A cura do paralítico
junto à piscina de Betsatá em Jerusalém é o acontecimento no Evangelho de São João
que provoca a discussão sobre o poder de Jesus para agir de tal forma.
Numa primeira
abordagem está em causa o sábado e a acção de Jesus no dia preceituado para o
descanso, mas nela subjaz a grande questão do poder para alterar as realidades,
sejam elas físicas, espirituais, ou jurídicas e culturais.
Numa outra passagem,
Jesus é mesmo acusado pelos seus interlocutores e acusadores como agente do
demónio, e portanto perturbador da ordem normal aceite e reconhecida, ainda que
essa ordem estabelecida esteja eivada de uma desordem, de uma inadequação ao mesmo
princípio fundador.
Jesus aproveita esta
discussão e estas críticas para fundamentar a sua acção e o seu poder, para
apresentar aos seus interlocutores que nada acontece por sua única iniciativa,
que a sua acção tem um princípio e um fim que o ultrapassam e radicam na
vontade e acção de Deus que é Pai.
Jesus não está sozinho
na sua missão e os seus gestos e as suas palavras estão em perfeita união com o
Pai, são uma revelação do próprio Pai, razão para que nada aconteça sem o
conhecimento e o consentimento do Pai, ou contra a vontade do Pai.
Esta consciência de
Jesus, esta união íntima com o Pai, é afinal um desafio que se coloca àqueles
que o ouvem, e a cada um de nós, uma vez que nos devemos interrogar sobre as
nossas palavras e acções e a sua relação vital com Deus.
Será que também nós
temos ou procuramos ter um sentimento de dependência de Deus? Será que a confiança
e a ousadia nos projectos a que nos entregamos, nas soluções que procuramos,
assenta nas nossas poucas forças humanas, ou pelo contrário está alicerçada na
fé de que é Deus que vai agindo em nós e connosco?
Quando algumas vezes
nos confrontamos com decepções e derrotas, não será porque confiámos mais nas
nossas forças, nas nossas capacidades, que na força e no poder de Deus? Não
será porque nos esquecemos de unir as nossas forças à vontade de Deus?
Que cada dia nos
encontremos cada vez mais com a acção de Deus em nós e por nós e na nossa
humildade de simples instrumentos nos unamos cada vez mais ao Pai e acolhamos a
sua vontade.
Ilustração: Igreja
paroquial de São Filipe e São Tiago em Vernier, Genebra.
Frei José Carlos,
ResponderEliminarO texto da Meditação que teceu leva-nos a reflectir na forma como vivemos o nosso quotidiano, o mundo e a sociedade que construímos, de insatisfação, do ter, do poder e do dinheiro. Desinstala-nos, leva-nos a ir para além de nós. Esquecemos que somos apenas instrumentos de Deus, administradores dos dons que foram gratuitamente oferecidos pelo Senhor.
A meio do caminho que nos leva à Páscoa, Frei José Carlos oferece-nos um tema importante para meditarmos que pode levar a outro recomeço.
Grata, Frei José Carlos, pela partilha, pela exortação que nos faz …” Que cada dia nos encontremos cada vez mais com a acção de Deus em nós e por nós e na nossa humildade de simples instrumentos nos unamos cada vez mais ao Pai e acolhamos a sua vontade.“
Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva