sexta-feira, 22 de março de 2013

Tu sendo homem te fazes Deus (Jo 10,33)

Mais uma vez os ouvintes de Jesus apanham pedras para lhe atirar, mais uma vez a violência apresenta-se como resposta para uma situação.
Desta feita a violência aparece como solução para aquilo que consideram como blasfémia, um homem, um homem como eles, assume-se filho de Deus, assume-se como Deus.
A consideração deles sobre as palavras de Jesus, a acusação de blasfémia está no entanto trespassada de incoerência, de falsidade, porque já antes Deus tinha tratado os homens por deuses, os tinha equiparado a Deus. À luz dessas palavras de Deus Jesus podia considerar-se como Deus, mesmo que fosse apenas homem.
O juízo sobre as palavras de Jesus, a considerada blasfémia não é assim mais que uma manifestação de inveja, mais que a manifestação da mesquinhez daqueles que sabiam que podiam reclamar o estatuto de deuses mas não o faziam.
Contudo, como houve alguém que o fez e reclamou esse estatuto, com todo o direito de reclamar porque lhe era natural, eles não foram capazes de aceitar nem perdoar tamanha ousadia.
Estes homens enveredam assim pelo caminho da obstrução, da destruição, da violência, quando pelo contrário deveriam ter-se alegrado, deveriam ter rejubilado, pois aquele que reclamava o título e o estatuto apresentava obras que confirmavam o poder para essa reclamação.
Também hoje encontramos homens e mulheres que se refugiam na violência porque outros reclamam uma identidade diferente, um estatuto diferente. Também hoje encontramos homens que enveredam pela violência porque outros se reclamam filhos de Deus em Jesus Cristo e por Jesus Cristo. A perseguição aos cristãos em vários países do mundo é uma continuação do gesto daqueles homens que pegaram em pedras para assassinar Jesus.
Contudo, e apesar do perigo, da ameaça de vida, é fundamental que continuemos a anunciar a todos os homens que são deuses, que estão imbuídos duma dignidade divina que os convoca a uma outra vida, a uma plenitude das várias realidades que compõem a vida de cada homem e de todos os homens.
Abdicar desta missão será abdicar da sobrevivência da humanidade, será pegar também nas pedras e atirá-las a si próprio.
 
Ilustração: Jesus Cristo, de Heinrich Hofmann, Riverside Church, Nova-York.

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