quarta-feira, 13 de março de 2013

O Filho nada pode fazer por si próprio (Jo 5,19)

A cura do paralítico junto à piscina de Betsatá em Jerusalém é o acontecimento no Evangelho de São João que provoca a discussão sobre o poder de Jesus para agir de tal forma.
Numa primeira abordagem está em causa o sábado e a acção de Jesus no dia preceituado para o descanso, mas nela subjaz a grande questão do poder para alterar as realidades, sejam elas físicas, espirituais, ou jurídicas e culturais.
Numa outra passagem, Jesus é mesmo acusado pelos seus interlocutores e acusadores como agente do demónio, e portanto perturbador da ordem normal aceite e reconhecida, ainda que essa ordem estabelecida esteja eivada de uma desordem, de uma inadequação ao mesmo princípio fundador.
Jesus aproveita esta discussão e estas críticas para fundamentar a sua acção e o seu poder, para apresentar aos seus interlocutores que nada acontece por sua única iniciativa, que a sua acção tem um princípio e um fim que o ultrapassam e radicam na vontade e acção de Deus que é Pai.
Jesus não está sozinho na sua missão e os seus gestos e as suas palavras estão em perfeita união com o Pai, são uma revelação do próprio Pai, razão para que nada aconteça sem o conhecimento e o consentimento do Pai, ou contra a vontade do Pai.
Esta consciência de Jesus, esta união íntima com o Pai, é afinal um desafio que se coloca àqueles que o ouvem, e a cada um de nós, uma vez que nos devemos interrogar sobre as nossas palavras e acções e a sua relação vital com Deus.
Será que também nós temos ou procuramos ter um sentimento de dependência de Deus? Será que a confiança e a ousadia nos projectos a que nos entregamos, nas soluções que procuramos, assenta nas nossas poucas forças humanas, ou pelo contrário está alicerçada na fé de que é Deus que vai agindo em nós e connosco?
Quando algumas vezes nos confrontamos com decepções e derrotas, não será porque confiámos mais nas nossas forças, nas nossas capacidades, que na força e no poder de Deus? Não será porque nos esquecemos de unir as nossas forças à vontade de Deus?
Que cada dia nos encontremos cada vez mais com a acção de Deus em nós e por nós e na nossa humildade de simples instrumentos nos unamos cada vez mais ao Pai e acolhamos a sua vontade.
 
Ilustração: Igreja paroquial de São Filipe e São Tiago em Vernier, Genebra.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    O texto da Meditação que teceu leva-nos a reflectir na forma como vivemos o nosso quotidiano, o mundo e a sociedade que construímos, de insatisfação, do ter, do poder e do dinheiro. Desinstala-nos, leva-nos a ir para além de nós. Esquecemos que somos apenas instrumentos de Deus, administradores dos dons que foram gratuitamente oferecidos pelo Senhor.
    A meio do caminho que nos leva à Páscoa, Frei José Carlos oferece-nos um tema importante para meditarmos que pode levar a outro recomeço.
    Grata, Frei José Carlos, pela partilha, pela exortação que nos faz …” Que cada dia nos encontremos cada vez mais com a acção de Deus em nós e por nós e na nossa humildade de simples instrumentos nos unamos cada vez mais ao Pai e acolhamos a sua vontade.“
    Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
    Um abraço fraterno,
    Maria José Silva

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