É São João que no seu
Evangelho nos diz que quando Judas abandonou a última ceia era noite. Podemos pensar
num pormenor temporal, numa indicação que se complementa com os dados dos
outros Evangelhos, pois por eles sabemos que Jesus celebrou a ceia ao final da
tarde. Seria normal que face ao ritmo prolongado e tranquilo da ceia Judas
tivesse saído já de noite.
Contudo, a verdade é
que estamos diante de algo mais significativo e importante que um pormenor de
tempo, uma descrição horária. A noite de que fala São João é afinal a imagem, a
metáfora para apresentar o estado de espirito em que todos se encontravam.
Por um lado temos os discípulos,
desconcertados com o gesto surpreendente de Jesus lhes querer lavar os pés, e
com o anúncio de um traidor entre o grupo dos íntimos, daqueles que tinham
partilhado a mesma mesa. Era a noite da incerteza, da desconfiança, da dor de
se encontrarem com um traidor no seio do grupo.
Temos também a noite
de Judas, a noite da liberdade de entregar o Mestre, da recusa da última oferta
de Jesus, e a noite de Pedro que na sua prontidão em acompanhar e defender Jesus
se vê confrontado com o anúncio de três negações.
E por fim temos a
noite de Jesus, a noite daquele que desce até às profundezas das trevas do
homem, às trevas de uma liberdade que causa a própria destruição. É a noite da
solidão, da traição e do abandono, é a noite do desespero face à recusa do
homem em acolher o dom que lhe é oferecido.
Mas eis que nesta
noite, nestas trevas brilha uma luz, uma centelha que faz despertar a
esperança. A misericórdia de Deus é capaz de superar a falta do homem, o
abandono e a traição.
Ilustração: "Última Ceia", de Nikolai Ge, Museus Russos.
Frei José Carlos,
ResponderEliminar“Era noite” ( Jo 13,30). O texto da Meditação que teceu ao analisar as várias formas de noite que estão presentes nos dias da Paixão de Jesus e que vão para além da noite astronómica, é também das noites de cada um de nós que nos fala. E sempre que nos afastamos da Luz é a noite que vem …
Como nos afirma …” A noite de que fala São João é afinal a imagem, a metáfora para apresentar o estado de espirito em que todos se encontravam. (…)
(…) E por fim temos a noite de Jesus, a noite daquele que desce até às profundezas das trevas do homem, às trevas de uma liberdade que causa a própria destruição.”…
Grata, Frei José Carlos, pelas palavras partilhadas, pela coragem e pela esperança que nos transmitem ao recordar-nos …” Mas eis que nesta noite, nestas trevas brilha uma luz, uma centelha que faz despertar a esperança. A misericórdia de Deus é capaz de superar a falta do homem, o abandono e a traição.” Que o Senhor o ilumine, o guarde e o abençoe.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
É com essa Misericórdia que temos que contar sobretudo se é noite, dentro de nós. I.T
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