quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Eu vos digo que vim trazer a divisão (Lc 12,51)

Parece impossível Senhor, tu o Príncipe da Paz, tu que estendestes os braços sobre a cruz para acolher todos os homens, tu que te fizeste homem para que todos nós pudéssemos ser filhos de Deus, tu que partilhastes a mesa dos pecadores e dos marginalizados para os integrar, tu que perdoastes aos homens aquilo que não sabiam o que faziam quando te crucificavam, como podes vir trazer a divisão?
Não é essa a miserável condição e o trabalho ignóbil daquele a que chamamos diabo, o que divide, o que separa e semeia a perturbação dos contrários? Como podes tu dizer Senhor Jesus que vieste trazer a divisão, colocar uns contra os outros, os pais contra os filhos e os filhos contra os pais, dois contra três e três contra dois?
E no entanto viestes Senhor, colocastes mesmo uns contra os outros, e mais, até mesmo em cada um de nós criastes a divisão. Parece que não há remédio, porque de facto temos que viver com essa realidade, com a certeza de que estar contigo, caminhar contigo, seguir-te e ser teu discípulo é um combate, é viver a divisão em todas as suas dimensões e consequências.
Porque ao estar contigo, ao entrar no dinamismo do teu mandamento de amor e do teu Reino de Paz, já não são as relações de sangue e familiaridade que nos ligam, ou devem ligar, já não somos filhos nem pais nem irmãos, já não há laços que nos prendam ou subjuguem. Em ti Senhor somos livres, somos independentemente únicos porque somos filhos de Deus, somos teus irmãos e nesse sentido equitativamente irmãos de todos.
Contudo, como é difícil, como continuamos a pensar e a viver que por sermos pais e filhos, por sermos irmãos de sangue, somos também senhores e donos, temos direitos de propriedade, de exclusividade, de uma reciprocidade de amor, que nos é devida, de facto, mas não pelas razões que apresentamos.
E depois gerastes em nós também essa divisão da consciência da infidelidade, da incoerência das nossas vidas, porque sabemos o bem que devemos praticar, a verdade que devemos viver, o amor com que devemos amar todos os homens e mulheres, e no entanto estamos quase sempre a fazer o contrário, a deixar-nos levar pelas razões mais mesquinhas e pelas forças mais baixas da nossa própria condição. Como diz São Paulo fazemos o mal que não queremos e não fazemos o bem que desejamos e sabemos que deveríamos fazer.
Mas só tu Senhor nos podes libertar desta divisão, só tu podes transformar o nosso coração, transformá-lo profundamente, só tu podes incendiá-lo com o fogo que viestes trazer à terra e fazer-nos viver a unidade e a paz, pôr fim à divisão que nos subjuga. Envia-nos Senhor esse fogo purificador e regenerador, esse fogo que libertou os discípulos na manhã de Pentecostes de todos os medos e todas as divisões. Envia-nos Senhor o teu Espírito Santo.

1 comentário:

  1. Frei José Carlos,

    Nesta bela Meditação que partilha connosco vem lembrar-nos das dificuldades que o seguimento e a fidelidade ao Senhor implicam. ...” Parece que não há remédio, porque de facto temos que viver com essa realidade, com a certeza de que estar contigo, caminhar contigo, seguir-te e ser teu discípulo é um combate, é viver a divisão em todas as suas dimensões e consequências.”

    Acresce que esse seguimento e fidelidade revela-nos porque somos vulneráveis, frágeis que, com frequência, nem sempre somos capazes de trilhar o Caminho da Verdade e do Bem que desejaríamos, o que nos consciencializa dos nossos limites, do que deixámos de praticar ou que fazemos menos bem. Como nos salienta ...” E depois gerastes em nós também essa divisão da consciência da infidelidade, da incoerência das nossas vidas, porque sabemos o bem que devemos praticar, a verdade que devemos viver, o amor com que devemos amar todos os homens e mulheres, e no entanto estamos quase sempre a fazer o contrário, a deixar-nos levar pelas razões mais mesquinhas e pelas forças mais baixas da nossa própria condição.” …

    Mas deixa-nos a esperança que só o Senhor nos pode libertar desta divisão, …”só tu podes transformar o nosso coração, transformá-lo profundamente,” e simultaneamente, um apelo profundo ao Senhor que também fazemos nosso, se nos permite, …”Envia-nos Senhor esse fogo purificador e regenerador, esse fogo que libertou os discípulos na manhã de Pentecostes de todos os medos e todas as divisões. Envia-nos Senhor o teu Espírito Santo.”

    Ficamos muito gratas (os) Frei José Carlos, por nos ajudar a Meditar de uma forma tão profunda e sempre tão bela, em todos os temas que nos ajudam a “cimentar” a fé e a repensar o nosso quotidiano.

    Bem haja. Um abraço fraterno
    MJS

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