
perfeito não há qualquer temor, quando tudo está bem com a vida não há qualquer
dúvida, qualquer medo. Acontece assim com todos nós, connosco que somos jovens dinâmicos,
avós divertidos, homens de sucesso, mulheres e mães realizadas; a todos nós,
que tal como Pedro estamos dispostos a seguir Jesus, ainda que sem saber para
onde ele vai e para onde nos possa levar.
E para onde Jesus se
encaminha é para a verdade, para a verdade da sua vida e da sua missão, para a
morte que culmina o mistério da sua encarnação e da nossa redenção. E aqui,
inevitavelmente estacamos o pé, colocamos as máscaras, pois não é fácil
enfrentar a verdade da nossa vida, não é fácil confrontarmo-nos connosco próprios
e com a nossa missão primordial.
Como Pedro temos medo
de enfrentar a verdade de ser discípulos, de ser filhos de Deus, deixamo-nos
desfigurar pela mentira, pelo mal, e sem que tenhamos consciência desfiguramos
o próprio Deus em que acreditamos, a missão a que fomos chamados e o projecto
de felicidade a que a criação divina nos destinou.
O fim do caminho de
Jesus, traduzido de forma visual na nudez da cruz, no seu corpo verdadeiro exposto
aos olhares de todos, apela-nos à verdade, ao retirar das máscaras, ao abandono
da mentira e ao encontro com a verdade de nós próprios. Só na verdade podemos
estar verdadeiramente bem na vida e com a vida.
O cantar do galo despertou
Pedro da mentira, fez com que caíssem as máscaras que o desfiguraram. Que estes
dias da Semana Santa nos libertem também das máscaras que nos desfiguram e nos
ajudem a encontrar a nossa verdade pessoal.
"Que estes dias da Semana Santa nos libertem das máscaras..." é um voto e um pedido que lhe agradeço e que faço meu.
ResponderEliminarÉ bem verdade que as máscaras são o disfarce para não vermos a realidade e a verdade da nossa vida.E, igualmente ,para não nos mostrarmos na nudez da nossa realidade, para não enfrentarmos o desconforto da nossa verdade. Inter Pars
ResponderEliminarCaro Frei José Carlos,
ResponderEliminarAo longo da História e da vida de cada um de nós, os períodos de crise, com mais ou menos violência sempre trouxeram à luz do dia, o que na realidade somos, o mais profundo que há em cada um de nós, que recusamos aceitar, ao qual nos entregamos como num jogo, que ultrapassa a dança das máscaras, porque mais amplo e dissimulado, mais subtil, actuando como se a nossa natureza fosse mimética.
Assumir o comportamento de um ser livre, sem transigir com a hipocrisia, o cinismo, a inveja, a mesquinhez, a injustiça, a mentira, a misericórdia, tem um preço muito alto, sejamos crentes ou não crentes. As consequências podem ser a aniquilação do próprio ser. E, Jesus que assumiu a nossa humanidade excepto no pecado e que foi capaz de enfrentar o “status quo” que vai para além da religião “oficial”, o Seu testemunho de Vida, de Palavra, de Verdade, leva-nos a meditar nesta Semana Santa, a Sua Paixão e Morte de cruz, Deus na Sua nudez, ganhando coragem para reflectir e encarar as nossas fraquezas visíveis e invisíveis, as nossas misérias mas também o que somos de melhor, na humildade.
Como nos recorda …”Como Pedro temos medo de enfrentar a verdade de ser discípulos, de ser filhos de Deus, deixamo-nos desfigurar pela mentira, pelo mal, e sem que tenhamos consciência desfiguramos o próprio Deus em que acreditamos, a missão a que fomos chamados e o projecto de felicidade a que a criação divina nos destinou.”
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas que nos levam a reflectir sobre como somos e como nos revelamos no quotidiano e em todas as dimensões da vida, por salientar-nos que …”Só na verdade podemos estar verdadeiramente bem na vida e com a vida.”. …
Que o Senhor o ilumine, o abençoe e o guarde.
Bom descanso.
Um abraço mui fraterno e amigo,
Maria José Silva