Mais uma vez os
ouvintes de Jesus apanham pedras para lhe atirar, mais uma vez a violência apresenta-se
como resposta para uma situação.
Desta feita a violência
aparece como solução para aquilo que consideram como blasfémia, um homem, um
homem como eles, assume-se filho de Deus, assume-se como Deus.
A consideração deles
sobre as palavras de Jesus, a acusação de blasfémia está no entanto trespassada
de incoerência, de falsidade, porque já antes Deus tinha tratado os homens por
deuses, os tinha equiparado a Deus. À luz dessas palavras de Deus Jesus podia
considerar-se como Deus, mesmo que fosse apenas homem.
O juízo sobre as
palavras de Jesus, a considerada blasfémia não é assim mais que uma
manifestação de inveja, mais que a manifestação da mesquinhez daqueles que
sabiam que podiam reclamar o estatuto de deuses mas não o faziam.
Contudo, como houve alguém
que o fez e reclamou esse estatuto, com todo o direito de reclamar porque lhe
era natural, eles não foram capazes de aceitar nem perdoar tamanha ousadia.
Estes homens enveredam
assim pelo caminho da obstrução, da destruição, da violência, quando pelo
contrário deveriam ter-se alegrado, deveriam ter rejubilado, pois aquele que reclamava
o título e o estatuto apresentava obras que confirmavam o poder para essa
reclamação.
Também hoje
encontramos homens e mulheres que se refugiam na violência porque outros
reclamam uma identidade diferente, um estatuto diferente. Também hoje
encontramos homens que enveredam pela violência porque outros se reclamam
filhos de Deus em Jesus Cristo e por Jesus Cristo. A perseguição aos cristãos
em vários países do mundo é uma continuação do gesto daqueles homens que pegaram
em pedras para assassinar Jesus.
Contudo, e apesar do
perigo, da ameaça de vida, é fundamental que continuemos a anunciar a todos os homens
que são deuses, que estão imbuídos duma dignidade divina que os convoca a uma
outra vida, a uma plenitude das várias realidades que compõem a vida de cada homem
e de todos os homens.
Abdicar desta missão
será abdicar da sobrevivência da humanidade, será pegar também nas pedras e
atirá-las a si próprio.
Ilustração: Jesus
Cristo, de Heinrich Hofmann, Riverside Church, Nova-York.
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